A regra 50/30/20 surge no Brasil para equilibrar finanças. Segundo especialistas, 50% da renda deve ser para gastos essenciais, 30% para estilo de vida e 20% para investimentos. Adaptar a regra à realidade brasileira é crucial, considerando o custo de vida em cidades como São Paulo
A organização financeira ainda é um desafio para a maioria dos brasileiros. Segundo dados da Nexus, pelo menos 55% das pessoas das classes A, B e C não possuem um planejamento financeiro, e metade (50%) afirma poupar raramente ou nunca ao longo do mês.
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Diante desse cenário, ferramentas como a regra 50/30/20 ganharam destaque, buscando oferecer previsibilidade às finanças pessoais. Essa regra, originalmente criada nos Estados Unidos, propõe dividir a renda mensal em três categorias: 50% para despesas essenciais, 30% para gastos com estilo de vida e 20% para poupança e investimentos.
A regra 50/30/20 é um modelo simplificado de gestão do orçamento pessoal. Ela divide a renda líquida mensal em três partes principais. A primeira parcela, equivalente a 50%, é destinada aos gastos essenciais, que incluem aluguel, contas de luz, água, internet, transporte, alimentação e saúde.
Os 30% restantes são destinados a despesas ligadas ao estilo de vida e ao lazer, como delivery, assinaturas de streaming, roupas, viagens e compras não essenciais. Já os 20% finais são reservados para objetivos financeiros de longo prazo, como a aposentadoria ou a compra de um imóvel.
Lucas Buffon, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, ressalta que a lógica da regra é criar equilíbrio e consciência financeira. “O que realmente faz diferença é saber para onde o seu dinheiro está indo e garantir que uma parte dele esteja sendo usada para construir o futuro”, afirma.
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Um ponto central do método é que a poupança não deve ser o que sobra no fim do mês. A ideia é tratar esses 20% como um compromisso fixo, separando o valor assim que o salário cai na conta.
Especialistas alertam que a regra não deve ser seguida de forma automática e precisa de adaptações para a realidade brasileira. Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, compara o método a uma receita de bolo. “Você pode não ter exatamente todos os ingredientes ou precisar adaptar as quantidades.
O mais importante não são os números exatos, mas o conceito de separar necessidades, desejos e futuro”, diz. Diego Endrigo, planejador financeiro CFP pela Planejar, reforça que a regra funciona como um guia. “Ela traz clareza financeira, ajuda a diferenciar o que é essencial, desejável e estratégico, e cria disciplina.
No longo prazo, o hábito de poupar é mais importante do que o valor poupado em si”.
A aplicação da regra começa pelo mapeamento detalhado do orçamento. O primeiro passo é listar todas as despesas, fixas e variáveis, e compará-las com a renda mensal líquida. Para quem é CLT, o processo tende a ser mais simples, já que a renda é previsível. “Basta aplicar as porcentagens sobre o salário líquido e organizar os gastos dentro das três categorias”, diz Buffon.
Já para autônomos, o desafio é maior. Nesse caso, a recomendação é trabalhar com médias. Endrigo sugere usar a renda dos últimos três a seis meses como base, enquanto Patzlaff indica até 12 meses, de forma conservadora.
Apesar da popularidade, a regra 50/30/20 não é isenta de críticas. A principal delas é a simplificação excessiva. “Ela não considera contextos muito diferentes, como famílias com dependentes, dívidas elevadas ou renda insuficiente para cobrir o básico”, afirma Buffon.
Outro ponto é que o modelo nasceu nos Estados Unidos, em um cenário de renda média mais alta e inflação mais estável. No Brasil, a inflação e o custo de vida podem impactar significativamente a aplicação da regra. Em grandes capitais como São Paulo e Rio, aluguel e condomínio podem consumir sozinhos 40% da renda.
Para muitas famílias, versões como 60/25/15 ou até 70/20/10 são mais realistas. “Isso não é um fracasso pessoal, é reflexo do custo de vida”, diz o planejador financeiro. “O princípio continua válido, mas copiar a regra sem adaptação pode gerar frustração”, completa Endrigo.
Para quem quer começar a organizar o orçamento, mas considera inviável poupar 20% da renda, o caminho é iniciar de forma gradual. Patzlaff lembra que quase ninguém consegue sair do zero para os 20% de um mês para o outro sem frustração. “Guardar dinheiro é como começar uma academia: você não tenta levantar 100 quilos no primeiro dia”, afirma.
O primeiro passo, segundo ele, é fazer um registro de todas as despesas — do aluguel ao cafezinho — em um aplicativo, planilha ou até em um caderno, sem julgamentos. O objetivo inicial não é acumular grandes valores, mas criar o hábito de direcionar parte do dinheiro para o futuro.
Com o tempo, esse percentual pode ser ajustado para cima, à medida que a pessoa revê gastos e muda hábitos de consumo, como reduzir pedidos de delivery ou compras por impulso.
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