Movimento Grito dos Excluídos e Excluídas em Porto Alegre aponta para projeto popular no Brasil

A soberania, a justiça social, os direitos trabalhistas e a oposição à anistia para golpistas foram expressos pela população nas ruas.

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(Imagem de reprodução da internet).

Mobilizações sindicais e populares tomaram as ruas de Porto Alegre, no domingo (7), com o Grito dos Excluídos e Excluídas, em oposição aos desfiles cívico-miliтаres de 7 de setembro. A manifestação defendeu um projeto popular para o Brasil, com soberania, justiça social, direitos trabalhistas e rejeição à anistia para golpistas.

A manifestação em Porto Alegre integrou-se às demonstrações em âmbito nacional em defesa da soberania, dos direitos e da democracia, com o slogan “sem anistia para golpistas, Bolsonaro na cadeia”. A cerimônia inaugural contou com a apresentação do músico José Martins, do grupo Unamérica, que interpretou canções de luta da América Latina.

Membro do Levante Popular da Juventude, Lucas Monteiro explica que o Grito dos Excluídos e Excluídas é uma ferramenta histórica para os movimentos sociais. “Neste ano estamos com duas pautas importantes: o plebiscito popular pela taxação dos super-ricos e o fim da escala 6×1, e, claro, a defesa da nossa soberania nacional”, declarou.

Ele ressaltou a participação das cozinhas solidárias da Região Metropolitana de Porto Alegre, que estiveram responsáveis pela refeição servida no evento. “Elas são essenciais para o combate à fome, para a segurança alimentar e para garantir que o povo gaúcho possa exercer sua soberania. O Grito é construído por muitas mãos, pela igreja, pelas pastorais, por diversos segmentos, e a gente quer fortalecer e ampliar isso pelo estado.”

A representante do Fórum Sindical e Popular, Vivian Zamboni, ressaltou a contradição entre a data da independência e a realidade social do país. “Sou professora de História, mas preciso ensinar aos meus alunos que, apesar desta data marcar a independência do Brasil, ainda falta muito para a independência do povo brasileiro virar realidade. As desigualdades sociais, a miséria, os baixos salários, a falta de moradia e de saúde pública para todos nos fazem transformar este dia em mais um dia de luta.”

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É necessário combater Trump e a direita radical nas ruas e declarar: sem concessões, prisão dos golpistas. Destacou, ainda, a importância da solidariedade internacional, especialmente na luta dos povos do mundo: “a defesa do povo palestino contra o exército fascista de Netanyahu”.

Defesa da soberania e extinção da escala 6×1

As pautas trabalhistas também marcaram presença. O representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Rodrigo Callais, reforçou a importância da mobilização popular. “Hoje é dia de reafirmarmos a defesa da nossa soberania e da nossa democracia. Lula foi claro: nós não vamos voltar a ser colônia de ninguém. O povo brasileiro vai sair mais forte dessa tentativa de intervenção do imperialismo norte-americano.”

Ele também defendeu pautas do plebiscito popular, como o fim da escala 6×1, a redução da jornada sem corte de salários, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação das grandes fortunas. “Lugar de quem tenta golpe é na cadeia. Bolsonaro e seu filho conspirador nos Estados Unidos precisam estar na prisão. Sem anistia!”

Já o líder da Força Sindical, Cláudio Correa, alertou para a gravidade do momento político. “Nada vai ser fácil, mas nós temos a força da luta dos trabalhadores. Alguém tem dúvida que a eleição no Brasil já começou? Precisamos reagir e trabalhar. Bolsonaro e sua família não vão sair do país de avião, de lancha, de moto. Vão sair dentro de um camburão levados para a prisão”, opinou.

Para ele, o plebiscito popular é uma resposta do país. “Queremos jornada 5×2, queremos isenção até R$ 5 mil e taxação maior acima de R$ 50 mil.”

O presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT/RS), Amarildo Cenci, também se posicionou contra a anistia. “Tem muito traidor e antipatriota que agora quer se livrar com uma anistia sem fundamento. Querem tirar os amiguinhos da cadeia. Mas essa semana eles vão para a prisão, e vai ser bom ver milicão na cadeia junto com Bolsonaro. Nós queremos mais liberdade e melhores condições de trabalho. O fim da escala 6×1 é fundamental. Enquanto a elite trabalha 2 por 5, o povo brasileiro sofre jornadas extenuantes.”

