Se o rio desaparecer, como pretendemos alcançar o oceano?
Adaptação de produção de Shakespeare incorpora contextos sociais e ambientais.

A Companhia Cênica Heróica apresenta ORioLEAR, adaptação do texto de Shakespeare, que atualiza a obra abordando temas climáticos e sociais urgentes. O espetáculo, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo (SP), mistura elementos poéticos e oníricos à realidade amazônica, explorando a devastação ambiental e a luta pela demarcação de terras.
“Esta apresentação marca uma mudança no personagem do rei Lear, da Grã-Bretanha, para uma região amazônica. Conversamos muito sobre a questão da divisão das terras”, conta o ator Ronny Abreu, natural de Santarém (PA) e integrante da companhia. Ele explica que seu personagem, criado especialmente para a adaptação, solicita a devolução simbólica do nome do rio. “Para nós que somos dessa região amazônica, o rio não é só água e peixe. Ele é caminho, é estrada, ele é vida”.
O ator declara que sua experiência na Amazônia influencia sua atuação. “Morei na mata até seis anos de idade, convivi muito nesse território, conheço bem o Araripe, os tapajós, é meu povo. É um povo sofrido, mas é um povo feliz, mas é um povo que caminha nas águas, é um povo que reza, é um povo que conversa com as plantas. Então isso tinha que estar, de alguma maneira, no espetáculo”.
A obra também levanta questões sobre a responsabilidade humana na conservação ambiental. “O instante que eu penso que equivocamos é quando não nos consideramos parte da natureza. Pois, em determinado momento, compreendemos que o ser humano é mais importante do que uma samambaia, do que uma castanheira… Mas nós, seres humanos, somos arrogantes a ponto de acreditar que temos o direito de ir lá e derrubá-la”, analisa.
Para Abreu, o teatro funciona como um alerta e um convite à consciência coletiva. “Nós atores, diretores, somos o beija-flor. Fazemos a nossa parte. Se conseguirmos fazer com que as pessoas reflitam no uso de materiais, reflitam ao percorrer um rio e não jogar petiscos, latas de alumínio no rio, cuidem mais dos seus aspectos naturais […], já cumprimos um pouco o nosso papel”, reflete.
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O rioLEAR permanece em cartaz no Itaú Cultural, na capital paulista, até domingo (17), com sessões de quinta e sexta às 20h e domingo às 19h. Mesmo com a lotação esgotada virtualmente, ainda é possível tentar a “fila da esperança” no local, informa o ator.
Para audir e visualizar.
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Fonte por: Brasil de Fato