Maria Rita: uma trajetória de luta, educação popular e transformação social
O certificado para a lavadeira será mais um meio de luta.

Maria Rita Rosa dos Santos, apelidada de Irmã Rita no Alagoão, representa resistência, sabedoria e inspiração para as mulheres camponesas do Brasil. Sua história combina fé, luta e educação popular, demonstrando o impacto positivo da organização em grupo.
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Aos 13 anos, já adolescente, Irmã Rita iniciou sua participação nas lutas sociais em Sergipe, estado onde desenvolveu sua infância e juventude. Foi nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que ela deu início à sua militância, em um cenário caracterizado pela mobilização popular contra a ditadura militar e pela retomada dos direitos civis do povo brasileiro.
Com a retomada da democracia e a implementação da Constituição Federal de 1988, Maria Rita iniciou suas atividades em Alagoas, consolidando a organização das Mulheres Trabalhadoras Rurais e da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Seu nome “Irmã Rita” decorreu do contato com freiras da Teologia da Libertação, com quem compartilhou experiências e compreendeu a relevância da mobilização, capacitação e luta das mulheres do campo. Posteriormente, recebeu o nome de Irmã Rita de Murici, em homenagem à região onde exerce suas funções.
Em 2004, integrou a consolidação das articulações que levaram à criação oficial do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), durante o 1º Congresso Nacional do Movimento – um marco histórico na luta por autonomia, dignidade e direitos das mulheres rurais.
Localizada na reforma agrária do Assentamento Dom Helder Câmara, Irmã Rita é uma educadora popular dedicada à formação política e social das mulheres do campo. Sua atuação se destaca pela defesa da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), da alimentação saudável, da saúde natural, das plantas medicinais e das sementes crioulas, o que a motivou a buscar formação técnica em alimentos.
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Na terça-feira passada (9), aos 53 anos, foi realizado um sonho de longa data: a conclusão do Ensino Médio Técnico em Alimentos pelo Instituto Federal de Alagoas (Ifal), campus Murici. A cerimônia de formatura foi vista como uma vitória compartilhada, representando um símbolo da luta popular alagoana e do MMC, que há décadas promove a emancipação feminina no campo. “Quando uma mulher avança, o mundo avança junto”, afirmou.
Na cerimônia, suas palavras tocaram profundamente a todos: “Às vezes lutamos pela liberdade e pelos direitos das companheiras, e nos realizamos quando as jovens conseguem aquilo que não tivemos. Mas às vezes é preciso também garantir nossos próprios sonhos. Eu tinha o sonho de me formar para poder ocupar espaços que nos são negados pela vida, só porque não temos um diploma. Hoje saio desta celebração com a formatura no coração e nas mãos. É uma conquista minha e do MMC-AL, pois esse movimento é nossa vida!”
A trajetória de Maria Rita representa um chamado à esperança e à ação. Através dela, diversas mulheres camponesas se identificam e se sentem motivadas a participar de processos de formação, liderança e transformação. Conforme a música que acompanha tantas lutas do povo: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas se sonhamos juntas, é realidade”.
Edcleide da Rocha Silva é doutoranda em Educação na UFAL e ativista do MMC-AL.
Este é um artigo de opinião e não reflete a orientação editorial do.
Fonte por: Brasil de Fato