Paulo Nogueira Batista Jr. critica que o livre comércio é uma ideologia ultrapassada, abandonada inclusive pelos EUA

Economista questiona acordos remanescentes do governo anterior e adverte sobre a possibilidade do Brasil se tornar “uma colheita”.

12/09/2025 13:20

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Paulo Nogueira Batista Jr. critica que o livre comércio é uma ideologia ultrapassada, abandonada inclusive pelos EUA
(Imagem de reprodução da internet).

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco dos Brics, declara que a política comercial brasileira permanece submetida a ideologias neoliberais desatualizadas. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele ressalta que nenhum país desenvolvido obteve a industrialização por meio do livre comércio, modelo econômico que diminui ou elimina tarifas e quotas internacionais, como premissa.

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Dizem que desejam o livre comércio como se pudesse impulsionar o desenvolvimento, a denominada neo-industrialização, aplicando esse princípio que ninguém pratica, nem mesmo países como os Estados Unidos, onde essa ideologia neoliberal foi originalmente formulada.

Batista Jr. argumenta que acordos como os estabelecidos entre o Mercosul e a União Europeia são herança do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e teriam de ser descontinuados. “Bastava declarar que o Brasil não tinha mais interesse, buscando negociar assuntos inéditos. Isso seria totalmente viável em 2023”, declara.

Para ele, mesmo com as adaptações implementadas pelo governo vigente, o acordo mantém uma lógica prejudicial ao país. “As alterações isoladas alcançadas não são suficientes para invalidar esses acordos como reflexo da doutrina neoliberal”, analisa.

O economista considera que Lula possui qualidades, notadamente por ter impedido a “destruição nacional” causada por Bolsonaro e pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), mas adverte que a administração vigente não está criando uma alternativa robusta de desenvolvimento. “Não se pode desenvolver um país como o Brasil sem recuperar a indústria nacional. O plano de reindustrialização está sendo prejudicado pelos acordos comerciais”, avalia.

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Ele argumenta que a persistência em acordos de livre comércio prejudica o setor industrial e aprofunda um modelo predominantemente focado na exportação de produtos agrícolas e minerais, o que resulta em pouca geração de empregos. “O Brasil não poderá ser apenas uma grande fazenda, uma mistura de agricultura com mineração, exportador de soja, minério de ferro e combustíveis. É necessário recuperar a indústria para criar empregos qualificados”, defende.

Batista Jr. também critica o comportamento dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, que empregou tarifas de importação como instrumento de pressão política contra o Brasil em face do processo que levou Bolsonaro à prisão. “[Trump] é extremamente amadorístico, arrogante, imperial, porém não possui capacidade de formular adequadamente seus objetivos. Está dando um tiro no pé”, aponta. Para ele, a postura do presidente estadunidense enfraquece o próprio império americano no cenário global.

Apesar das críticas, o economista reconhece avanços na resistência à adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas adverte sobre o risco de o país se ver “vinculado a uma vasta rede de acordos decorrentes do governo Bolsonaro”. Ele conclui que o livre comércio é uma ideologia obsoleta. “A ordem liberal resultou na falência de muitos países e o Brasil ficou com a responsabilidade por essa situação”, resuma.

Para audir e visualizar.

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

Fonte por: Brasil de Fato

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