“Blank Space” analisa como a nostalgia impulsiona a cultura pop, com reciclagem do passado como estratégia central. Reboots e franquias como Star Wars se sustentam na memória coletiva
O livro “Blank Space”, de David Marx, oferece uma análise perspicaz sobre a dinâmica da cultura pop no século XXI, argumentando que a nostalgia, longe de ser apenas um sentimento passageiro, se tornou um motor fundamental da produção cultural. Marx descreve um cenário onde a reciclagem do passado não é uma mera tendência, mas uma estratégia central, impulsionada por fatores como a acessibilidade digital ilimitada e a busca por autenticidade em um mundo dominado pela cultura “plástica”.
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A indústria cultural, segundo o autor, se aproveitou dessa dinâmica, transformando a nostalgia em um modelo de negócios lucrativo e uma ferramenta algorítmica.
A proliferação de reboots, sequências e turnês nostálgicas, como as de artistas como U2 e Nas, ilustra essa transformação. Franquias como Star Wars, mantidas com investimentos bilionários, não se baseiam na inovação, mas no valor seguro da memória coletiva.
A série Mad Men, por exemplo, explora a estética da nostalgia, retratando a sofisticação visual dos anos 1960 em contraste com o “desleixo da moda moderna”, vendendo o passado como sinônimo de elegância perdida e poder formal.
A influência da nostalgia se manifesta de diversas formas. O uso sistemático de interpolations – trechos e melodias de músicas antigas incorporados a novas faixas – é um exemplo claro. Canções como “Blurred Lines” e “Uptown Funk”, que replicam convenções dos anos 1970 e 1980, não foram percebidas como paródias, mas como o som contemporâneo do momento.
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Essa prática, segundo Marx, evidencia uma “exaustão criativa total”, como se todas as melodias possíveis já tivessem sido escritas.
Diante dessa situação, o autor propõe uma estratégia incomum: abraçar o tédio. Ele argumenta que a saída para a estagnação cultural não está em rejeitar o passado, mas em estudá-lo até o esgotamento total. O tédio, afirma, é um dos “catalisadores mais confiáveis da inovação”.
A ideia parte do reconhecimento de que vivemos em uma era de retromania digitalizada, em que todo o repertório histórico está ao alcance de um clique.
Para Marx, a chave para a inovação reside em uma abordagem disciplinada do cânone cultural. Criadores precisam se engajar com o passado de forma exaustiva, até que suas estéticas antigas percam completamente o apelo. Somente nesse vazio, o autor acredita, poderá surgir algo novo. “A menos que todos adotemos um conjunto mais restrito de novos estilos, o passado ainda é muito legal”, conclui.
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