Vídeo musical produzido por estudantes aborda de forma problemática o consumo de drogas
A construção foi realizada nos locais de Ibura, Coque, Sítio dos Pintos e Jd Piedade, com apoio de pequenos negócios das comunidades.

Estudantes de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) uniram esforços para criar um videoclipe musical que combina suas referências literárias e cinematográficas com o estilo brega romântico da periferia do Recife. A música “Mágua abaixo”, do artista Levi Oficial, do bairro do Ibura, recebeu uma produção audiovisual de cinco minutos, em formato de curta-metragem musical, que trata do consumo problemático de substâncias na comunidade.
A música de Levi Oficial aborda desentendimentos que culminaram no fim de um relacionamento e a saudade que permanece, temas comuns em canções românticas. Contudo, a partir dessa letra, os jovens criaram um roteiro visual para discutir o uso abusivo de substâncias, um problema bastante presente, porém pouco abordado em bregas-funk e, sobretudo, em bregas românticos.
A seleção do tema ocorreu após o comunicador e produtor Dominyque Regison assistir a um show de brega em uma comunidade e constatar que jovens estavam consumindo drogas. “É uma epidemia”, avalia o estudante. No clipe, o personagem principal (interpretado por Levi Oficial) é um vendedor informal que trabalha nos trens do Recife. Ele se apaixona por uma jovem (interpretada por Natália Júlia) que não mantém um relacionamento saudável com o álcool e outras substâncias.
Regison acredita que a cultura brega pode desempenhar um papel mais ativo nesse tema. “Como influenciador de massa, seria importante que o movimento brega – além de abordar as dores individuais do amor e da traição – também tratasse desses problemas coletivos, como dependência química, jogos de azar, violência, pobreza e preconceito”, opina o comunicador que lidera a produtora independente DomyFilms.
O produtor Thales Martins ressalta o papel do videoclipe em retratar situações com as quais as pessoas podem se identificar. “As pessoas se envergonham de falar ou pedir ajuda, mas muitos já tiveram pertences roubados por familiares que trocam ou vendem para consumir bebida, cigarro ou drogas ilícitas. Se ela assiste à sua história numa arte que consome, se sente acolhida e pode conversar, agir”, considera Martins.
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Inspirada em Alfred Hitchcock e técnicas de montagem adquiridas em cursos de comunicação durante a graduação, a obra audiovisual é uma adaptação da história “Um anjo que caiu do céu”, de Lúcio Corrêa, publicada no livro coletânea Literatura de Quinta, organizada pelo educador Hélio Pajeú.
Os produtores decidiram apresentar um casal heterossexual para alcançar um público que poderia evitar um clipe com um casal homossexual.
As filmagens do clipe ocorreram nos bairros de Joana Bezerra, Ibura, Sítio dos Pintos (todos no Recife) e Jardim Piedade (Jaboatão dos Guararapes). Mais de 30 moradores dessas localidades participaram como figurantes, assistentes de produção e auxiliares de filmagem. Além disso, os pequenos negócios, como óticas, barbearias, restaurantes self-service, apoiaram a realização da obra e atuaram como patrocinadores.
O cantor Levi Oficial recorda das dificuldades encontradas ao tentar estabelecer contato com empresas maiores. “Tentamos gravar uma cena no terminal integrado de Joana Bezerra, mas fomos ‘barrados’ por fiscais das empresas de ônibus. Passamos uma semana tentando dialogar com a administração, que arranjou todo tipo de problema e não permitiu. No fim, quem ajudou de verdade foram ambulantes, lojistas de esquina, donas de bar e a comunidade que fazia parte”.
Fonte por: Brasil de Fato