Desespero e Resistência em Meio à Ocupação
Umm Shukry inspeciona suas oliveiras uma a uma, como fazia todos os anos há uma década. Mas esta temporada de colheita de azeitonas é diferente. Quase todas as suas árvores estão danificadas, com galhos quebradiços. Examinando cada ramo, ela sente-se exausta de tristeza. “Estou sufocada.
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Sufocada por ver meu trabalho árduo acabar assim”, disse ela à CNN. “Eu passava tanto tempo aqui sob o calor escaldante, cuidando delas… Nós temos esta terra há mais de 50 anos.”
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Nos últimos dois anos, a mulher de 72 anos foi impedida de acessar suas terras, bloqueada pela violência de colonos e pelas restrições impostas pelo exército israelense. A propriedade fica em frente a um assentamento ilegal no Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada.
Os colonos israelenses que vivem lá agrediram e ameaçaram sua família, contou ela, forçando-os a deixar o terreno por medo.
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Durante sua ausência, colonos enviaram vacas para pastar nas oliveiras, explica o filho dela Shukry Shehadeh. Vizinhos enviaram a ele vídeos mostrando colonos danificando o terreno. Quando voltou, encontrou sua casa saqueada, os painéis solares roubados e os tanques de água e tubos de irrigação destruídos.
E talvez o mais doloroso: não havia uma única azeitona à vista. “Eles nos forçaram a sair e, depois, usaram violência extrema para destruir nossas oliveiras, nossa casa, nossos pertences. Estou tentando entender esse choque”, diz Shehadeh.
Umm Shukry cuida de oliveiras danificadas após ter propriedade ocupada por colonos • Cyril Theophilos/CNN
A Escalada da Violência e a Impunidade
O aumento da violência contra os palestinos, especialmente nos últimos dois anos, é um padrão alarmante. Na primeira metade de 2025, colonos deixaram vítimas ou causaram danos à propriedade – um aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado.
Essa escalada da violência ocorre em meio a uma rápida apropriação de terras por Israel, com autoridades declarando abertamente sua intenção de anexar toda a Cisjordânia.
A colheita anual é um ritual histórico, profundamente enraizado na cultura e na tradição. Mas sua importância vai além do simbolismo e da identidade. Até 100 mil famílias dependem da colheita de azeitonas para sobreviver, segundo Ajith Sunghay, chefe do escritório do OHCHR no Território Palestino Ocupado, que descreveu a atividade como “a espinha dorsal econômica das comunidades rurais palestinas”. “A oliveira aqui nunca é apenas uma árvore. É sustento e herança, resiliência e economia, e uma veia histórica que conecta os palestinos à terra”, disse ele.
Resistência e Determinação
Umm Shukry, apesar do desespero, continua caminhando pelos olivais com passos trêmulos, desviando entre galhos quebrados e folhas secas. Ela fala em um fluxo de emoção, sem pausa, tentando entender sua situação: “Por que eles têm que continuar nos atormentando e destruindo nossas vidas?
Só queremos voltar e regar nossas árvores… o que fizemos para merecer tanta violência?”, pergunta.
“Dez anos de trabalho duro. Dez anos cuidando desta terra, recusando-me a deixá-la”, murmura, enquanto as lágrimas caem. “Mas é aqui que quero estar. Permanecerei aqui, sob minhas oliveiras. Não vou embora.”
A resistência de Umm Shukry e de outros palestinos, que continuam a cuidar de suas terras apesar da violência e da ocupação, é um símbolo de esperança e de determinação. A oliveira, como símbolo de resiliência e de conexão com a terra, permanece como um farol de esperança em meio à escuridão da ocupação.
