O local onde as ocorrências se sucedem no tempo adequado

O bairro se identifica, a rua não intimida e o medo não encontra espaço; aparenta ser um local agradável para se viver, bem estruturado, considerando as…

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(Imagem de reprodução da internet).

As pessoas transitavam por ali, sem a necessidade de correr. Atravessavam as ruas com calma, e os veículos, ao as avistar, reduziam a velocidade, honrando o ritmo de uma caminhada. Os passeios não causavam desconforto, os trajetos não apresentavam obstáculos, e os assentos surgiam sempre no momento adequado, atendendo ao descanso dos pés.

Ali, o tempo parecia ter aprendido a prestar atenção. O semáforo aguardava o pedestre terminar, o sol não queimava nos ombros, e a chuva não interrompia o percurso. Sob a sombra das árvores, conversas trocavam relatos, e quem residia no interior voltava a observar o exterior.

Existiam hortas que surgiam em pequenos quintais comunitários, em canteiros e jardins públicos. Nessas áreas, não se plantava com o objetivo de vender, mas sim porque as pessoas ainda tinham a habilidade de cuidar. Um jogo de dominó entre desconhecidos era mais um momento de encontro do que uma competição, e os relógios marcavam apenas o tempo enquanto o café esfriava.

As casas apresentavam entradas que se abriam com facilidade. Os corredores não possuíam ângulos acentuados, os chuveiros proporcionavam proteção, e os degraus haviam sido substituídos, sem grande formalidade. O edifício não era imponente, mas projetava-se para além do horizonte. Contava com rampas, sacadas, salões de reunião, mesas amplas, cadeiras confortáveis, espelhos honestos e iluminação que não induz ao erro.

A cidade, naquele lugar, tinha o tamanho de um passo. Farmácia, feira, biblioteca, concentrados no alcance do olhar. Se algo incomodava, era suficiente caminhar pela rua. Se algo estava em falta, bastava utilizar o elevador. O transporte público vinha em frente, o lugar já estava reservado. Parecia um bairro bem organizado. Planejado, adequado, talvez, por alguém com atenção. Era um daqueles raros em que a correria desaparecia e o mundo voltava a identificar as pessoas.

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Cada local abriga decisão. Permanecer ou prosseguir. Andar ou permanecer. Escutar ou comunicar-se. Tudo se encaixa. Tudo acontece. Ninguém precisa escapar da rotina. A rotina acolhe. O bairro se identifica, se observa, se defende. A rua não intimida. A praça não desmotiva. O medo não encontra guarida. Parece um lugar adequado para se viver, bem planejado considerando todos.

A crônica parte da reportagem da InfoMoney: “Mercado de imóveis para idosos cresce no Brasil, mas esbarra em lacunas legais”. Em 2030, a população com 60 anos ou mais ultrapassará a de crianças e adolescentes. Em 2050, um terço da população estará nesse grupo etário. Esse cenário demanda transformações no planejamento urbano, não apenas em empreendimentos privados, mas em toda a cidade.

Calçadas contínuas, iluminação adequada, acessibilidade e serviços próximos não são vantagens. Representam condições básicas para o deslocamento e a permanência. Sua ausência acarreta isolamento, diminui o contato social e causa impactos diretos na saúde.

Municípios, estados e governo federal possuem ferramentas legais e operacionais para remodelar o território, considerando as necessidades efetivas da população. Essa ação não deve ser guiada pela lógica de mercado, mas sim pelo princípio da equidade. A adaptação de áreas urbanas para a população idosa não é uma solução restrita, representa uma decisão pública. A cidade que acolhe os idosos serve a todos.

Fonte por: Jovem Pan

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