Pensamentos Intrusivos na Gravidez: Intrusões Mentais e Risco de Transtornos

Pensamentos intrusivos na gravidez podem indicar risco de ansiedade pós-parto, segundo estudo na Science Advances. Imaginar acidentes com o bebê é mais comum que se imagina e pode ser ferramenta para identificar mulheres vulneráveis. O ginecologista Rômulo Negrini explica que esses pensamentos, chamados “intrusões mentais”, surgem sem querer e causam desconforto

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(Imagem de reprodução da internet).

Pensamentos Intrusivos na Gravidez: Uma Janela para a Saúde Mental Perinatal

Durante a gravidez e nas primeiras semanas após o parto, é comum que mulheres experimentem uma variedade de pensamentos, incluindo aqueles que podem ser considerados assustadores. Imaginar cenários de acidentes, quedas ou até mesmo machucar o próprio filho sem querer, é mais frequente do que se imagina, embora raramente seja compartilhado com profissionais de saúde.

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Um estudo publicado na revista Science Advances revelou que esses pensamentos indesejados, frequentemente relacionados a danos ou perigos ao bebê, podem ser uma importante ferramenta para identificar precocemente mulheres vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão pós-parto.

Esses pensamentos repentinos, conhecidos como “intrusões mentais”, são caracterizados por imagens ou impulsos vívidos que surgem de forma abrupta, indesejada e angustiante.

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O Que São Intrusões Mentais e Como se Manifestam

No contexto da maternidade, essas intrusões podem se apresentar como pensamentos como “e se o bebê cair?”, “e se eu o sufocar sem querer?” ou “e se eu machucar meu filho?”. “O que define essas intrusões é que elas surgem ‘do nada’ e são contrárias aos valores e desejos da mãe, causando intenso desconforto”, explica o ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador materno-infantil do Einstein Hospital Israelita.

Esses pensamentos geralmente não refletem um desejo ou intenção real, mas sim medo e hipervigilância, diferenciando-se da preocupação normal da maternidade. “Não é algo planejado nem fruto de ruminação, mas sim um lampejo mental que causa medo e culpa.

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O que é considerado normal é ter intrusões isoladas, curtas e reconhecidas como indesejadas. Já quando esses pensamentos são persistentes, geram evitação ou impedem o cuidado com o bebê, é sinal de alerta”, ressalta Negrini.

Fatores que Contribuem para as Intrusões Mentais

Estudos indicam que entre 70% e 100% das mães relatam essas intrusões mentais. Cerca de metade tem, pelo menos uma vez, ideias de dano intencional, embora sem qualquer ação de fato. “Muitas mães não contam o que sentem por medo de serem julgadas”, observa o médico.

A interação entre vulnerabilidades e fatores ambientais, como as oscilações de estrogênio, progesterona e cortisol, pode aumentar a sensibilidade emocional, especialmente em mulheres predispostas à ansiedade. Além disso, o sono fragmentado no puerpério, o isolamento, o medo de não dar conta e a falta de apoio no pós-parto, também contribuem para o aumento das intrusões. “Em geral, é a interação entre todos esses fatores que favorece as intrusões”, pontua Rômulo Negrini.

Abordagem e Tratamento

Para a prevenção, o ideal é que as consultas de pré-natal incluam triagem para ansiedade e histórico de transtornos prévios, além de envolver o parceiro ou familiares no planejamento do suporte pós-parto. “Cuidar da saúde mental da mãe é cuidar da saúde do bebê e de toda a família”, conclui o médico.

Se houver impulsos repetitivos, ideias de agir, evitação do bebê ou ansiedade tão intensa que compromete o cuidado, deve-se buscar avaliação imediata e procurar atendimento de saúde mental. Em casos graves, pode ser necessário o uso de medicamentos antidepressivos compatíveis com o aleitamento materno, sempre sob acompanhamento psiquiátrico.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC), adaptada ao contexto perinatal, com técnicas de exposição e prevenção de resposta, é uma das abordagens mais eficazes.

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