Taylor Swift resgata Ofélia, da peça Hamlet, em “The Fate of Ophelia”, reinterpreta a trágica história da jovem nobre da Dinamarca, explorando a submissão e a falta de agência
A canção “The Fate of Ophelia”, apresentada por Taylor Swift como a peça central de seu mais recente projeto, resgata uma das personagens mais emblemáticas da literatura ocidental: Ofélia, da peça Hamlet, de William Shakespeare. A obra original, escrita entre 1599 e 1601, apresenta Ofélia como uma jovem nobre da Dinamarca, filha de Polônio, conselheiro real, e irmã de Laertes.
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Ofélia ocupa uma posição social de destaque, mas sua identidade é moldada quase exclusivamente pelas figuras masculinas ao seu redor. Submissa ao pai e ao irmão, ela é forçada a interromper seu relacionamento com Hamlet, conforme a ordem imposta por Polônio.
Essa situação a torna vulnerável à manipulação política e emocional, culminando em um evento crucial: a rejeição pública de Hamlet, conhecido como a “cena do convento”.
Este episódio marca um ponto de ruptura, pois Hamlet, ao negar seu amor e humilhá-la, destrói o último vínculo afetivo de Ofélia, que já havia renunciado a seus próprios sentimentos em obediência. A progressão da narrativa a leva a um estado de loucura e colapso, manifestados através de canções fragmentadas, linguagem simbólica e a distribuição de flores com significados ligados à morte, sexualidade e traição.
O desfecho trágico ocorre quando Ofélia é encontrada afogada, tentando pendurar guirlandas de flores sobre um riacho. Shakespeare mantém a ambiguidade sobre se a morte foi um acidente ou um ato intencional. Mesmo no final, a personagem permanece sem controle sobre seu destino.
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A complexidade da situação a coloca em um estado de vulnerabilidade.
Taylor Swift assume essa trajetória trágica como ponto de partida em “The Fate of Ophelia”. A letra faz referência direta à jovem “filha de um nobre”, à loucura induzida pelo amor e à ideia de afogamento como destino inevitável. No entanto, a canção inverte o desfecho tradicional.
A voz da música afirma ter sido salva desse destino.
Na interpretação de Swift, o amor surge como uma força de resgate. A personagem da música não afunda, não enlouquece e não desaparece; ela escapa. A tragédia é reconhecida, mas não reproduzida. Essa abordagem oferece uma nova perspectiva sobre a personagem.
A releitura não escapou da análise crítica. Especialistas apontam que o colapso de Ofélia não se explica apenas pela frustração amorosa, mas pela supressão da autonomia feminina em um sistema patriarcal. Seu sofrimento decorre da falta de agência em um contexto que a instrumentaliza desde o início.
Ao transformar o amor romântico em solução, a canção desloca o foco do problema estrutural que define a personagem original.
Apesar das críticas, o diálogo cultural permanece relevante ao reintroduzir Ofélia no imaginário contemporâneo. A figura de Ofélia continua sendo central na literatura por abordar temas universais: loucura, perda, silenciamento e a ausência de escolha.
Ao revisitá-la, Swift reforça um movimento recorrente em sua obra: apropriar-se de narrativas clássicas para reposicionar mulheres não como vítimas do destino, mas como autoras de sua própria saída da tragédia. Diferentemente da jovem de Elsinore, ela sobrevive.
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