Guarda Municipal realiza reintegração de posse em local público e artistas se opõem

Artistas se manifestaram no local, promovendo uma breve apresentação em protesto à ação; o terreno pertence ao município.

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(Imagem de reprodução da internet).

Na terça-feira (19), o Teatro de Contêiner Munguzá, situado no centro de São Paulo, foi palco de uma ação de reintegração de posse. O espaço, abandonado por anos, é uma ocupação artística, cultural e social iniciada em 2017, em uma área com alta vulnerabilidade social, onde muitas pessoas residem e transitam.

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Com 11 contêineres montados no espaço, o teatro recebeu prêmios e desenvolveu aproximadamente quatro mil atividades artísticas ao longo de nove anos. Imagens divulgadas no perfil do Instagram do espaço na tarde de terça-feira mostram agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) entrando no prédio e removendo os artistas, utilizando força. Uma profissional que trabalha na companhia aborda um dos agentes que se aproxima dela. “Vocês são policiais? Não são? Não são nem policiais femininas.”

Carmen Lopes, coordenadora do grupo Tem Sentimento, relata que os agentes invadiram o prédio para acessar o teatro. Ela informa que, ao chegarem lá, foi declarado que o local seria utilizado e que o grupo iniciou a remoção de objetos, o que gerou o tumulto, com o uso de spray de pimenta, sendo os primeiros a intervir, o pessoal da prefeitura e, em seguida, a GCM.

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Pessoas protestavam do lado de fora contra a ação da PM. “Covardes”, gritavam os manifestantes.

O ator e produtor Marcos Felipe, integrante e um dos fundadores da Cia Mungunzá de Teatro, declarou, em vídeo, que a instituição está sofrendo uma reintegração de posse truculenta no governo do Estado de São Paulo, com o objetivo de dizimar o Teatro de Contêiner Mungunzá, devido à realização de um evento que contará com a presença do governador e do prefeito, buscando demonstrar que a cracolândia foi eliminada.

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Uma forte manifestação espontânea em oposição à ação dos gestores municipais ocorreu no início da noite, com a presença de artistas, lideranças políticas e apoiadores da causa, que permaneceram do lado fora, porém dentro do espaço, como um ato de resistência.

O ator e co-fundador da Cia Munguzá de Teatro, Leo Akio, informa que há uma disputa judicial em andamento e que a companhia busca um período adicional para a desocupação do imóvel. Essas negociações foram interrompidas pelo poder público. “O novo prazo que garantia 15 dias venceria na quinta-feira. Nós defendemos um prazo maior, solicitamos apoio a parlamentares e até ao governo federal. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, enviou um ofício ao prefeito Ricardo Nunes, solicitando mais de 120 a 180 dias, pois o governo federal também deseja solucionar essa questão e pediu essa extensão”, relata.

Akio explica: “Isto ocorreu hoje, na terça-feira, às 12h, quando já havia uma ‘mão oficial’ aqui com um processo informando que o nosso pedido fora indeferido, então já estava tudo mais organizado.”

A vereadora Luana Alves (Psol-SP) afirma que a Prefeitura de São Paulo promoveria um evento nesta quarta-feira no local e acredita que a reintegração antecipada esteja relacionada a isso. “Havia toda uma estrutura para evento, com tenda montada, cadeiras, para esse evento. Agora, depois da resistência, tudo está sendo desmontado. Para mim mostra que foi uma ação bizarra. O ataque ao teatro tem a ver com esse evento de amanhã, embora eles [poder público] neguem isso. E eu vou fazer um requerimento ao município para saber quanto custou essa montagem e essa desmontagem”, afirmou.

O lote municipal ficava próximo à área onde ocorria a concentração da Cracolândia, desativada em 13 de maio, em razão das ações de repressão da GCM.

O edifício alvo de reintegração, que forma a estrutura do Teatro do Contêiner, encontra-se trancado e sob vigilância da GCM. A reportagem do Brasil de Fato, artistas relataram temer possíveis novas ações de repressão nas próximas horas.

Mercado imobiliário especulativo

Em maio, a prefeitura de Ricardo Nunes (MDB) notificou extrajudicialmente os artistas do Teatro de Contêiner Mungunzá, estabelecendo um prazo de 15 dias para a retirada da área, situada na região da Luz, no Centro de São Paulo (SP). O grupo contestou a decisão com o apoio da Defensoria Pública, buscando mais tempo para organizar apoios e estratégias de permanência.

Outro lado

A reportagem do Brasil de Fato contatou a assessoria de imprensa da GCM e indagou sobre a truculência da ação de terça-feira. Em comunicado, a GCM confirmou que realizou uma “operação na Rua dos Protestantes para a desocupação de um imóvel localizado ao lado do Teatro de Contêineres”. O edifício, que está interditado e será demolido pela Prefeitura de São Paulo, foi invadido por um grupo de pessoas que utilizava um acesso clandestino proveniente do terreno do teatro. Diante da invasão e da recusa em desocupar o imóvel, foi necessária uma intervenção por parte das forças de segurança. O local permanece trancado e preservado.

Fonte por: Brasil de Fato

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