Pesquisadora da Oxford Apresenta Desafios para o Net Zero no Brasil

Pesquisadora Aline Soterroni analisa desafios do Net Zero no Brasil. Com foco na Iniciativa Nature-Based Solutions, ela modela o uso da terra para avaliar políticas climáticas, destacando a urgência do Código Florestal e a importância das Soluções Baseadas na Natureza para o país alcançar a neutralidade de carbono

4 min de leitura

(Imagem de reprodução da internet).

Desafios e Soluções para o Net Zero no Brasil

Aline Soterroni, pesquisadora associada do Departamento de Biologia da Universidade de Oxford, dedica seu trabalho à modelagem do uso da terra para avaliar políticas ambientais e climáticas, com foco particular no Brasil. Através de iniciativas como a Iniciativa de Soluções Baseadas na Natureza (Nature-Based Solutions Initiative) e a Oxford Net Zero, ela busca entender como o país pode alcançar a neutralidade de carbono.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em 2021, durante um período desafiador para a pesquisa ambiental no Brasil, marcado pela gestão do governo PL e pela pandemia de COVID-19, Soterroni aplicou-se a uma posição na Universidade de Oxford, durante a COP26 em Glasgow. Aquele ano foi crucial, com a COP26 sendo conhecida como a “COP do Net Zero”, impulsionada pelos compromissos de diversos países em alcançar a neutralidade de carbono.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O trabalho de Soterroni envolve a modelagem econômica do uso da terra, gerando cenários futuros e calculando trajetórias de emissões com base em diferentes hipóteses. Ela se concentra em demonstrar a incompatibilidade entre o discurso internacional de Net Zero e a política doméstica brasileira, especialmente diante das altas taxas de desmatamento na Amazônia.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

LEIA TAMBÉM!

O conceito de Net Zero, definido como a neutralidade de carbono, é fundamental na agenda climática global. Ele exige a estabilização dos gases na atmosfera, o que só é possível ao equilibrar as emissões com a remoção de carbono da atmosfera.

A humanidade emite atualmente muito mais gases de efeito estufa do que a natureza consegue absorver, criando um desequilíbrio que ameaça o planeta.

Os sumidouros terrestres e marinhos absorvem cerca de 50% a 55% das emissões humanas, mas essa capacidade é insuficiente. A “banheira cheia” representa as emissões, enquanto o ralo pequeno simboliza a capacidade de absorção do planeta. Se não fecharmos essa “torneira” de emissões, ultrapassaremos a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

A modelagem de futuros possíveis é uma ferramenta essencial para identificar cenários alternativos e entender as ações necessárias para alcançar metas climáticas. Soterroni e sua equipe utilizam modelos de uso da terra e agricultura, como o Globiom-Brazil, e modelos desenvolvidos por outros grupos de pesquisa, como o Blues da UFRJ, para criar cenários detalhados e quantitativos.

Um dos resultados mais importantes do estudo de Soterroni é a importância do cumprimento do Código Florestal para alcançar as metas de curto prazo de Net Zero até 2035. No entanto, ela enfatiza que o cumprimento do código sozinho não é suficiente e que são necessárias políticas complementares para eliminar o desmatamento legal, especialmente no Cerrado, e avançar rumo ao Net Zero.

Outro resultado crucial é a relevância das Soluções Baseadas na Natureza (SbN), que englobam uma série de medidas, como a restauração de ecossistemas, a criação de sistemas agroflorestais e a proteção de áreas naturais. As SbN representam cerca de 80% do caminho para o Net Zero brasileiro, utilizando a natureza como aliada para combater as mudanças climáticas e a crise de perda de biodiversidade.

As SbN oferecem múltiplos benefícios, incluindo a preservação da floresta amazônica, a proteção da biodiversidade e a garantia dos serviços ecossistêmicos, como a água e o regime de chuvas, que são essenciais para a agricultura e a segurança energética no Brasil.

Além disso, as SbN reconhecem a importância das comunidades tradicionais e povos indígenas, que dependem da floresta e são frequentemente os mais afetados pelas mudanças climáticas.

Soterroni destaca a necessidade de uma abordagem integrada que combine a mitigação (redução de emissões) e a adaptação (ajuste às mudanças climáticas). A mitigação visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa, enquanto a adaptação busca lidar com os impactos das mudanças climáticas que já estão ocorrendo.

Ambas as abordagens são essenciais para garantir um futuro seguro e justo para todos.

Em resumo, o trabalho de Aline Soterroni demonstra a importância de políticas ambientais baseadas em evidências científicas, na modelagem de cenários e na utilização das Soluções Baseadas na Natureza para alcançar a neutralidade de carbono no Brasil.

Sair da versão mobile