A Guiana reassumiu o presidente Irfaan Ali para um segundo mandato, com 242 mil votos em seu favor e 109 mil do principal opositor, Azruddin Mohamed, obtendo 55,31% dos votos. A eleição do presidente do Partido Progressista do Povo/Cívico (PPP/C) não altera a lógica do país, que continuará competindo com a Venezuela e mantendo uma política alinhada aos Estados Unidos.
A administração de Ali foi caracterizada por uma relação de proximidade com a Casa Branca e fortaleceu o país como um dos principais parceiros dos EUA em duas áreas. Inicialmente, no âmbito econômico. O Essequibo identificou em 2015 algumas das maiores reservas de petróleo do mundo, permitindo que a ExxonMobil assumisse a responsabilidade pela sua exploração. A companhia petrolífera americana firmou em 2016 o Acordo do Petróleo (AP), que estabeleceu condições vantajosas para qualquer empresa estrangeira que desejasse perfurar poços no território guianense.
A participação nos lucros é a primeira delas. A companhia — e neste caso, a ExxonMobil — fica com 85,5% das receitas, o governo da Guiana tem direito a apenas 14,5%. O acordo é tão benéfico para as empresas que, n doutrina, educação, treinamento, sistemas de controle interno e cooperação com autoridades civis.
Essa parceria iniciou-se com a realização de exercícios militares conjuntos. Os dois países passaram a organizar treinamentos denominados Tradewinds no território guianense, visando promover a integração das forças armadas americanas com a Força de Defesa da Guiana (GDF).
Em 2023, o Comando Sul conduziu exercícios conjuntos em terra, ar e mar, durante duas semanas. Esse treinamento incluiu também México, Canadá, Grã-Bretanha, França e os 15 países que formam a Comunidade do Caribe (Caricom). Diversas outras operações foram realizadas ao longo de 2024 e 2025.
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O Comando Sul também investiu na estrutura militar da Guiana e equipou uma base da Guarda Costeira da GDF em Georgetown, construiu um novo hangar e expandiu a infraestrutura aeronáutica do Aeroporto Internacional do país.
O presidente Irfaan Ali mantém um relacionamento próximo com a Casa Branca. Ele estudou no Centro William J. Perry de Estudos de Defesa Hemisférica, uma instituição do Departamento de Defesa dos EUA que visa formar uma “rede de profissionais de segurança e defesa nas Américas”.
A aproximação militar também ocorreu em torno de reuniões que aconteceram entre os chefes do Comando Sul e o governo do país. Em dezembro de 2024, Irfaan Ali fez uma visita ao novo chefe da instituição, Alvin Holsey. Os dois não divulgaram o tema da conversa. A reunião gerou preocupação nos países da região.
Em declarações ao Brasil de Fato, diplomatas brasileiros manifestaram uma tensão em relação à instalação de uma base militar dos EUA na Guiana, que representaria um avanço significativo de Washington em uma região estratégica para o Brasil, como a Amazônia.
Ali respondeu que faria “tudo o que for necessário para assegurar a soberania e a integridade territorial da Guiana”.
Controvérsia com a Venezuela
Para a Venezuela, o alinhamento com os EUA também acendeu um sinal de alerta. O país caribenho permanece sob ameaças militares americanas e enfrenta uma disputa histórica com a Guiana sobre o território do Essequibo. Toda essa aproximação foi denunciada pelo governo venezuelano, que também demonstrou preocupação com a instalação de uma base militar.
Em dezembro de 2023, o governo venezuelano conduziu um pleito para debater com a população a proposta de inclusão do Essequibo. A iniciativa recebeu apoio de 95,93% dos 10,5 milhões de eleitores, e a tensão entre os dois governos escalou após o resultado, com Maduro e Irfaan Ali se encontrando para tratar da controvérsia territorial.
A Presidência venezuelana, nas redes sociais, comemorou o encontro e declarou que os chefes de estado expressaram a vontade de prosseguir com o diálogo para solucionar a controvérsia em relação ao território do Essequibo.
Após isso, os dois países retornaram a uma disputa jurídica pelo território e foram à Corte Internacional de Justiça (CIJ). Irfaan Ali reiterou diversas vezes que não desistiria do território e que isso não estava em pauta em seu governo.
Irfaan Ali é quem
O presidente nasceu em 1980 em uma comunidade muçulmana no município de Leonora, a 30 quilômetros de Georgetown. Filho de um casal de professores, Ali tem ascendência indiana. Sua família imigrou da Índia para a Guiana durante a colonização britânica na região.
Ele concluiu o curso de planejamento urbano e estuda no Reino Unido. Foi deputado em 2006 e, posteriormente, exerceu os cargos de ministro da Habitação e Água entre 2009 e 2015, além de secretário-geral do Partido Progressista do Povo (PPP).
Fonte por: Brasil de Fato