Em menos de uma semana da condenação de Jair Bolsonaro e de seus principais apoiadores pela tentativa de golpe de Estado, políticos, artistas e intelectuais se reuniram em um evento que celebrou o Dia Internacional da Democracia, em 15 de setembro, evidenciando a força das instituições e do povo brasileiro em reação ao bolsonarismo golpista. O encontro ocorreu no Teatro Tuca, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na zona oeste da cidade.
O 12º ato público do Direitos Já! Fórum pela Democracia, uma articulação suprapartidária, reuniu o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), e representantes de movimentos populares, organizações de estudantes e outras entidades. Nos discursos, exaltaram-se a Almino Affonso, ministro do Trabalho no governo de João Goulart, e reforçou-se a importância das instituições democráticas diante das ameaças golpistas.
Se tivessem ganho a eleição, eles tentariam dar um golpe. Imagine o pior: mesmo fora do governo, continuam trabalhando contra os interesses do povo brasileiro, espalhando fake news para prejudicar o emprego e as empresas do Brasil, disse Alckmin, fortemente aplaudido. Não pode haver delito maior para um político do que tramar contra a democracia brasileira. Então, fez muito bem o poder Judiciário, completou o vice-presidente, em relação à condenação de Bolsonaro e seus aliados.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que participou do evento remotamente, declarou que os ataques de 8 de janeiro de 2023 representaram o ponto culminante de uma sequência de ataques ao Estado Democrático de Direito no Brasil.
A resposta, felizmente, surgiu do povo brasileiro, das instituições que resistiram, da mobilização de diversos grupos da sociedade civil. Caso não houvesse a solidez de nossas instituições e a defesa incansável da sociedade brasileira, talvez não estivéssemos aqui hoje para celebrar a democracia.
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Gilmar Mauro, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), enfatizou a relevância de reconhecer a força das instituições, notadamente o Supremo Tribunal Federal (STF), e evidenciou o papel do povo brasileiro, que as fundamenta.
Nossa população confrontou inúmeros desafios. Enfrentou uma ditadura e triunfou; resistiu a um regime fascista e permaneceu digna. Isso porque os movimentos populares e nossas instituições não se mostraram covardes. Foram formados indivíduos que se propõem a lutar. Defender a democracia, e uma democracia plena, com reforma agrária, com reforma urbana, com justiça social, é uma tarefa de todos e todas. Juntos.
Durante um dos momentos mais marcantes da noite, a atriz Marisa Orth relatou vivências dos anos de ditadura militar, no mesmo espaço do encontro de segunda-feira. Quando criança, acompanhada de sua mãe, assistiu a um show de Chico Buarque, sob o olhar vigilante do regime.
Havia agentes federais, e eu perguntei: “Quem são esses homens?”. Ela respondeu: “Lanterninhas”, recordou a artista, evidenciando o esforço da mãe para proteger a filha daquele período. “[Chico] Começou a tocar ‘Apesar de você’, e ele era proibido de cantar a letra, podendo apenas tocar a música. Ele disse: ‘não posso cantar, só posso tocar’. Ele começou a tocar, e todos começaram a cantar”. Os “lanterninhas” se agitaram, e eu, pendurada no braço da minha mãe, quando olhei para cima, vi que ela estava chorando. Vi uma lágrima no rosto da minha mãe e nunca esqueci disso. E isso aconteceu aqui.
Em setembro de 1977, a Tuca sofreu invasão de agentes de repressão militar no contexto do 3º Encontro Nacional de Estudantes. Os estudantes, que se organizavam em favor da retomada da democracia, foram violentamente reprimidos por policiais militares, sob o comando do coronel do Exército Erasmo Dias, Secretário de Segurança Pública do Estado na época, com o uso de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. O ocorrido foi recordado em diversos discursos na noite de ontem.
Os professores presentes naquele dia relataram que diversos tentaram se suicidar pelas varandas da universidade, preferindo o fim da vida à captura pelas forças da ditadura militar, informou Laís Hera, presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto, da PUC. “E é por essas pessoas que estamos aqui hoje, para que isso nunca mais ocorra em um Estado Democrático de Direito, alcançado por meio de intensa luta”.
Fonte por: Brasil de Fato