Na etapa final, filme cinematográfico realiza uma conexão de todo o trajeto do crime de feminicídio.
O impacto de um feminicídio é profundo e doloroso. Como confortar uma mãe que, há mais de 20 anos, presta visita diária ao túmulo de sua filha assassinada? Não haverá um abraço que console seu coração. Diversas são as dores e consequências associadas a este fenômeno que nos coloca, como mulheres, em situação de risco constante. Entre janeiro e maio de 2025, a Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social da Paraíba registrou 17 feminicídios no estado. Considerando os casos não notificados, essa cifra representa um número significativamente maior.
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No ano em que a Lei do Feminicídio atingiu dez anos de existência (2025), após a sua transformação em crime autónomo (2024) e o aumento da pena para até 40 anos de reclusão, é necessário abordar o tema sem sensacionalismo ou banalização. Existe um filme, em fase de conclusão, intitulado 180, da realizadora Ana Dinniz (Fim, 2019; O que os Machos Querem, 2021) e com produção executiva da Carambola Filmes, que exerce uma função social e cidadã essencial.
O caso de Queimadas (2012), no qual um estupro coletivo é oferecido como presente de aniversário; da poetisa Violeta Formiga (1982), assassinada por um homem que não aceitava o fim do casamento; da estudante Márcia Barbosa (1998), primeiro caso em que o Brasil é condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos; da professora Brígida Lourenço (2012); e o caso dos Bancários (2015), no qual um bebê e duas mulheres são sequestradas e violentadas com requintes de crueldade, compõem o conjunto da série.
Com a inclusão de familiares e amigos das vítimas, representantes de movimentos sociais, pesquisadoras e autoridades de órgãos oficiais, o trabalho estabelece uma conexão que acompanha todo o percurso do crime, reconstruindo uma rede e situando o sujeito no contexto da ação. Em essência, quem é responsável pelo feminicídio? Uma questão que admite múltiplas respostas e questionamentos.
Ao abordar esses tristes eventos da vida real, Ana Dinniz oferece um olhar perspicaz, evidenciando que o feminicídio não discrimina classe, etnia, ascendência ou idade. Em uma sociedade cada vez mais distópica, baseada no patriarcado, sexismo e misoginia, a próxima vítima pode ser você, mulher, ou a amiga que está ao seu lado.
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Não é mais possível observar os fatos com neutralidade. É neste contexto, em que a busca por uma percepção se torna imprescindível, que esta obra, rica em qualidade e em contribuição para a sociedade, surge com presteza e se manifesta como um apelo, um clamor, em um pedido de auxílio, como se pudéssemos compreender o desespero daqueles que partiram e para evitar que outras sejam consideradas apenas números e reportadas como “mais um caso de feminicídio” nos programas de televisão.
Não é coincidência que a equipe da série seja majoritariamente formada por mulheres – o que já é um feito histórico para o cinema paraibano. Esse é um pilar importante, pois notavelmente o tratamento profissional feminino faz diferença em um set e, assim, a série também provoca e valoriza as mulheres também por trás das câmeras.
A atriz Shirley Cruz, escalada para o filme A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert, relata ter sofrido tentativa de feminicídio, permanecendo em isolamento e sendo vítima de estupro. Ela declara não mais se sentir apta a abordar o tema de feminicídio e violência contra a mulher sem a contextualização oferecida pelo cinema e pela arte.
É precisamente o que “180” propõe. Na terra de Anayde Beiriz, Margarida Maria Alves e Elizabeth Teixeira não poderiam ser distintas.
1619-5 / Conta: 61082-8 Nome: ASSOC DE COOP EDUC POP PB Chave Pix – 40705206000131 (CNPJ)
Fonte por: Brasil de Fato
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