Lobras e Lojas Americanas anunciam o encerramento das operações em 1999. A crise e a concorrência marcaram o fim de uma era no varejo brasileiro.
Em 29 de julho de 1999, dois grandes nomes do comércio brasileiro anunciaram o encerramento de suas operações. No mesmo dia em que a Justiça decretava a falência da Lojas Brasileiras — conhecida como Lobras — a rede Lojas Americanas também comunicava o fim de suas atividades em todo o país.
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A notícia, sem grandes explicações ou planos de reestruturação, marcou o fim de uma era no varejo popular brasileiro. Apenas uma nota oficial confirmava o fim de uma rede que, em seu auge, havia alcançado mais de 300 lojas e competia diretamente com a Lojas Americanas pela preferência do consumidor.
A Lobras foi fundada em 1944 por Adolfo Basbaum, um imigrante judeu originário da Polônia. A empresa surgiu com a proposta de oferecer produtos variados a preços acessíveis, atendendo à crescente classe média emergente do país. O modelo de negócios da Lobras era inspirado no sucesso da Lojas Americanas, que já operava no mercado brasileiro desde alguns anos antes.
A estratégia se mostrou eficaz, permitindo que a marca se expandisse para pelo menos 20 estados, com forte presença em centros urbanos e foco em produtos de giro rápido, como material escolar, brinquedos, utensílios domésticos, roupas e eletrodomésticos.
A marca se tornou um nome familiar nas grandes cidades, competindo de igual para igual com a Lojas Americanas.
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No entanto, no final dos anos 1990, a Lobras enfrentou uma forte crise de identidade, estrutura e modelo de negócios. A recessão econômica que se seguiu à crise cambial de janeiro, que resultou em perdas de 21 milhões de reais no primeiro trimestre, agravou a situação.
A empresa enfrentava a concorrência de drogarias, supermercados e lojas de conveniência, além da competição informal dos ambulantes. A gestão centralizada e as margens de lucro baixas também contribuíram para os problemas. A hiperinflação da época, que durou até 1994, também impactou negativamente a empresa.
A tentativa de reverter o quadro, que incluiu a retirada de seções como produtos de limpeza e a introdução de eletrônicos, como TVs e aparelhos de som, não funcionou. Segundo o diretor de relações com o mercado, Cássio Romano, a empresa enfrentava prejuízos desde 1996.
A venda de 319 milhões de reais em 1998, com um prejuízo de 56 milhões, e a perda de 21 milhões no primeiro trimestre de 1999, tornaram o encerramento inevitável. A empresa acumulava dificuldades desde 1996.
Apesar dos resultados negativos, o diretor afirmou que a rede não estava endividada com bancos ou fornecedores e ainda era dona de 39 dos 63 imóveis onde operava, o que dava fôlego patrimonial. A decisão de encerrar as atividades foi tomada dois meses antes do anúncio oficial e envolveu diálogo com sindicatos para garantir o pagamento dos direitos dos mais de 2.000 funcionários demitidos.
Cinco lojas já haviam sido fechadas no mês anterior. A empresa havia amadurecido a decisão, que refletia a incapacidade de se adaptar às mudanças do mercado.
A Lobras era controlada pelo grupo Begold, da família Goldfarb — também dona das Lojas Marisa — e foi comprada em 1980 e abriu capital nos anos seguintes. Com o tempo, a empresa foi sendo deixada de lado em favor do crescimento da Marisa, focada em moda feminina e com maior capacidade de adaptação ao novo varejo.
O encerramento das atividades da Lobras em 1999 representou o fim de uma era no varejo brasileiro, marcado por desafios de adaptação, estratégias falhas e a crescente competição no mercado. A história da Lobras serve como um exemplo de como a capacidade de inovação e a adaptação às mudanças do mercado são cruciais para a sobrevivência de qualquer empresa.
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