Futuro do trabalho: Essência humana em tempos de automação. CEOs e líderes discutem o que resta para os humanos em um mundo dominado por máquinas e inteligência artificial
Em um tempo recente, “fazer o básico” era suficiente para uma carreira sólida. A rotina, funções previsíveis, modelos estabelecidos e caminhos lineares eram a norma. Esse cenário mudou drasticamente. O “suficiente” deixou de ser aceitável, com a automação, inteligência artificial e digitalização avançando em ritmo acelerado, assumindo tarefas antes exclusivas dos humanos.
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Essas tecnologias já convivem conosco e, em breve, integrarão as equipes lideradas por nós. Lideraremos pessoas, algoritmos, sistemas e inteligências artificiais, substituindo grandes partes do trabalho cognitivo, analítico e até mesmo relacional.
Diante dessa transformação, a pergunta que me acompanha, e que guia conversas com CEOs, conselhos e equipes de liderança, é fundamental: o que resta para nós quando as máquinas fazem quase tudo? A resposta, para mim, é clara: permanece tudo aquilo que é inerentemente humano, e isso de forma excessiva.
A tecnologia representa o “como” da mudança, enquanto nós representamos o “porquê”. Esse “porquê” nasce da nossa imaginação, criatividade, sensibilidade moral, inquietação interna, contradições, capacidade de atribuir significado às coisas, indignação, insurgência e cuidado uns com os outros. É aqui que reside a contribuição humana essencial para o futuro do trabalho.
A imaginação é o ponto de partida de tudo, a faculdade de criar imagens de coisas que ainda não existem. A criatividade transforma essa imaginação em possibilidade concreta, a inovação, em impacto real, e o empreendedorismo, em lançar essa inovação no mundo, enfrentando riscos e incertezas.
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Uma máquina pode replicar padrões, mas não pode romper com eles. Pode prever o futuro, mas não pode desejar um futuro diferente. A criatividade humana surge do espanto, do incômodo, do conflito, da inquietação e, como sempre digo, das nossas “cinco forças”: a impaciência, a inquietação, o inconformismo, a indignação e a insurgência.
Nenhum algoritmo sente desconforto. Nenhum sistema perde o sono porque algo o tocou profundamente. Nós perdemos, e é justamente isso que nos move.
Existe uma dimensão ainda mais profunda que apenas nós carregamos: a imaginação moral. Máquinas não atribuem dignidade às relações humanas, não compreendem o impacto emocional de uma decisão, não percebem o que se passa no silêncio de uma sala, não reconhecem a diferença entre fazer o correto e fazer o justo.
A autonomia moral é uma exclusividade humana, permitindo-nos manter conversas difíceis, sustentar posições impopulares, defender pessoas vulneráveis, decidir não pelo caminho mais eficiente, mas pelo mais humano. É ela que nos torna líderes, e não gestores de processos.
Somos seres que vivem histórias, e o trabalho, longe de ser apenas uma atividade técnica, é o enredo de quem nos tornamos enquanto contribuímos.
A segurança psicológica, como Amy Edmondson demonstra, nasce de relações humanas, não de algoritmos. É a coragem coletiva de tentar o que ninguém tentou, de discordar com respeito, de experimentar sem medo e de sustentar as tensões criativas que fazem o novo emergir.
Além disso, existe uma dimensão espiritual — não religiosa, mas existencial — que só nós possuímos: o desejo de contribuir para algo maior do que nós mesmos. Trabalhamos para sobreviver, mas nos dedicamos para significar. Adam Grant afirma que o desempenho humano cresce exponencialmente quando sentimos que nosso trabalho ajuda alguém de verdade.
O propósito não é um atributo técnico; é um atributo humano. Uma máquina não se pergunta se está contribuindo para o mundo, mas nós sim. E essa pergunta nos move mais do que qualquer diferencial existencial.
No Brasil, pesquisadores como José Pastore e estudiosos do futuro do trabalho já apontam que as competências que sobreviverão à automação são as relacionais, afetivas, interpretativas e moralmente complexas. No exterior, estudos de Harvard, Stanford, MIT e McKinsey convergem para o mesmo diagnóstico: o diferencial humano nos próximos anos não será técnico, será existencial.
Continuará sendo valioso tudo aquilo que exige sensibilidade, empatia, visão sistêmica, pensamento crítico, comunicação inspiradora, colaboração profunda, capacidade de lidar com ambiguidade, maturidade emocional e discernimento ético. E é justamente isso que nos tornará insubstituíveis.
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