Putin e Trump no Alasca: encontro pode determinar o futuro da Ucrânia e fortalecer o poderio diplomático do Kremlin
Acontece hoje o primeiro encontro entre Vladimir Putin e um presidente dos EUA desde 2021.

A trajetória da guerra na Ucrânia poderá ser definida nesta sexta-feira, 15, a partir das 16h30 (horário de Brasília), com a reunião aguardada entre Vladimir Putin e Donald Trump, que ocorrerá no Alasca. Trata-se do primeiro encontro entre o presidente russo e um dos EUA desde junho de 2021, e do primeiro reencontro entre Putin e Trump desde 2019.
A grande expectativa gira em torno da possibilidade dos líderes alcançarem um acordo sobre a resolução da guerra na Ucrânia, e quais condições de negociação serão apresentadas. Contudo, a própria realização do encontro já representa um marco diplomático na interação entre Moscou e o Ocidente nos últimos anos.
O Kremlin confirmou a programação da cúpula e a composição da delegação russa, que incluirá o assessor presidencial, Yuri Ushakov, os ministros das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, da Defesa, Andrei Belousov, e das Finanças, Anton Siluanov, além do representante especial da Presidência da Rússia, Kirill Dmitriev. Foi relatado que, inicialmente, os dois líderes terão uma reunião bilateral, depois as delegações vão se incorporar ao diálogo, e, por fim, Trump e Putin deverão dar uma coletiva de imprensa conjunta.
Na véspera, em reunião de governo, Putin elogiou os esforços da Casa Branca em buscar solução para a crise ucraniana. Ele afirmou que a atual administração dos EUA está “fazendo esforços bastante vigorosos e sinceros para interromper as hostilidades, pôr fim à crise e chegar a acordos que atendam aos interesses de todas as partes envolvidas neste conflito”.
“Isso visa criar condições de paz a longo prazo – tanto entre nossos países, na Europa e no mundo como um todo – se, na próxima etapa, chegarmos a acordos sobre o controle de armas ofensivas estratégicas”, completou.
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Sob a ótica diplomática, a viagem de Putin ao Alasca é vista como um acerto de Moscou, uma vez que, desde o início da guerra na Ucrânia, o presidente russo não realizou viagens internacionais relevantes, limitando-se a países vizinhos da esfera pós-soviética. Não será recebido pelo presidente dos EUA para debater os desdobramentos do conflito, e este encontro não contará com a presença da União Europeia ou do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
A cientista política e especialista em política dos EUA, Alexandra Filippenko, declarou ao Brasil de Fato que a situação “realmente se configura como se a União Europeia e a Ucrânia estivessem por fora deste processo”. A analista aponta que é um cenário que lembra uma divisão do mundo semelhante à Conferência de Yalta, que estabeleceu os contornos da geopolítica internacional após a Segunda Guerra Mundial.
A assessoria de Vladimir Putin afirmou que o foco principal da cúpula Rússia-EUA será a resolução da crise ucraniana, embora outros assuntos também sejam abordados.
Nesse contexto, destaca-se a presença do ministro das Finanças da Rússia. Além das questões territoriais ou de um possível cessar-fogo, o debate sobre o conflito ucraniano pode incluir negociações econômicas, acordos comerciais e discussões sobre o levantamento das sanções a Moscou.
Para a cientista política Alexandra Filippenko, independentemente da proposta ou arranjo da reunião, está claro que o “tema central será em torno do que a Ucrânia terá que ceder de seus territórios”. “E a partir daqui, eu coloco um ponto, porque as variáveis são inúmeras: se vai ceder por 40 anos, por 100 anos, para sempre ou com reconhecimento de fato ou de direito. Aqui não sabemos. Entendemos que a questão é muito delicada, muito sensível, e por isso existe tanta informação, e também desinformação”, afirma.
Para Donald Trump, o objetivo primordial é concluir a guerra, visando obter determinados acordos financeiros com a Ucrânia, que já estabeleceu um acordo sobre minerais raros, a União Europeia e a Rússia. Assim, em linhas gerais, podemos afirmar que se trata de negociações comerciais, onde o encerramento do conflito é a primeira etapa.
A reunião entre Putin e Trump no Alasca se destaca por essa escolha, que transmite neutralidade, considerando os laços históricos da região com a Rússia. O Alasca já fazia parte do Império Russo e foi posteriormente transferido para os Estados Unidos no século XIX. Adicionalmente, há um fator estratégico de segurança para o presidente russo, Vladimir Putin, que enfrenta uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional desde 2023, relacionada à guerra na Ucrânia.
Os Estados Unidos, contudo, não são parte signatária do tratado e não possuem obrigações de obedecer à ordem. Nesse cenário, o Alasca é o território americano mais próximo da Rússia – apenas o Estreito de Bering separa os dois países naquela região.
Ademais, o Alasca possui um papel simbólico e estratégico mais amplo no contexto das negociações, devido aos interesses relacionados a rotas comerciais e à exploração de recursos que podem ser considerados na mesa de negociações entre Putin e Trump.
A cientista política Alexandra Filippenko recorda que, há alguns anos, a China se declarou como “Estado quase Ártico” e tem construído quebra-gelos. “E por que a China precisa de quebra-gelos? É compreensível que seja para utilizá-los na região do Ártico que é controlada pela Rússia. A Rússia controla uma área enorme do Ártico. Então, se lá for criada a chamada ‘rota comercial do norte’, ela diminuirá em três vezes a rota dos produtos chineses da China para a Europa, e da China para os EUA e Canadá.”
Portanto, segundo ela, não é coincidência a participação do ministro das Finanças russo nas negociações. “Aqui existe um interesse financeiro, de que não seja a China quem controle a ‘rota comercial do norte’, mas que os EUA controlem essa rota, e para isso é preciso negociar com a Rússia, ou fragmentar essa negociação entre Rússia e China”, completou.
Fonte por: Brasil de Fato