Valéria Baraccat, após 20 cirurgias e mais de 2 décadas, continua denunciando preconceito e lutando pela dignidade de mulheres com câncer de mama.
Há 21 anos, o corpo de Valéria Baraccat é seu campo de batalha — e também seu maior mestre. Foram seis diagnósticos de câncer de mama, mais de vinte cirurgias e uma sequência de intervalos curtos demais entre uma trégua e outra. “O corpo pede descanso, e a gente precisa obedecê-lo. Se o desafiamos, ele declara guerra”, diz. A frase resume o aprendizado de uma mulher que conhece cada curva da própria dor, mas também o limite entre sobreviver e viver de fato.
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Psicóloga, jornalista e especialista em marketing, Valéria descobriu que a alma cicatriza mais lentamente que a pele. As marcas físicas, diz ela, são pequenas perto das invisíveis. “As cicatrizes do corpo não me incomodam. As que doem de verdade são as da alma.” Mesmo após tantas cirurgias, continua sendo um exemplo de coragem e inspiração, capaz de fazer o Brasil olhar o câncer com menos medo — e mais humanidade.
Quando fala em “o pior câncer é o preconceito”, Valéria não usa metáfora. Depois do primeiro tratamento, foi aprovada em processos seletivos, mas barrada em exames admissionais. “O câncer atingiu a mama, mas não o meu conhecimento”, repete com firmeza. Ao longo dos anos, viu mulheres perderem o emprego, o casamento e a autoestima. E foi nesse vazio que construiu uma nova missão.
Como cofundadora e diretora do Instituto Arte de Viver Bem, ela acolheu centenas de pacientes com câncer de mama, oferecendo assistência, informação e afeto. “Compartilhávamos experiências e respeito pela história de cada uma. Aprendi que o limite entre viver e morrer é um fio — e que não vale a pena se achar melhor do que ninguém.”
O tempo, para ela, virou outra medida. As pequenas coisas — o canto dos passarinhos, o gosto do arroz com feijão — ganharam o mesmo peso da palavra cura. Mas Valéria também aprendeu a não se calar. Enviou cem cartas a CEOs de grandes empresas brasileiras, pedindo que olhassem com empatia para pacientes oncológicos. Apenas dois responderam. “Enquanto países de primeiro mundo acolhem, o Brasil ainda isola. Temos leis que garantem tratamento, mas quase nenhuma é respeitada.” Para ela, a desigualdade é o verdadeiro diagnóstico do país. “A expectativa de vida de quem é tratado pelo SUS e de quem tem plano de saúde são universos distintos. Isso é cruel.”
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Fé, dor e reinvenção. Em janeiro deste ano, veio o sexto diagnóstico — o mais duro. Um erro médico adiou o exame que revelaria o tumor. Quando finalmente veio o resultado, a doença já havia avançado para o fígado e o pulmão. “Sou uma paciente disciplinada, fazia tudo certo. Mas um erro quase me custou a vida. Se não fosse minha fé em Deus, eu não estaria aqui”, diz. A fé, aliás, é seu combustível. Católica, devota da Santíssima Trindade e de Maria, acredita que a oração tem poder mensurável. “A ciência já mostrou que o cérebro vibra de forma diferente quando alguém está em oração. A fé ajuda na cura.”
Hoje, aos 64 anos, Valéria se define como “vendedora de sonhos”. Quer ver um Brasil onde mulheres pobres e ricas tenham o mesmo direito à cura. “Quero vender o sonho de um sistema de saúde justo, em que ninguém seja demitido por estar doente. O câncer atingiu meu corpo, mas não o meu conhecimento.”
Valéria Baraccat é um exemplo de resiliência e de como a fé pode ser um poderoso aliado na luta contra o câncer. Sua história inspira a busca por um futuro onde a saúde seja um direito de todos, e não um privilégio.
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