O presidente Lula descreve tarifaço dos EUA como “desafio inédito”. Trump defendia “amor” por tarifas para indústria americana. EUA atingiram déficit comercial de US$ 918,4 bilhões em 2024. Brasil busca novos mercados após política protecionista de Trump
Em seu pronunciamento de véspera de Natal, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), descreveu o tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra o Brasil como um “desafio inédito”. A medida, imposta pelo então presidente norte-americano Donald Trump, impactou economias de todo o mundo, mas especialmente a do Brasil, que viu suas economias serem afetadas pelas tarifas de importação.
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Desde a campanha presidencial, Trump enfatizava o “amor” pela palavra “tarifas”, argumentando que a medida favoreceria a produção de manufaturados no país e reduziria o déficit da balança comercial dos EUA. Trump acreditava que a indústria americana havia entrado em declínio, dependendo excessivamente de importações de todo o mundo.
Essa postura, segundo ele, resultava em um país exportador que comprava mais do que vendia.
Em 2024, o déficit comercial dos EUA atingiu US$ 918,4 bilhões, um aumento de US$ 133,5 bilhões (17%) em relação a 2023, conforme dados do BEA (Departamento de Análise Econômica) e do Departamento do Censo dos EUA. Essa situação intensificou as tensões comerciais entre os países.
Após retornar à Casa Branca, Trump solicitou estudos para avaliar o “desequilíbrio comercial” e as relações injustas entre os EUA e seus parceiros. O Brasil, em particular, foi alvo das políticas protecionistas republicanas. O “tarifaço”, como ficou conhecido, foi lançado pelo presidente Trump como o “Dia da Libertação”.
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Inicialmente, os envios mensais do Brasil aos EUA se recuperaram da pandemia, atingindo um pico de US$ 4 bilhões em junho de 2022, mantendo-se em torno de US$ 2,5 bilhões e US$ 3,5 bilhões, dependendo do mês. No entanto, a partir de julho de 2022, as exportações brasileiras aos EUA caíram para US$ 2,2 bilhões em outubro e apresentaram uma leve recuperação em novembro.
Dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) indicaram que, em relação a 2024, os Estados Unidos se mantiveram como o principal destino do café exportado pelo Brasil nos primeiros 11 meses de 2025. Já as exportações de produtos de madeira do Brasil para os Estados Unidos, segundo análise da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente), com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), incluíram óleos brutos de petróleo, ferro e aço, aeronaves, café, e celulose.
Além destes, diversos setores menores, apesar de não terem envios expressivos, dedicavam a produção ao mercado americano.
A aplicação da alíquota de 50% em agosto, juntamente com o ataque do presidente Trump ao Supremo Tribunal Federal, intensificou a politização do debate. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo, que estava nos EUA buscando articulação com a direita estrangeira, defendeu que o tarifaço veio como uma medida para proteger a indústria americana.
Paralelamente, o governo brasileiro articulou-se para mitigar os impactos, buscando novos mercados em países como Arábia Saudita, Vietnã e Singapura.
Em 14 de novembro, para uma série de produtos agrícolas comprados pelos EUA, o governo brasileiro suspendeu a cobrança adicional. A medida, válida retroativamente a 13 de novembro, contemplou mais de 200 produtos brasileiros. O Itamaraty justificou a decisão como uma resposta pragmática ao tarifaço.
Roberto Uebel, economista e professor de Relações Internacionais na ESPM, considerou a medida como um canal de diálogo entre os governos de Lula e Trump. Emanuel Pessoa, especialista em direito econômico internacional, destacou a importância da mobilização de empresas americanas com operações no Brasil, criando uma frente empresarial que pressionou Washington contra as tarifas.
Segundo a Amcham Brasil, 21 setores apresentaram retração nas vendas para os EUA entre agosto e novembro de 2024. Uebel acredita que podemos esperar um caminho para a volta à normalidade das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, mas frisou a importância de o Brasil procurar novos mercados alternativos.
Pessoa argumenta que a lição que fica do tarifaço é a instabilidade que pode afetar o mercado brasileiro, e que os investidores brasileiros enfrentaram três ondas de impacto. Uebel aponta que os efeitos que ficaram para o Brasil foram predominantemente conjunturais, mas com lições estruturais importantes.
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