Carl Sagan alerta sobre risco de extinção humana em 1994. Cientista questiona agressividade humana e aponta para autodestruição
“A extinção é a regra. A sobrevivência é a exceção.” Essa frase, proferida por Carl Sagan em 1994, ao contemplar a Terra vista pela sonda Voyager 1, resume de forma impactante suas preocupações sobre o futuro da humanidade. Ele acreditava que o risco de extinção da espécie humana, impulsionado por suas próprias ações, era elevado, e que essa ameaça vinha de duas fontes distintas.
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Uma delas residia na herança biológica primitiva da humanidade, marcada por características como agressividade, submissão a líderes autoritários e hostilidade a outros grupos. Sagan também reconhecia a capacidade humana de compaixão, curiosidade e raciocínio científico, mas questionava qual desses aspectos prevaleceria no futuro.
Essa dualidade, segundo ele, representava um “perigoso fardo evolutivo” que a humanidade carregava.
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Nos anos 1980, Sagan se destacou como um dos principais articuladores da teoria do inverno nuclear. Em parceria com James Pollack, Brian Toon, Tom Ackerman e Rich Turco, desenvolveu modelos que demonstraram que mesmo uma guerra nuclear limitada poderia causar uma queda abrupta nas temperaturas globais – entre 15°C e 25°C – e provocar uma era de escuridão, fome e colapso ecológico.
Essa teoria foi apresentada ao público em outubro de 1983, em artigo de capa da revista Parade, e consolidada no estudo TTAPS, publicado na revista Science. Sagan alertava que a possibilidade de extinção de Homo sapiens não podia ser descartada, e que o impacto mais grave não seriam os mortos imediatamente, mas a eliminação de todas as futuras gerações. “Se formos obrigados a calcular a extinção em termos numéricos, certamente incluirei o número de pessoas das gerações futuras que não nascerão. Uma guerra nuclear coloca em risco todos os nossos descendentes, enquanto houver seres humanos.”
Sagan relacionou sua preocupação com a ausência de civilizações extraterrestres detectáveis – o chamado paradoxo de Fermi. Ele acreditava que isso indicava uma tendência comum à autodestruição entre espécies tecnológicas. “Nossas poses, nossa imaginada autoimportância, a ilusão de que ocupamos uma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida.
Nosso planeta é um grão de areia solitário na imensidão escura do cosmos.”
Sua visão era que a humanidade viveria um “tempo de perigos”, em que sua própria capacidade de destruição superaria sua habilidade de autocontrole. Ele defendia que a ciência, com sua busca por conhecimento e racionalidade, seria a única saída para evitar a autodestruição.
Sagan argumentava que a única forma de escapar desse cenário era cultivar uma perspectiva cósmica. Observar a Terra como um “pálido ponto azul” no espaço – expressão que usaria anos depois em seu livro homônimo – revelaria o absurdo de divisões nacionais e fanatismos.
Sem essa visão ampla, temia que o “instinto reptiliano” acabasse por guiar decisões catastróficas.
Seu ativismo encontrou resistência, especialmente de defensores da Iniciativa de Defesa Estratégica, o programa nuclear conhecido como “Star Wars”. O embate culminou em debates públicos com o físico Edward Teller e marcou a politização da ciência em temas globais.
Apesar da resistência, sua influência atravessou fronteiras: o papa João Paulo II o convidou para debater o inverno nuclear, e Mikhail Gorbachev o citou como um dos responsáveis pela reavaliação soviética da corrida armamentista.
Quarenta anos depois, o risco de guerra nuclear diminuiu, mas não desapareceu. Estudos recentes do próprio Brian Toon avaliam os impactos de conflitos nucleares regionais, como entre Índia e Paquistão, com potenciais globais semelhantes aos previstos por Sagan.
As táticas usadas para desacreditar o alerta sobre o inverno nuclear – como campanhas coordenadas para atacar o mensageiro – se repetem no debate sobre mudanças climáticas.
Assim como Sagan, cientistas do clima enfrentam dilemas entre comunicar riscos extremos ou suavizar as projeções para evitar rejeição pública. A frase de Sagan, dita em 1994, sintetiza seu apelo: “Temos a responsabilidade de agir com mais gentileza uns com os outros e preservar o pálido ponto azul – o único lar que conhecemos”.
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