Parlamentares brasileiros se encontram com líderes do Sahel em SP: “Combate compartilhado”

A reunião agenda atividades de apoio às revoluções em curso na África.

16/09/2025 14:57

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Parlamentares brasileiros se encontram com líderes do Sahel em SP: “Combate compartilhado”
(Imagem de reprodução da internet).

Na segunda-feira (15), deputados brasileiros se reuniram com líderes progressistas dos países do Sahel, em São Paulo, para definir as vias de solidariedade aos esforços de libertação nacional na região. O evento foi organizado pela Assembleia Internacional dos Povos e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

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Os deputados federais Orlando Silva (PCdoB-SP), Valmir Assunção (PT-BA) e João Daniel (PT-SE), e a deputada estadual Rosa Amorim (PT-PE), compareceram ao evento, que contou com a presença de lideranças de movimentos sociais, representantes de organizações filiadas a partidos políticos e intelectuais nacionais.

Na lista de convidados internacionais, destacaram-se Amina Hamani, do Níger, líder do Movimento Revolucionário das Mulheres Pan-africanas (MORFEPAN); Ibrahima Kebe, do Mali, coordenador da Escola Modibo Keïta; Inoussa Ganbaaga, de Burkina Faso, membro do Comitê Memorial Thomas Sankara (CIMTS); e Kounharè Dabire, também de Burkina Faso, Secretário-Geral da Coordenação Nacional das Associações de Vigilância Cidadã (CNAVC).

O Sahel necessita de solidariedade de todos os povos do mundo. Todos que combatem o imperialismo devem se unir para defender o Sahel, declarou o maliano Ibrahima Kebe.

Caminho soberano no Brasil e na África

Foram discutidos os processos de transformação social, econômica, política e cultural que Burkina Faso, Mali e Níger vivenciaram, culminando na formação da Aliança dos Estados do Sahel (AES). Também foram apresentadas denúncias e críticas aos imperialismos francês e estadunidense, evidenciando que ambos fazem parte de um projeto comum de dominação e exploração dos recursos naturais e dos povos.

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Temos desafios políticos distintos, porém compartilhamos problemas comuns no Brasil e nos países periféricos. A luta pela soberania nacional, a luta contra o desvio de nossas riquezas, também se manifesta em nosso país, ressaltou a deputada Rosa Amorim (PT-PE).

A parlamentar afirmou que o Sahel “é uma preocupação internacional” e que se faz necessária uma solidariedade global em relação aos desafios enfrentados pela região. Ela ressaltou a iniciativa do MST de receber lideranças desses países em acampamentos e assentamentos do movimento. “Construir e fortalecer os laços entre os países da África e o Brasil é resgatar nossa própria história. Houve um apagamento histórico dessa relação”, declarou.

O evento ocorreu na Casa Carlito Maia, no centro de São Paulo. Luc Damiba, conselheiro especial do primeiro-ministro de Burkina Faso, também participou. A direção do Memorial Thomas Sankara ressaltou a relevância do encontro com os parlamentares brasileiros, considerando que a situação do Sahel em nível internacional é amplamente influenciada por meios de comunicação que propagam a “voz ocidental imperialista”.

Ele enfatizou o esforço conjunto da Aliança dos Estados do Sahel, estabelecida em 16 de setembro de 2023. “Existe um objetivo maior, que é deixar essa crise de segurança. Estamos construindo uma federação com uma única bandeira, um único hino, e trabalhamos por uma moeda comum”, afirmou.

O terrorismo é financiado por países ocidentais. Não possuímos indústrias de armamentos, porém essas armas continuam a chegar. O imperialismo fragilizou o Estado, facilitando a exploração de minerais por empresas multinacionais estrangeiras. Em todos os países africanos em guerra, as empresas de mineração não cessam suas atividades. A crise foi gerada para impedir que um poder forte se opusesse a essa exploração, afirmou Damiba, destacando a presença de grupos jihadistas no Sahel.

Aliança entre legisladores

O deputado federal Orlando Silva propôs uma diplomacia e um intercâmbio entre parlamentares brasileiros e os do Sahel. Ele acredita que essa colaboração pode ter outras consequências.

O Brasil possui a maior população de diáspora do mundo. Nasci em Salvador, uma das cidades mais negras do planeta, e não foi possível, mesmo com o esforço do presidente Lula, que tentou se aproximar da África, estabelecer uma relação diplomática e política no nível que a África merece.

Amina Hamani, do Níger, ressaltou o apoio da população da diáspora e o forte suporte popular nos protestos que levaram Abdourahamane Tchiani à presidência, em 26 de julho de 2023. “Foram manifestações grandiosas em Niamei quando os militares assumiram o poder. Essas manifestações iniciaram-se a partir da capital Niamei e ocorreram em diversas regiões do país. Houve um grande apoio da diáspora, das mulheres e dos jovens, que levavam bandeiras e mensagens anti-imperialistas”, afirmou.

Outro parlamentar a se manifestar foi João Daniel (PT-SE). O deputado federal afirmou que “nunca houve prioridade com a África”. O parlamentar se colocou à disposição para contribuir com o movimento de ruptura em curso no Sahel. “Isto é o mínimo de obrigação de um parlamentar de esquerda. Utilizar o parlamento para contribuir nesse processo de articulação internacional e de apoio”, explicou João Daniel.

Sugestões colaborativas

Valmir Assunção (PT-BA) destacou a maneira como os franceses e “imperialistas” abordam os países do Sahel. Ele estabeleceu uma comparação com a situação no Brasil e os ataques do governo do republicano Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. “É um ataque às riquezas naturais. Eles querem as terras raras, da mesma forma que eles (os franceses e americanos) querem lá. É uma luta em comum”.

O deputado também destacou a instauração da bancada negra no parlamento brasileiro em 2023, após 525 anos, e a luta unida para combater o racismo no âmbito do Congresso. “A grande maioria dos parlamentares se opõe. O racismo é bastante presente”, afirmou Orlando.

João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, apresentou ao final da reunião um conjunto de encaminhamentos discutidos no encontro, incluindo a construção de voos diretos do Brasil para a África e a formação de uma comissão parlamentar em solidariedade ao Sahel, com a inclusão da possibilidade de uma viagem dos parlamentares aos três países da AES.

A direção do MST também destacou que o movimento pretende enviar profissionais e ativistas para apoiar a produção de alimentos agroecológicos, colaborando para assegurar a autonomia alimentar em uma área com predominância de agricultores. Apenas no Burkina Faso, 90% da população reside em áreas rurais.

O Stedile ressaltou ainda que o Brasil pode contribuir para as lutas pela soberania no Sahel, mencionando a Fiocruz, “que possui uma área de pesquisa e produção farmacêutica do Estado, produzindo vacinas e medicamentos, que são disseminados”.

Outro ponto abordado foi a viabilidade da colaboração do Brasil com a luta dos países do Sahel para romper com a influência do CFA Franc e estabelecer uma política monetária autônoma. “Os países do Sahel necessitarão de uma nova moeda e o Brasil é um dos oito países do mundo que possuem capacidade de emissão de moeda”, afirmou o economista.

Fonte por: Brasil de Fato

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