Michelsonaro propõe fim do Bolsa Família em 2025

Diplomacia e paz distante: a pressa em culpar a humanidade revela a falta de soluções para a violência.

13/10/2025 21:22

4 min de leitura

Michelsonaro propõe fim do Bolsa Família em 2025
(Imagem de reprodução da internet).

O Julgamento Superficial na Era Digital

Na última semana, testemunhamos a concretização de uma promessa de Donald Trump ao promover o cessar-fogo entre Israel e Hamas, um gesto que gerou debates sobre a possibilidade de um Prêmio Nobel da Paz. A simples circulação dessa informação já desencadeou um julgamento global, não baseado no mérito da ação, mas sim na percepção da figura que a promoveu. Essa dinâmica reflete uma mudança profunda na forma como processamos informações e formamos opiniões.

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A Cultura da Reação

Vivemos em uma época em que a reflexão foi substituída pela reação. Anteriormente, era necessário conhecer um assunto para poder opinar; hoje, basta um fragmento de notícia, uma manchete ou uma imagem para sentir antipatia. Criamos uma cultura onde reagir é mais fácil do que compreender, transformando o engajamento em entretenimento moral. O julgamento se tornou um passatempo, enquanto a compreensão se torna um esforço em extinção.

O Sintoma da Ansiedade

A pressa em formar opinião é o sintoma mais evidente da ansiedade. O cérebro, antecipando o perigo, libera cortisol e ativa o sistema de alerta. Esse mecanismo de sobrevivência, essencial em situações de emergência, define o que chamamos de posicionamento. O ansioso antecipa tragédias, o preconceituoso antecipa culpas, e ambos agem movidos pelo medo.

A Ironia do Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel da Paz, criado por Alfred Nobel, o inventor da dinamite, que leu seu próprio obituário por engano, se tornou a ironia perfeita. Nobel decidiu usar a culpa como herança, criando o prêmio para homenagear quem fizesse o oposto do que ele fez: construir em vez de destruir. O prêmio que nasceu da destruição se tornou o símbolo da reparação.

Explosões e Falta de Empatia

O problema reside no fato de que seguimos explorando, apenas trocando armas. Hoje, um tweet é um ataque, e um feed é um campo de guerra. Explodimos primeiro, ferimos e não nos preocupamos com as consequências. A ironia é que deixamos um legado de explosões, sem a capacidade de ver ou sentir a tristeza provocada. A empatia desapareceu com a cultura do narcisismo.

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Neurociência e Vício em Julgamento

A neurociência confirma o que a internet reforça: quando nos indignamos, o sistema límbico assume o comando, silenciando o raciocínio. Cada curtida é uma dose de dopamina, cada crítica, uma descarga de poder. Julgar se tornou o novo vício social. A raiva dá sentido, a dopamina recompensa, e o ciclo de indignação continua.

Projeções e a Busca por Certeza

Freud dizia que projetamos no outro aquilo que não suportamos enxergar em nós. Por isso, criticar o outro traz alívio, é o nosso medo sem olhar no espelho. Somos perfeitos? A raiva é apenas a ansiedade que aprendeu a falar alto. Nas relações, repetimos o mesmo script: discutimos para vencer, não para entender. Criamos muros de opinião onde antes existiam pontes de vínculo.

A Política como Espelho

A política é o espelho ampliado desse comportamento. Queremos líderes que digam o que pensamos, não que nos façam pensar. Desejamos paz, mas sem o desconforto da escuta. Buscamos harmonia, desde que o outro se cale primeiro. A paz não nasce de discursos; exige o intervalo entre o estímulo e a resposta, o espaço onde a raiva se dissolve e o diálogo começa.

O Prêmio da Autocontrole

Alfred Nobel criou o prêmio para transformar culpa em consciência. Um século depois, o que era símbolo de reparação se tornou palco de vaidades. Um novo prêmio da paz precisa ser criado: ele pertence a quem consegue se conter antes de reagir. Esse autocontrole é o que mais falta nas relações reais. Criamos vínculos digitais com quem parece pensar como nós e chamamos isso de afinidade. Mas talvez seja apenas uma solidão bem disfarçada.

Tempo, Escuta e Aceitação

A paz, em qualquer escala, é filha do tempo e da escuta. Exige o intervalo, o respiro, o não saber. E talvez o maior desafio do nosso tempo seja aceitar o que nos falta. No final, a pergunta persiste: mas quem está certo?

Onde todos, finalmente, aprendemos a concordar em discordar.

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