Tarifas e a Economia Americana: Uma Reviravolta
No início deste ano, o então presidente Donald J. Trump implementou tarifas abrangentes sobre importações de alimentos, batizando a medida de “Dia da Libertação”. A iniciativa, apresentada como um esforço para fortalecer a autossuficiência dos Estados Unidos, gerou debates e questionamentos sobre o impacto da política econômica do governo.
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A ordem executiva de 2 de abril de 2025, emitida pela Casa Branca, defendia que “uma nação não pode sobreviver por muito tempo se não consegue produzir seu próprio alimento”.
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Reversão das Tarifas
Contrariando a estratégia inicial, o presidente Trump recuou em setembro, assinando outra ordem executiva que suspendeu tarifas sobre determinados produtos agrícolas que não podem ser cultivados ou produzidos em escala dentro dos Estados Unidos. Entre os itens incluídos na isenção estavam café, bananas e suco de laranja.
Trump justificou a medida, afirmando: “Só fizemos um pequeno recuo em alguns alimentos, como o café, por exemplo, em que os preços do café estão um pouco altos agora. Eles vão ficar mais baixos em um período muito curto de tempo”. As novas isenções de tarifas entraram em vigor na meia-noite de quinta-feira (13).
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O Conceito de Tarifa
Uma tarifa é um imposto sobre importações. Em geral, um país impõe tarifas para arrecadar recursos ou proteger setores da concorrência, muitas vezes com ambas as motivações. A ideia é tornar os produtos estrangeiros mais caros, o que, teoricamente, deveria levar a uma queda nas importações e a um aumento no consumo de produtos domésticos, presumindo que estes sejam fabricados ou disponíveis internamente.
Economistas apontam que as tarifas podem ter efeito em alguns casos, como na indústria automobilística. Se importar carros fica mais caro, as montadoras domésticas podem concentrar a produção dentro dos Estados Unidos, estimulando o setor manufatureiro.
Desafios e Limitações
No entanto, nem as tarifas mais protecionistas conseguem incentivar a produção de itens que não podem ser cultivados ou produzidos com facilidade nos Estados Unidos, como café e bananas. Ambos os produtos têm consumo elevado no país, mas com produção interna muito pequena ou praticamente inexistente.
As importações de café de grandes produtores como Brasil e Vietnã enfrentaram tarifas de até 50%, enquanto as bananas importadas da América Central e da América do Sul também foram alvo de tarifas semelhantes. O café só cresce em partes específicas do mundo.
As condições ideais de cultivo para o café são um ambiente tropical moderado, com solos ricos e bem drenados, alta umidade e pouca incidência de pragas ou doenças. Essas condições aparecem, em geral, em uma região chamada de Cinturão do Café, localizada entre os trópicos de Câncer e Capricórnio e que inclui gigantes do café como Brasil, Colômbia, Etiópia e México (o Brasil é o maior produtor de café do mundo e responde por cerca de um terço de todos os grãos).
Só um estado norte-americano, o Havaí, está dentro desse cinturão. Isso explica por que o Havaí é o único estado dos Estados Unidos que cultiva café em alguma escala relevante, e ainda assim produz menos de 1% do café mundial.
Controvérsias e Desafios Jurídicos
Apesar dos esforços, os Estados Unidos simplesmente não conseguem produzir café suficiente para atender à demanda de sua própria população. Em setembro, os preços do café já tinham subido mais de 40% na comparação anual, enquanto o custo das bananas registrava alta de quase 9%.
As tarifas, que abrangem muito mais produtos do que café e bananas, vêm sendo contestadas na Justiça sob a alegação de ilegalidade. Em agosto, um tribunal federal de apelações em Washington concluiu que Trump extrapolou sua autoridade ao se apoiar na International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) para impor as tarifas.
A IEEPA, uma lei de 1977, permite que o presidente “lidera com qualquer ameaça incomum e extraordinária, que tenha sua origem, no todo ou em parte substancial, fora dos Estados Unidos, à segurança nacional, à política externa ou à economia dos Estados Unidos”, se ele declarar a existência de uma emergência nacional “com relação a tal ameaça”.
Isso inclui a regulamentação de importações e exportações. Trump sustenta que existem duas ameaças: o fluxo de fentanil para os Estados Unidos e grandes déficits comerciais.
Reversão e Propostas Futuras
Cheques de restituição de tarifas Mesmo ao reduzir tarifas, Trump continua a exaltá-las, insistindo que elas representam uma fonte de receita. Para “dividir a riqueza”, o presidente Donald Trump propôs nas redes sociais o seguinte: enviar a todos um “dividendo” de tarifa de US$ 2.000 (R$ 10.600) por pessoa.
Desde então, a secretária do Tesouro, Bessent, que inicialmente indicou que esses US$ 2.000 poderiam assumir outras formas, como cortes de impostos, também mudou de posição. Ela afirmou que os cheques continuam sendo uma possibilidade, mas provavelmente precisariam de aprovação do Congresso.
Os cheques têm o objetivo de aliviar a preocupação dos eleitores com o custo de vida. No dia da eleição, os democratas avançaram em Nova York, Nova Jersey e Virgínia, com eleitores dizendo que estavam preocupados com a questão da acessibilidade financeira.
Apesar das afirmações do governo de que os preços caíram de forma significativa, o preço médio dos alimentos nos supermercados dos Estados Unidos em setembro estava 2,7% mais alto que no ano anterior, segundo o Bureau of Labor and Statistics. Ao ser questionado sobre o recuo, Trump admitiu que algumas tarifas “podem, em alguns casos”, levar a aumentos de preços, mas manteve a posição de que os Estados Unidos têm “praticamente zero inflação… Em breve será ainda menor”.
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