MP de SP solicitou que a operação no Moinho não fosse comunicada às polícias Civil e Militar
Advogado criminalista considera que tal pedido é raro e indica receio de divulgação de dados.

O Ministério Público (MP) solicitou que os mandados cumpridos na manhã desta segunda-feira (8), na favela do Moinho, não fossem encaminhados precocemente às unidades da Polícia Civil e Militar, conforme o inquérito ao qual o Brasil de Fato teve acesso. Foram executados 10 mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão na comunidade situada no bairro Campos Elíseos, na região central de São Paulo.
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A Promotoria solicitou ao Tribunal de Justiça paulista que as informações fossem compartilhadas exclusivamente ao Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao próprio Ministério Público, por meio de um endereço eletrônico específico. O Ministério Público também requereu que os mandados não fossem cadastrados no Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões (BNMP) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
As solicitações são consideradas incomuns, segundo o advogado criminalista Cristiano Maronna. “Não é comum. Esse procedimento indica que o Gaeco suspeita das polícias e de que se houver compartilhamento pode haver vazamento”, disse. O diretor da Plataforma Justa também explica que esse tipo de solicitação já foi registrado em outras operações, como aquelas ligadas à Lava Jato. “Eles só avisaram quem eram os alvos minutos antes da diligência se iniciar. Mas não é a regra”, acrescenta.
A operação da GAECO nesta segunda-feira focou em membros da família do traficante Leonardo Moja, também apelidado de Léo do Moinho. Ele é considerado o líder do tráfico na área e foi preso preventivamente em agosto do ano passado. No entanto, conforme o Ministério Público, sua prisão não impediu as atividades ilícitas na região.
Léo continuaria sendo responsável por construir um verdadeiro empreendimento criminoso no local, com divisão de tarefas, planejamento de lucros ilícitos, controle territorial, violência, intimidação, imposição da “disciplina” da facção criminosa, além de envolver a corrupção de agentes e a lavagem de capitais.
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Um dos familiares detidos nesta segunda-feira é a irmã de Léo do Moinho, Alessandra Moja, que atuaria como intermediária entre o irmão e o crime organizado. A investigação revelou a atuação de um grupo criminoso que cobraria propinas das famílias beneficiadas pelo acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), condicionando o cadastro e a assinatura à realização de pagamentos à família Moja.
Cada família habitacional pode adquirir um imóvel com até R$ 250 mil na modalidade de compra assistida. O valor inclui um apoio financeiro de R$ 180 mil proveniente do programa federal Minha Casa, Minha Vida e de R$ 70 mil por meio do programa estadual Casa Paulista. As famílias também recebem uma ajuda de aluguel de R$ 1.200 por mês durante o período de transição para a nova residência.
ALESSANDRA coletaria as propinas e outros recursos ilícitos provenientes do controle de LÉO DO MOINHO com o objetivo de lavagem para as empresas Comércio Aparas Papel Liberdade LTDA e Geral Sucatas EIRELI.
Alessandra enviava periodicamente ao irmão fotografias do caderno de fechamento, juntamente com anotações das quantidades de material reciclado comercializadas e o avisava sobre movimentações policiais na área.
O Brasil de Fato pediu esclarecimentos ao Ministério Público em relação aos pedidos apresentados ao Tribunal de Justiça de São Paulo. A reportagem também buscou contato com a defesa da família Moja. Ainda não houve resposta. O espaço permanece aberto para manifestações.
Fonte por: Brasil de Fato