Unidade latino-americana e luta contra o imperialismo

O líder da Intersindical, Neiva Lazzarotto, defendeu a integração latino-americana e criticou a intervenção dos Estados Unidos. “Nossa soberania é popular, das nossas riquezas e do destino da nação. Estamos nas ruas contra qualquer intervenção do imperialismo decadente norte-americano. Precisamos derrotar a escala escravista, derrotar a direita e a extrema-direita. Sem anistia para golpistas, queremos ver Bolsonaro e seus generais na prisão”, declarou.

Ela também reiterou a defesa do serviço público e das estatais. “Possuímos riquezas e terras raras que os Estados Unidos desejam apropriar de nós. Não permitiremos. Mais universidades, mais Petrobras, mais Embrapa para construir um país soberano.”

Dentro da análise internacional e nos impactos na soberania nacional, o dirigente da Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), Alexandre Nunes, criticou empresas multinacionais e o modelo de pejotização. “Trump está de olho na Petrobras, na Amazônia e nas terras raras. Quer intervir na política e tirar Bolsonaro da cadeia. Esse mesmo Bolsonaro responsável pelo genocídio na pandemia e pela reforma da Previdência. Hoje vemos empresas como Uber, Shopee e Mercado Livre lucrando com a pejotização e destruindo direitos históricos. Precisamos dizer: um Brasil soberano é um Brasil sem escala 6×1 e sem pejotização. Isso só será conquistado com unidade independente da classe trabalhadora.”

No contexto, o representante da Pública Central Sindical, Paulo Olímpio, destacou a importância da união. “Aqui não tem servidor ou trabalhador separado, aqui só tem as pessoas que fazem o Brasil andar. Estamos nessa luta pela redução da jornada, pela redução da tributação e contra a destruição do Estado democrático de direito. Fora traidores, cadeia para eles! A sensação é de resistência, porque nossa luta é constante.”

Mobilização contra o capitalismo

Os parlamentares gaúchos intensificaram as críticas levantadas pelas lideranças sindicais. Em nome da direção estadual do PT, a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) destacou a relevância da mobilização popular e da atuação dos partidos. “Reconhecemos o porte da nossa responsabilidade na mobilização do povo brasileiro neste momento crucial”, afirmou.

Para ela, Bolsonaro e a extrema direita representam a “célula do capitalismo neoliberal predador”. Cavedon avalia que a luta deve ser travada pelo povo brasileiro unido com os povos do mundo. “A verdadeira independência é a força das nossas entidades, das instituições, da justiça, da Constituição, se impondo aos golpistas que transformam a vida em dinheiro e privatizam”, declarou.

O vereador de Porto Alegre Roberto Robaina (Psol) comentou sobre a participação da presidente do Psol-RS, Gabi Tolotti, em uma flotilha a Gaza contra o “cerco do Estado de Israel”. Além disso, declarou que o julgamento que está ocorrendo no Supremo Tribunal Federal é uma “vitória democrática histórica” e que “Bolsonaro e generais estejam presos”.

A anistia busca unir a direita e a extrema direita, assegurando a candidatura de Tarcísio. Sabemos que o projeto da burguesia brasileira é aplicar no Brasil o plano que está sendo executado na Argentina, apontou o parlamentar. O legislador criticou o Congresso por articular a anistia e defendeu a mobilização para “derrubar a extrema direita e o neoliberalismo”.

O que se busca é lei de impunidade.

A Guiomar Vidor, pelo PCdoB, foi relembrada a trajetória do partido na defesa da democracia. “Vivemos mais de 40 anos na clandestinidade, perseguidos pelos que hoje falam em anistia. Mas o que eles querem, na realidade, é uma lei de impunidade”, declarou. Ele defendeu a mobilização por avanços no governo Lula, como o fim da escala 6×1 e a taxação de grandes fortunas.

Régis Mansur, do PSTU, propôs a prisão imediata de Bolsonaro e golpistas. “Nosso país nunca foi soberano, é tratado como quintal dos Estados Unidos. A verdadeira soberania só será atingida no socialismo”, declarou. Ele exigiu independência perante o governo Lula: “A independência da classe trabalhadora diante de qualquer governo é o único caminho”.

Críticas ao arcabouço fiscal e defesa da revolução socialista.

O representante do PCBR, Júlio Neto, questionou a soberania do governo. “O Brasil é um capitalismo subordinado ao imperialismo norte-americano. Não existe soberania enquanto se mantiver o arcabouço fiscal e a escala 61”, declarou. Ele defendeu “o fim do peleguismo” e “uma revolução socialista no Brasil”.

