O Banco Master poderá expor o patrimônio do Distrito Federal, segundo parlamentares após operação da PF e da Comissão Parlamentar de Inquérito
Distrital Fábio Felix (Psol) e senadora Leila do Volei (PDT-DF) solicitam prudência na aprovação do contrato com a BRB.

Nas últimas semanas, surgiram novas denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o Banco Master, intensificando as suspeitas sobre a tentativa de aquisição da instituição pelo Banco de Brasília (BRB). Caso se concretize, a operação pode expor o banco público do Distrito Federal a riscos jurídicos e de imagem, principalmente em razão do histórico de fraudes no crédito consignado.
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O Master é alvo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e é acusado de aplicar golpes em aposentados e pensionistas.
Em depoimento nesta terça-feira (2), o advogado Eli Cohen — responsável por identificar um dos maiores esquemas de fraude no consignado do país — detalhou como o banco e outras instituições lesavam clientes com contratos falsos, reaproveitamento de documentos sem autorização e depósitos de valores inferiores aos contratados.
Ademais, o nome do banco surge na Operação Carbono Oculto, desencadeada na última quinta-feira (28) pela Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal.
A investigação revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro ligado ao PCrel, além de fraudes, sonegação fiscal e adulteração de combustíveis.
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Essas acusações intensificam a pressão para suspender a aquisição do Master pelo BRB. A transação suscita suspeitas de crimes, conflitos de interesse e riscos de movimentação de recursos ilícitos.
Estamos falando de práticas que prejudicam diretamente os brasileiros, alerta Leila do Vôlei.
Conforme Eli Cohen, o esquema foi estruturado pelo executivo Márcio Alaor, conhecido como “Papa do Consignado”. Ex-vice-presidente do Banco BMG, Alaor comandou a área de consignados do Master e atualmente ocupa posição relevante no PicPay.
O idoso é sempre a vítima. A fraude apenas muda um pouco de forma, afirmou.
Durante a audiência, a senadora Leila Barros (PDT-DF) ressaltou a seriedade das acusações em relação à tentativa de compra do Master pelo BRB, visando expandir sua linha de consignados.
Para ela, é inaceitável que um banco público do Distrito Federal esteja prestes a assumir uma instituição envolvida em suspeitas tão sérias. Estamos falando de práticas que lesam diretamente os brasilienses, os servidores do GDF e os aposentados, a camada mais vulnerável da sociedade. É preciso esclarecer os riscos antes de avançar em qualquer negociação, afirmou a senadora, alertando preocupação com os impactos da operação para o patrimônio público do DF.
Representação no Banco Central
O deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF) protocolou, em 28 de agosto, uma representação no Banco Central em razão das descobertas da Operação Carbono Oculto.
A Receita Federal apurou que pelo menos 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, foram utilizados para a ocultação de bens no mercado financeiro paulista. Os mecanismos envolviam fintechs e instituições de pagamento que operavam com contabilidade paralela, possibilitando transferências sem identificação dos beneficiários finais.
Uma das metas é a Reag Investimentos, de João Carlos Mansur, que passou a controlar a holding do Will Bank. O Banco Master concentrou aproximadamente 75% das operações financeiras nos acordos societários envolvendo a fintech.
A Reag, por sua vez, recebeu ativos de valor, incluindo créditos fiscais e um pré-precatório ultrapassando R$ 500 milhões. É nesse contexto suspeito que o BRB, patrimônio do Distrito Federal, pode estar envolvido, alerta Fábio Felix.
Relações passadas.
A representação também indica que não é a primeira vez que o Master e a Reag estão sob investigação da PF. Em 2020, a Operação Fundo Fake identificou fraudes em fundos de pensão de servidores públicos entre 2010 e 2017.
Em 2024, os fundos Hans 95 e Reag Growth 95 investiram pelo menos R$ 1,2 bilhão na Master, mesmo com o banco enfrentando problemas de liquidez.
O documento menciona a atuação da Borneo FIP Multiestratégia, detentora de milhares de ações do BRB. Na assembleia de 12 de março deste ano, que aprovou medidas preparatórias para a aquisição do Master, um representante da Borneo participou, mas se absteve na votação. De acordo com a ata, o fundo possuía 2,27 milhões de ações ordinárias (0,8% do total com direito a voto) e 13,1 milhões de ações preferenciais (11,6% do total sem voto). A atitude, segundo a representação, visou evitar o abuso de direito, uma vez que o fundo tem interesses tanto no comprador quanto no vendedor.
Para Felix, essa situação reforça o risco de o BRB estar integrado a um sistema de intermediação financeira direcionado à lavagem de dinheiro. “Isso significa que a Reag, alvo da Operação Carbono Oculto, detêm interesses de comprador e vendedor na operação entre BRB e Master”, afirma o documento.
Um ponto crítico levantado no documento é a Will Bank, fintech adquirida pelo Master e vista pelo BRB como um ativo estratégico para sua expansão digital entre as classes C e D. A questão, segundo a representação, é que a fintech está inserida no conglomerado de empresas ligadas à Reag e sob investigação por lavagem de dinheiro, o que ameaça a estabilidade financeira de um banco público e, por consequência, o patrimônio do povo do DF. O distrital finaliza destacando que, embora não haja imputação criminal direta ao Banco Master, é necessário ter cautela na análise da compra do Banco Master pelo BRB, solicitando a suspensão da operação até o fim das investigações da Operação Carbono Oculto e a avaliação de riscos ao patrimônio público do Distrito Federal com a incorporação de ativos do banco, além de eventuais informações complementares ao BRB, Banco Central e CVM para garantir a regularidade e a segurança da operação.
A reportagem do Brasil de Fato DF contatou as assessorias de imprensa do Banco Master e do Banco BRB para obter posicionamentos sobre as denúncias, porém, não houve manifestação até a publicação. O espaço permanece aberto.
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Fonte por: Brasil de Fato