Peacock Chair: Cadeira que representa identidade e poder cultural global

Criada no artesanato filipino, a Peacock Chair percorreu colônias e séculos, consolidando-se como símbolo de identidade e resistência global.

14/10/2025 5:04

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Peacock Chair: Cadeira que representa identidade e poder cultural global
(Imagem de reprodução da internet).

A Cadeira Pavão: Um Símbolo de Resistência Cultural

Objetos podem transcender sua função original e se tornar símbolos culturais. A Peacock Chair, ou cadeira pavão, é um exemplo notável. Originária do distrito de Parian, em Manila, Filipinas, essa cadeira se tornou um ícone de identidade e resistência cultural, especialmente em meio à colonização espanhola e americana.

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Feita de rattan, uma fibra natural abundante nas florestas do sudeste asiático, a cadeira foi criada por artesãos anônimos entre o final do século XIX e o início do século XX. A peça se destacou por sua técnica artesanal e o uso do material local, contrastando com o mobiliário de madeira pesada e estilos europeus impostos pelos espanhóis.

A Criação Coletiva e o Saber Tradicional

Ao contrário das cadeiras europeias, criadas por marceneiros reconhecidos, a Peacock Chair não possui autoria individual. Ela nasceu do coletivo, de um ofício passado de geração em geração. “Não existe o registro de um só criador”, explica João Caixeta, designer, professor, pesquisador e diretor do Museu da Cadeira Brasileira (MuC).

Como muitos objetos originários de povos tradicionais, a cadeira não nasce de um gesto único, mas da prática compartilhada. Essa ausência de autoria individual reflete um modo de criar que é profundamente comunitário. Os artesãos de Parian, muitos deles descendentes de chineses, teciam o rattan não apenas como material de trabalho, mas como expressão de identidade.

Rattan e Identidade

O uso do rattan é o que dá à Peacock Chair sua personalidade. A fibra, extraída de trepadeiras tropicais, é maleável, durável e renovável. Seu manejo exige tempo e habilidade, primeiro a colheita, depois o corte, o amolecimento com calor e, por fim, o trançado.

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A identidade da cadeira está intrinsecamente ligada à habilidade manual dos tecelões filipinos em criar padrões intrincados e a forma distintiva do encosto em leque, que exige um alto grau de precisão e paciência.

Simbologia do Leque e Resistência

O espaldar em forma de leque é o detalhe que eternizou a Peacock Chair. De imediato, remete à cauda aberta de um pavão, símbolo de beleza e realeza em diversas culturas. Mas, segundo Caixeta, a leitura vai além da ornamentação. “O espaldar europeu é fálico, vertical, símbolo de autoridade masculina. A Peacock Chair rompe isso”.

Em meio ao domínio colonial, a Peacock Chair foi uma afirmação da criatividade filipina. Enquanto o discurso oficial tentava impor valores europeus, o artesanato local encontrava meios de resistência estética. Décadas depois, essa força simbólica ecoou fora das Filipinas. Nos anos 1960 e 1970, a cadeira se tornou um ícone global, aparecendo em retratos de personalidades e movimentos contraculturais.

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