Para analistas, racismo, cortina de fumaça e demonstração de força explicam intervenção de Trump em Washington

O chefe do executivo americano desconversa a realidade ao declarar que a criminalidade está fora de controle na capital do país.

14/08/2025 8:48

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Para analistas, racismo, cortina de fumaça e demonstração de força explicam intervenção de Trump em Washington
(Imagem de reprodução da internet).

A justificativa apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para intervir na segurança pública de Washington D.C., é considerada falsa por analistas da Folha de S.Paulo. Embora o republicano afirme que a cidade enfrentava uma onda de violência – fato negado por dados oficiais –, os especialistas apontam que uma combinação de racismo, demonstração de força sobre rivais políticos e a criação de uma cortina de fumaça justificam a atitude.

Em 11 de setembro, Trump ordenou o envio de 800 militares da Guarda Nacional para “limpar” Washington dos crimes de “gangues violentos”. Apesar dos dados oficiais indicarem uma diminuição da criminalidade na cidade, os republicanos sustentam que Washington apresenta altos índices de criminalidade e de moradores em situação de rua.

James Green, pesquisador americano da Brown University, afirma que a grande maioria dos habitantes da capital dos EUA, entre 1950 e 2011, eram negros, representando cerca de 50%. “Trump é profundamente racista”, declarou ele ao Brasil de Fato.

Ele acredita que a população negra é inferior, o que tem demonstrado em diversas ocasiões ao longo de sua trajetória.

Green recorda a primeira vez que o atual presidente dos EUA esteve em manchetes de jornais, em 1973, quando a Trump Management, empresa da qual ele era presidente na época, foi processada por discriminação contra negros que buscavam alugar propriedades em Nova York.

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Pablo Victor Fontes Santos, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj), afirmou que a história dos EUA é caracterizada por projetos de higienização ou eugenistas, com base em princípios de supremacia racial.

Donald Trump pode otimizar o processo de sustentação desses grupos extremistas radicais supremacistas brancos, afirma ele. A limpeza proposta por Trump se tornou evidente quando ele declarou que “os desabrigados precisam sair imediatamente” de Washington D.C. e “queremos nossa capital de volta”, avalia Santos.

Para o diretor executivo da Coalizão Nacional para os Sem-Teto dos Estados Unidos, Donald Whitehead, a BBC afirmou que indivíduos em situação de rua são mais frequentemente vítimas de crimes do que autores. Contudo, ao fazer o anúncio, o magnata de extrema-direita declarou que “também nos livramos das favelas (…). Estamos nos livrando delas. Sei que não é politicamente correto”.

Escândalo sexual

A outra justificativa para a decisão seria desviar a atenção do escândalo sexual conhecido como Caso Epstein. Nesta semana, um juiz em Manhattan rejeitou o pedido do governo Trump para liberar transcrições de depoimentos do grande júri no caso Ghislaine Maxwell, cúmplice de Jeffrey Epstein.

A hesitação em compartilhar os documentos intensifica a pressão sobre o governo Trump, que já havia abandonado um compromisso de disponibilizar novas informações sobre o caso. O falecimento de Epstein na prisão, em 2019, e suas conexões com personalidades influentes – incluindo Trump –, têm fomentado teorias conspiratórias há anos.

O caso continua a provocar controvérsia e discussão pública, com o governo vigente recebendo críticas devido à sua ausência de transparência em relação às investigações sobre Epstein e seus contatos. A decisão judicial acirra a dificuldade de acesso a informações relacionadas ao caso, mantendo em sigilo aspectos cruciais da apuração.

Trump se mostra defensivo em relação a diversas questões, incluindo o Caso Epstein, e busca desviar a atenção. As consequências do caso estão fragilizando até a base trumpista, que demanda explicações. Analistas indicam que Trump tenta superar o constrangimento apresentando uma imagem de líder robusto, que lida com segurança pública de forma assertiva.

Atenção: Este aviso se destina ao momento atual e também aos períodos subsequentes.

As análises indicam que o líder de extrema-direita pode, ao mesmo tempo em que transmite uma mensagem de truculência aos oponentes políticos, estar preparando o cenário para um possível golpe de Estado em 2028. O objetivo seria preservar o poder, caso não consiga alterar a Constituição para possibilitar um terceiro mandato (que já exerceu entre 2017 e 2021).

“Possivelmente testemunhamos o surgimento de uma nova ordem, na qual os Estados Unidos não defendam mais o multilateralismo, mas sim o individualismo”, declarou Pablo Victor Fontes Santos.

James Green acredita que Trump esteja planejando o emprego de forças sob seu controle, como membros da Guarda Nacional na Califórnia ou agentes de imigração, para se defender caso ele tente permanecer no poder por meios coercitivos.

A campanha de Trump é cheia de informações falsas — a criminalidade em Washington D.C. está diminuindo, não aumentando, e não se aproxima da proporção divulgada. “É parte da estratégia da extrema direita de confundir e distorcer a História”, afirma o professor da UERJ.

Pablo Victor Fontes Santos afirma que esses mecanismos visam progredir em agendas custosas para aqueles que se identificam com Trump, um grupo que inclui as Big Techs e que emprega o discurso da liberdade de expressão ou da sua ausência para reforçar sua política autoritária.

A intervenção federal na capital da Colúmbia Ocidental deverá ter uma duração mínima de um mês e o parlamentar republicano afirmou que o esquema pode ser replicado em outras regiões do país.

Fonte por: Brasil de Fato

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