Shutdown do governo dos EUA atinge 36 dias e impacta mercados financeiros. Investidores enfrentam falta de dados cruciais, com risco de correções no mercado
O encerramento do governo dos Estados Unidos alcançou a marca de 36 dias nesta quarta-feira, 5, representando o mais longo período de paralisação na história do país. A principal questão que emerge é se os mercados, que inicialmente não sentiram os impactos da paralisação com tanta força, mudarão de percepção à medida que os dias se acumulam, sem uma previsão clara sobre quando o Congresso retomará suas funções.
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Com agências federais paralisadas, investidores e autoridades monetárias enfrentam a falta de acesso a informações cruciais. O Federal Reserve (Fed) já realizou uma reunião de política monetária sem os dados habituais sobre emprego e inflação.
A dificuldade em obter informações oficiais tem levado a um aumento na utilização de dados imprecisos, conforme alertou Paul Donovan, economista-chefe do UBS, ao Yahoo Finance.
A ausência do relatório de empregos de setembro, juntamente com a interrupção de novas divulgações, tem intensificado o foco no relatório da ADP, esperado para a mesma quarta-feira. Jim Reid, do Deutsche Bank, projetou uma criação de 50 mil vagas, frente a uma perda de 32 mil no dado anterior, segundo a Fortune.
A situação é agravada pelo tom agressivo do presidente Jerome Powell na semana passada, o que contribui para a volatilidade do mercado.
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Volatilidade Cresce, Mas Mercado Ainda Sustenta Ganhos Apesar do cenário de incerteza, os principais índices de Wall Street permaneciam relativamente estáveis na manhã da quarta-feira. O Dow Jones Futuro apresentava uma leve alta de 0,14%, enquanto o S&P 500 Futuro registrava uma queda de 0,07% e o Nasdaq Futuro operava em declínio de 0,21%, impulsionado principalmente pelas ações de tecnologia e temores de uma possível bolha de inteligência artificial (IA).
Executivos de Wall Street alertaram para possíveis correções no mercado. Ted Pick, CEO do Morgan Stanley, sugeriu que é necessário “acolher a possibilidade de reduções de 10% a 15% que não sejam impulsionadas por colapsos macroeconômicos”. David Solomon, presidente do Goldman Sachs, acrescentou que “fatores podem mudar o sentimento do mercado”.
Jamie Dimon, do JPMorgan, foi ainda mais direto, mencionando riscos fiscais, tensões geopolíticas e remilitarização global, além do temor sobre uma possível correção nos mercados financeiros.
IA, Bolhas e Comparações com a Era das Ponto-Com A preocupação com o shutdown não parece tão intensa se comparada à alta avaliação das empresas de tecnologia e temores de uma bolha de IA. “Às vezes, vemos bolhas”, disse um gestor de fundos de hedge na rede social X.
Ao contrário da bolha da internet no final dos anos 1990, as empresas atuais são sustentadas por lucros sólidos e desempenho real. O Citigroup estima que os investimentos em infraestrutura de IA devem ultrapassar US$ 2,8 trilhões até 2029. A OpenAI, por exemplo, tem investido significativamente em sua plataforma.
Já a Microsoft tem valor de mercado elevado.
Histórico de Shutdowns e Impacto nos Mercados Para entender o impacto das paralisações anteriores em Wall Street, não é preciso ir tão longe assim. Desde 1976, o S&P 500 acumulou desempenho médio de 0,1% durante os períodos de paralisação. Em 2013, por exemplo, o índice subiu 2,33% em meio a uma disputa acirrada sobre o orçamento. Entre 2018 e 2019, quando um shutdown iniciado em dezembro durou 35 dias, o índice disparou 10,07%.
A diferença agora está no escopo: esta é a primeira vez em que 100% dos gastos discricionários foram interrompidos, o que amplia o impacto econômico. A ausência de dados oficiais dificulta a leitura de cenário pelo Federal Reserve e pelos investidores.
Com o relatório de empregos de setembro ausente e novas divulgações paradas, analistas recorrem a fontes privadas — menos confiáveis e sujeitas a vieses estatísticos — para entender a situação da economia. Segundo a Goldman Sachs, mesmo que o impasse termine nesta semana, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre pode cair até 1,15 ponto percentual.
O Escritório orçamentário do Congresso (CBO, em inglês) projeta queda de até dois pontos, com recuperação parcial após o fim da paralisação.
Apesar disso, o histórico sugere que os mercados tendem a se recuperar após a resolução das paralisações. Depois do fim do último shutdown, há seis anos, o S&P 500 subiu 36% no intervalo de um ano. Desde 1980, o desempenho médio nos 12 meses seguintes a shutdowns foi de 16,95%.
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