“Bolsonarismo na UTI”: retrocesso de Hugo Motta e posição isolacionista afastam a oposição, analisa cientista político
Não haverá votação de anistia irrestrita na Câmara e a extrema direita tem perdido apoio devido a ataques ao conceito de soberania nacional.
O bolsonarismo apresenta um desgaste e isolamento crescentes, conforme aponta o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Ele ressalta que o recuo do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), frente à pressão da bancada que apoia o ex-presidente, demonstra essa crise interna e externa.
“Diante da opinião pública, o bolsonarismo cada vez mais ilustra um ponto de vista absolutamente delirante, entreguista, de servilismo aos Estados Unidos”, indica.
Na quarta-feira passada, Hugo Motta proferiu um discurso superficial que agradou a maioria, especialmente os apoiadores do ex-presidente. Sob pressão de lideranças políticas e do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Hugo Motta decidiu ser mais assertivo. A forma que ele demonstrou isso foi através da recusa em dar andamento à questão da anistia total e irrestrita, conforme desejam os bolsonaristas. Isso demonstra como a bancada bolsonarista está se tornando cada vez mais isolada, com menos prestígio.
Ramirez critica a atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) no exterior, considerando-a como “terrorismo econômico e diplomático contra o Brasil”. “É um absurdo que ele mantenha o cargo de deputado federal”, afirma.
O professor também repudia o ataque do secretário dos Estados Unidos no Brasil, Marco Rubio, ao programa Mais Médicos. “Demonstra como os americanos [… ] agem contra os direitos humanos brasileiros. [… ] O governo [do presidente Donald] Trump é a mazela da sociedade norte-americana que tende a levar os EUA ao fundo do poço”.
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Ele ressalta que o bolsonarismo tem perdido apoio também devido aos ataques à democracia brasileira. Uma pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (14) mostra que 51% dos brasileiros concordam com a prisão domiciliar imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe. “O resultado da pesquisa mostra o bom senso de parte considerável da população brasileira que vê a família Bolsonaro como um grande entrave à democracia brasileira […]. Esse desgaste vai mostrando que o bolsonarismo se encontra hoje na UTI”.
Para o professor, o desfecho do julgamento da trama golpista do 8 de janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) deve ser concluído até o início do próximo ano, a fim de evitar que a situação interfira nas eleições de 2026. “Seria o ideal, já que ano que vem, 2026, é um ano eleitoral […]. No mais tardar, [o julgamento termina no] início do próximo ano, quando retomarem os trabalhos judiciais. Mais ou menos em fevereiro, março já teremos o desfecho desta história”, prevê.
A avaliação é que as transformações na presidência do STF, com a saída de Barroso, criam oportunidades para uma atuação mais humanizada no órgão. “[…] Barroso mantinha uma relação mais intensa com o mercado financeiro. [¦] A saída de Barroso da presidência, juntamente com a do STF, não provocará grandes alterações, mas pelo menos possibilita a ascensão, por indicação de Lula, de um novo ministro mais humanista e com maior envolvimento nas questões sociais”, analisa.
Para audir e visualizar.
O programa Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Fonte por: Brasil de Fato