A Frente Negra Gaúcha (FNG) promove a seleção de facilitadores(as) para o Programa Potências Negras, que visa à capacitação e ao fortalecimento de lideranças negras em áreas periféricas do Rio Grande do Sul, com foco em conscientização racial, formação política e participação cidadã.
As inscrições, direcionadas a empresas com experiência em letramento racial, educação política e formação de lideranças negras, encerram-se às 23h59 do dia 17 de agosto de 2025, por meio de e-mail (frentenegragaucha.diretoria@gmail.com), em conformidade com o Edital 02/2025.
A iniciativa é viabilizada pela emenda parlamentar nº 43320008, da deputada federal Daiana Santos (PCdoB), e integra a proposta nº 005612/2024, com foco em fortalecer a atuação cidadã e política de pessoas negras em comunidades periféricas do estado. O edital completo está disponível no site.
Quem pode se inscrever
Empresas com profissionais negros e negros qualificados em áreas como ciências humanas, ciências sociais aplicadas, linguística, letras, artes e áreas correlatas, com experiência na formação de jovens e adultos e atuação em educação antirracista, podem se candidatar. Serão considerados diferenciais pós-graduação em estudos raciais, direitos humanos ou educação, conhecimento da realidade racial no Rio Grande do Sul e experiência prévia em projetos sociais ou organizações voltadas à igualdade racial.
Estrutura do programa
O Potências Negras será ministrado em dois módulos formativos, Letramento e Consciência Racial e Formação Política Negra. Cada módulo terá 12 horas/aula (8 presenciais e 4 online), com remuneração de R$ 10.000,00, distribuída por tópicos. Os facilitadores serão responsáveis por ministrar aulas, desenvolver materiais didáticos, participar de reuniões técnicas e aplicar metodologias alinhadas à pedagogia antirracista e à educação popular.
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O curso acontecerá em Porto Alegre e reunirá aproximadamente 50 participantes, incluindo lideranças e ativistas negros já atuantes em seus territórios. Os conteúdos abordarão participação política, justiça racial, comunicação política e estratégias de mobilização, valorizando as trajetórias e saberes da população negra. A seleção ocorrerá em duas etapas: análise de currículos/documentação e entrevistas online com banca avaliadora externa. Os critérios levarão em conta os objetivos do projeto, equidade racial, justiça social e valorização da diversidade.
Educação como instrumento de emancipação.
Para o coordenador Técnico Pedagógico do programa, professor Juliano Guedes, Potências Negras surge em um cenário onde negros e negras representam 56% da população brasileira e 21% no Rio Grande do Sul, porém permanecem sub-representados nos espaços de poder e tomada de decisão. “Esta situação sempre nos impôs uma resposta. Potências Negras é uma iniciativa concreta de articulação de medidas urgentes e estratégicas, em parceria com diversos setores da sociedade, com o objetivo de desmantelar a estrutura que sustenta essas desigualdades raciais”, detalha Guedes ao Brasil de Fato RS.
Segundo ele, a questão racial é central também como questão econômica. “A maioria da população negra é alijada das condições de consumo e renda, que são concentradas por uma elite minoritária do Brasil. É preciso instrumentalizar a população negra com conhecimento sobre sua própria história, entender como o racismo estrutura o país e, a partir disso, criar caminhos para disputar e ocupar espaços representativos.”
O coordenador explica que a proposta é criar comunidades e áreas periféricas, fortalecendo os aspectos sociais e econômicos, a fim de diminuir as desigualdades e formar uma nova consciência social, que, segundo ele, é a condição fundamental para ocupar espaços de poder, alcançar maior equidade e promover a emancipação e o protagonismo. “É um processo formativo amplo, que combina conhecimento científico, técnico e comunitário, sempre em diálogo com os movimentos sociais, instituições da cultura afro-brasileira e os poderes locais.”
Módulos adicionais
Sobre os módulos, Guedes explica que o letramento e a consciência racial são onde tudo começa: é conhecer a própria história, entender como o racismo funciona e reconhecer que ele não é algo isolado, mas parte da estrutura do país. “É desenvolver a capacidade de identificar e enfrentar as desigualdades, rompendo com o mito da democracia racial e, além disso, é um compromisso com a luta antirracista”.
A organização política negra busca transformar essa consciência em ação concreta: aprender a utilizar os instrumentos da política, contestar narrativas, ocupar espaços e propor soluções. “Formar pessoas negras preparadas para influenciar decisões, seja na comunidade, nas organizações ou no Parlamento. Sem consciência, a ação perde direção; sem ação, a consciência não se transforma em mudança.”
O contexto no Rio Grande do Sul.
Apesar da Lei 10.639, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, observa-se pouca adesão e aplicação correta. Isso indica que não é suficiente ter legislação: é imprescindível a vontade política, formação adequada e transformação cultural, segundo o coordenador.
Na cultura gaúcha, a população negra corresponde a 21%, evidenciando estatísticas de desigualdade e violência, incluindo o aumento de ocorrências e um recorde de denúncias de casos de racismo. O letramento racial atua como um remédio contra a naturalização dessas disparidades.
Destaca-se que a política negra no estado necessita de lideranças preparadas para disputar narrativas, assumir cargos e elaborar políticas públicas. “É justamente isso que os módulos do Potência Negras se propõem a fornecer: consciência histórica, capacidade de articulação institucional e mobilização comunitária.”
As Potências Negras não é um curso qualquer, é uma estratégia para transformar realidades. A cada edição, formamos lideranças com conhecimento, consciência e ferramentas para agir. Mais do que ocupar espaços, almejamos abrir caminho para que outros e outras também ocupem. Nosso objetivo é simples e ousado: construir uma rede de lideranças negras capazes de transformar comunidades, políticas e instituições, tornando o Rio Grande do Sul e o Brasil mais justos e iguais.
Fonte por: Brasil de Fato