“Alívio e tristeza” marcaram a confirmação do falecimento do pianista Francisco Cerqueira Tenório Júnior, o Tenorinho. A notícia da identificação foi comunicada pela Embaixada do Brasil na Argentina, após quase 50 anos do seu desaparecimento em Buenos Aires.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
É um alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. De alguma forma, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música, afirma o comunicado assinado pelos filhos Elisa, Andrea, Francisco e Margarida.
Tenório Jr. era pai de cinco filhos, sendo o mais novo nascido um mês após seu desaparecimento. Os filhos agora solicitam uma nova investigação sobre o caso.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Ainda buscamos e necessitamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem envolvimento político, que só vivia para a música?”
Desaparecimento Inexplicável.
Tenorinho era visto como um notável artista da bossa nova e do jazz, sendo seu último registro datado de 18 de março de 1976, após uma apresentação no centro de Buenos Aires. Ele deixou o Hotel Normandie, onde se hospedava, para adquirir cigarros em uma farmácia e desapareceu. Posteriormente, ocorreu o golpe militar de 24 de março na Argentina.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
LEIA TAMBÉM!
Cadastro Nacional de Saúde será integrado aos dados do Cadastro de Pessoa Física
Parlamentares brasileiros se encontram com líderes do Sahel em SP: “Combate compartilhado”
Ex-delegado do Departamento de Polícia de SP avalia que é necessário ter capacidade de inteligência policial para o envio de policiais militares à Baixada Santista após ocorrência de homicídios
A identificação de Tenório Jr. foi feita pela Equipe Argentina de Antropologia Forense, uma organização científica independente, por meio da comparação de impressões digitais. O corpo de um homem encontrado em Don Torcuato, na região metropolitana de Buenos Aires, dois dias após o desaparecimento do pianista, em 20 de março de 1976, foi confirmado como sendo o de Tenorinho.
A perícia da época apontou para a morte causada por disparos de arma de fogo. As impressões digitais do caso de 1976 foram confrontadas com as de Tenório, armazenadas no Brasil, e a identificação foi confirmada. Apesar de seu corpo não ter sido devolvido à família, o artista foi sepultado no cemitério de Benavídez, em Buenos Aires.
Tenório estava em turnê pelo Uruguai e Argentina com Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona quando desapareceu. Apesar de não ter envolvimento político, seu caso sempre foi intrigante. Vinicius chegou a visitar hospitais e delegacias de polícia da capital argentina em busca do paradeiro.
Uma hipótese é que ele tenha sido considerado subversivo devido à sua aparência “barbuda”. Na época, tanto o Brasil quanto a Argentina enfrentavam um período de perseguições, sequestros, torturas e mortes de opositores.
Tenorinho era um homem peculiar.
Tenório Jr. nasceu no Rio de Janeiro e começou sua trajetória artística aos 15 anos, quando estudava acordeão e violão. Posteriormente, concentrou-se no piano, sendo reconhecido nesse instrumento no cenário musical.
Companheiro de artistas renomados da música brasileira, Tenório criou, publicou álbuns e integrou diversas turnês e eventos no Brasil e no mundo. Na década de 1970, destacava-se como um dos músicos brasileiros mais aclamados, reconhecido por sua habilidade na combinação de bossa nova e jazz.
A notícia do falecimento de Tenório, após quase 50 anos, proporcionou um certo alívio para a família, afirmou Toquinho.
Toquinho afirmou que o pianista “era de grande talento, considerado um dos músicos mais importantes da bossa nova”.
O sumiço do amigo é parte dos versos da canção “Lembranças”, que Toquinho compôs com Miltinho: “Tenório saiu sozinho à noite / Sumiu / Ninguém conseguiu explicar”, conforme a letra.
Artistas e companheiros músicos, incluindo a cantora e compositora Joyce Moreno, demonstraram grande emoção com a notícia.
“O que ele estaria fazendo hoje? Como estaria compondo? Até onde sua música o teria levado? E principalmente, até onde ele teria levado a música instrumental brasileira? Não foi só o desaparecimento de um homem, o que já é terrível. Mas foi também a perda de uma linguagem musical singular, que ele começava a desenvolver”, escreveu a cantora no Instagram.
Fafá de Belém afirmou: “Um dos maiores músicos que o Brasil nos entregou”, finalizando com a frase “Ditadura nunca mais”.
Fonte por: Brasil de Fato
