Paulo Vannuchi, jornalista e ex-ministro dos Direitos Humanos nos primeiros governos Lula (PT), descreveu o voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux no julgamento da trama golpista como um movimento político já previsto, de alinhamento com a direita. Na quarta-feira (10), o magistrado votou pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros réus, e justificou condenações parciais apenas para o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e para o ex-ministro Braga Netto.
O que Fux fez ontem, na realidade, é uma grande aposta política. Ele apostou nas eleições do ano que vem, presidenciais, em uma vitória da direita, em uma vitória do próprio Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo], para ele se tornar uma espécie de todo-poderoso ex-ministro, ou ministro ainda por algum tempo, se desejar ser ministro da Justiça, afirma, nesta quinta-feira (11), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Vannuchi constata que “os jornais atuais estão todos retratando Fux como um novo herói nacional da direita: grandes fotos, ideias de que ele pode ser candidato a senador agora”. “Na realidade, para além da questão jurídica, o voto de Fux já não surpreende, não deve surpreender”, analisa.
Ele recorda que, durante a gestão de Donald Trump, os Estados Unidos implementaram sanções contra o Brasil em 2023, incluindo tarifas sobre produtos exportados, e aplicaram a Lei Magnitsky para revogar a nacionalidade do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Fux, contudo, “foi poupado”. Para Vannuchi, o ocorrido, articulado também pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), consolida a ideia de que “o voto de Fux é nosso [Bolsonaro e aliados]”.
O ex-ministro defende que a esquerda tire lições do processo de escolha de ministros do STF, lembrando que Fux foi indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e reforça a mobilização popular. “Se Fux tivesse o menor receio de, na saída do seu voto, ter uma manifestação popular de protesto, dizendo que aquilo era uma indignidade, uma traição, uma covardia, uma venda, ele limitaria a sua ação.” É só recuperando essa capacidade de resistência que nós vamos começar a encontrar limites.
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Previsão de condenação em julgamento histórico.
Na quarta-feira (12), os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram pela condenação de Bolsonaro e dos demais sete réus do núcleo principal do julgamento. Com a divergência de Fux, o placar ficou em dois votos favoráveis à condenação e um pela absolvição do ex-presidente. A sessão de quarta-feira será retomada às 14h, com os votos da ministra Cármen Lúcia e do ministro Cristiano Zanin.
Vannuchi declara que as pessoas são imprevisíveis, porém Cármen Lúcia possui uma postura mais acusatória. Segundo informações, ela deverá responder à negligência, à falta de ligação entre os votos de Fux e, em conjunto com Zanin, buscar uma decisão [pela condenação dos réus].
O ex-ministro considera que o julgamento representa um marco na história do Brasil, ao levar um ex-presidente e militares de alta patente das Forças Armadas à delação. “O mais importante é que estamos realizando um julgamento histórico. É a primeira vez na história do Brasil que generais, ligados ao fascismo, um ex-presidente da República é julgado pelo STF na instância máxima, e será condenado”, afirma.
Para audir e visualizar.
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Fonte por: Brasil de Fato