O vereador Pedro Ruas (Psol) argumentou que os processos relacionados à tentativa de golpe em 8 de janeiro devem gerar “penas exemplares”. “Vamos demonstrar que não apenas podemos condenar a direita, mas colocar a direita na prisão. Não é prisão domiciliar, é cadeia de verdade”, afirmou. Para ele, “a luta é agora”.

Estavam presentes também a deputada federal Maria do Rosário, o vereador Jonas Reis e o deputado Miguel Rossetto, do PT.

Movimentos sociais na defesa de direitos.

A juventude está nas ruas lutando pela soberania e exigindo a prisão de Bolsonaro e de todos os que retiram direitos do povo. Alegam que a juventude é o futuro, mas o que estamos vivendo no presente? Nada. Estão nos tirando a educação e os direitos. Por isso, hoje a nossa tarefa é mostrar que os verdadeiros patriotas somos nós, que lutamos pelo Brasil estatal, por um país soberano e independente.

O movimento Juntos, João José Eduardo, evidenciou as razões para sua manifestação em 7 de setembro. Para combater a prisão de Bolsonaro e dos golpistas, para se opor à anistia e também para lutar pelo fim da escala 6×1, pela implementação de cotas trans nas universidades, contra o genocídio de negros e indígenas e contra a cultura do estupro. Defender a soberania popular é também defender os povos oprimidos, como a Palestina, massacrada diariamente pelo Estado genocida de Israel.

Pela Jornada Lésbica e do movimento Ocupa Sapatão, Deise Menezes ressaltou a presença do movimento LGBT na luta por soberania. “Nós, lésbicas feministas, sapatão, movimento LGBT, estamos aqui junto com os trabalhadores e trabalhadoras, porque também somos trabalhadores e trabalhadoras. Estamos unidos na luta e vamos firmes para o ano que vem eleger Lula presidente do nosso Brasil. Sapatão também é revolução!”

Ocupações urbanas em defesa da soberania e da Palestina.

O Grito dos Excluídos e Excluídas também evidenciou a luta por direitos humanos como a moradia. O integrante do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Raiê Roca, comunicou que 18 ocupações foram realizadas em território nacional no dia 7 de setembro. Em Porto Alegre, a ocupação ocorreu em um edifício desocupado na rua General Andrade Neves.

Não há independência sem direito à moradia digna. Todas as 18 ocupações levam o nome da Palestina, pois a nossa independência também tem a ver com o apoio à causa palestina. A ocupação recebeu o nome Palestina Livre – Marcela Vive, em homenagem a uma militante falecida recentemente –, explicou.

O secretário-geral da União das Associações de Moradores de Porto Alegre (Uampa) e vereador suplente, Brunno Mattos, recordou que a luta pela soberania se dá pelas comunidades. “Para nós, das periferias, o enfrentamento à extrema direita começa nos territórios, porque é lá que o povo vive, é lá que o povo volta depois do trabalho. É nas associações de moradores, nos clubes de mães e nos projetos sociais que precisamos resistir. O Brasil não vai dar palco para golpistas. A classe trabalhadora precisa garantir seus direitos com organização e participação popular que não se negocia.”

Denúncia de violência contra mulheres em manifestação.

Na ocasião do evento em Porto Alegre, a violência contra as mulheres foi enfatizada por Ângela Rodrigues Garcia, da Marcha Mundial de Mulheres. Ela expôs casos extremos que se verificaram na cidade e questionou o tratamento oferecido pela mídia e pelo Poder Judiciário.

Não se pode ignorar o caso chocante de um indivíduo que se considerava autorizado a esfolar uma mulher e colocá-la em uma mala. Ele já havia assassinado sua própria mãe e estava em regime semiaberto. Contudo, a mídia o tratou com dignidade, como empresário ou publicitário, e não como assassino. Isso é revoltante e repugnante.

Para Garcia, a impunidade fortalece a cultura patriarcal e a violência contra as mulheres. “As mulheres ainda não podem confiar no sistema. Isso precisa ser assunto de toda a sociedade, não apenas nosso”.

Ela também relacionou a luta das mulheres à defesa da soberania e da democracia no país: “Estamos aqui porque isso também está ligado à soberania do país e à defesa da nossa democracia. Queremos prisão para todos os golpistas e terroristas que cometeram atos hediondos, sem anistia! Vamos avançar e recuperar nosso país, que é importante para o mundo inteiro.”

Fonte por: Brasil de Fato

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