O professor de relações internacionais Gilberto Maringoni, da Universidade Federal do ABC (UFABC), criticou o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux em relação ao seu voto no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista à Radio BdF, Maringoni classificou a posição de Fux como “vergonhosa” e o chamou de “um fantoche do governo americano”.
As declarações ocorreram após uma manifestação pública de um aliado de Bolsonaro, Paulo Figueiredo, neto do ex-ditador militar João Figueiredo. Segundo Figueiredo, o ministro Fux seria excluído de quaisquer futuras sanções dos EUA devido à sua oposição à condenação de Bolsonaro. Ele mencionou a Lei Magnitsky, uma lei utilizada pela administração de Donald Trump para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, o principal investigador do caso.
Na sessão do julgamento de 10 de julho, Fux votou contra a condenação de Bolsonaro, discordando de Moraes. A pontuação do voto até o momento é de 2 a 1 a favor da condenação, com o ministro Flávio Dino também votando pela condenação. Bolsonaro é acusado de orquestrar um golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022.
Maringoni afirmou: “Paulo Figueiredo está dizendo que o ministro Fux é um fantoche do governo dos Estados Unidos”. “É vergonhoso que um ministro do Supremo Tribunal esteja tão alinhado com um poder estrangeiro”.
As ameaças da Casa Branca não devem ser ignoradas, afirma professor.
A entrevista de Figueiredo ocorreu logo após a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarar que “Donald Trump não tem medo de usar o poder econômico e militar para proteger a liberdade de expressão em todo o mundo”. A declaração, feita em 9 de julho em resposta a uma pergunta sobre possíveis novas sanções contra o Brasil em caso de condenação de Bolsonaro.
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Maringoni alertou que tais ameaças devem ser levadas a sério. “Não se trata apenas de blefe. Trump tem consistentemente utilizado táticas brutais nas relações internacionais”, declarou. O professor recordou o deslocamento da Marinha dos EUA perto do Venezuela durante o mandato de Trump e alertou que o Brasil poderá enfrentar intimidações semelhantes. “É bastante possível que ele envie uma frota naval para o Atlântico Sul para exercer pressão. Devemos estar preparados.”
Ele acrescentou que qualquer tentativa de influência estrangeira sobre o julgamento deve ser firmemente rejeitada pelas instituições do Brasil. “Essa interferência em um julgamento dessa magnitude não deve ser tolerada. Cabe ao Ministério das Relações Exteriores, ao Congresso Nacional e à esfera Executiva adotar uma posição firme”, declarou.
Sanções podem visar o BRICS, e não apenas Bolsonaro, afirma especialista.
Os aliados de Trump têm associado possíveis sanções ao julgamento de Bolsonaro, mas Maringoni acredita que o alvo mais amplo pode ser o papel do Brasil na coalizão Brics. “Ele está atacando o fato de que o Brasil é o único grande membro do Brics no Hemisfério Ocidental”, argumentou.
O grupo Brics – composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e agora expandido para incluir outros membros – tem desenvolvido ativamente relações comerciais fora do sistema do dólar americano. “Isso representa uma séria ameaça para os Estados Unidos”, concluiu Maringoni.
Voto do ministro Fux.
O ministro Luiz Fux votou pela absolvição do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados militares no processo por suposta tentativa de golpe após as eleições de 2022. Fux argumentou que a Suprema Corte não tinha jurisdição no caso, alegando que Bolsonaro e vários co-demandantes, muitos dos quais não ocupam mais cargos públicos, deveriam ser julgados em instâncias inferiores. Sua posição contrastou com a maioria do Tribunal e com a avaliação do relator-chefe Alexandre de Moraes, que sustentou que as acusações envolviam ataques coordenados às instituições democráticas e, portanto, exigiam jurisdição federal.
Fux está isolado politicamente e legalmente. Até o momento, dois ministros – Alexandre de Moraes e Flávio Dino – votaram pela condenação de Bolsonaro e outros acusados, apresentando argumentos detalhados com base em meses de evidências. Moraes, por exemplo, destacou os papéis ativos do círculo íntimo de Bolsonaro, incluindo o General Augusto Heleno e o ex-Ministro da Justiça Anderson Torres, na disseminação de desinformação e na orquestração de ações anti-democráticas.
A acusação, liderada pelo procurador-geral do Brasil, Paulo Gonet, destacou a natureza sistêmica do plano. “A tentativa de insurreição depende da compreensão de uma sequência de eventos que, vistos isoladamente, podem parecer inofensivos, mas juntos formam um esforço coordenado para destruir as instituições democráticas”, declarou ele.
Fonte por: Brasil de Fato