Estudos brasileiros identificam exame de sangue para diagnóstico precoce de Alzheimer

Cientistas brasileiros identificam exame de sangue promissor na detecção de doença; pesquisa pode ser integrada ao SUS em breve.

16/10/2025 9:10

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Estudos brasileiros identificam exame de sangue para diagnóstico precoce de Alzheimer
(Imagem de reprodução da internet).

Novo Exame de Sangue Promissor no Diagnóstico do Alzheimer

Estudos recentes conduzidos por cientistas brasileiros revelaram um exame de sangue com grande potencial para o diagnóstico precoce do Alzheimer. As análises apontaram que a proteína p-tau217 se destaca como o principal biomarcador, permitindo distinguir indivíduos saudáveis daqueles com a doença. O objetivo das pesquisas, apoiadas pelo Instituto Serrapilheira, é levar essa tecnologia para o Sistema Único de Saúde (SUS) para uso em larga escala.

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Diagnóstico Aprimorado e Desafios no SUS

Segundo Eduardo Zimmer, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o apoio do instituto, atualmente existem dois exames capazes de identificar o Alzheimer: o exame de líquor, um procedimento invasivo que envolve a punção lombar, e o exame de imagem (tomografia). Antes disso, a única forma de detectar a possibilidade da doença era o exame clínico, realizado por um neurologista com base nos sintomas do paciente.

Biomarcador Promissor e Revisão Internacional

“Tanto o exame de líquor quanto a tomografia podem ser solicitados pelo médico para o diagnóstico da doença de Alzheimer assistido por biomarcadores. O principal desafio é como implementar esses exames em larga escala, considerando o tamanho do Brasil e a dependência do SUS. Uma punção lombar requer infraestrutura, experiência e geralmente é realizada por neurologistas. Já o exame de imagem é caro demais para ser utilizado em todo o país”, afirmou Zimmer. A pesquisa, assinada por 23 pesquisadores, incluindo oito brasileiros, analisou mais de 110 estudos com cerca de 30 mil pessoas, confirmando a eficácia do p-tau217 no sangue como biomarcador.

Confiabilidade e Impacto Socioeconômico

Os resultados obtidos em análises de 59 pacientes apresentaram alta confiabilidade, acima de 90%, padrão recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao mesmo tempo, um grupo de pesquisadores do Instituto D’Or e da UFRJ, com a participação de Sérgio Ferreira, Fernanda De Felice e Fernanda Tovar-Moll, obtiveram resultados semelhantes. “São duas regiões diferentes do país, com características genéticas e socioculturais distintas, e o exame funcionou muito bem”, destacou Zimmer.

Desafio do Diagnóstico Precoce e Fatores de Risco

Atualmente, o diagnóstico precoce da doença de Alzheimer é um dos principais desafios de saúde pública no mundo. Aproximadamente 57 milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de demência, sendo que pelo menos 60% têm o diagnóstico de Alzheimer. No Brasil, o Relatório Nacional sobre Demência de 2024 estima cerca de 1,8 milhão de pessoas com a doença, com previsão de triplicar esse número até 2050. O estudo também identificou que a baixa escolaridade parece acentuar a doença, reforçando a hipótese de que fatores socioeconômicos e educacionais impactam no envelhecimento do cérebro. “A baixa escolaridade é um fator de risco muito importante, ficando acima da idade e sexo”, ressaltou Zimmer.

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Tecnologia no SUS e Próximos Passos

Embora o exame de sangue já seja uma realidade na rede privada (com testes como o americano PrecivityAD2 custando até R$ 3,6 mil), sua alta precisão e custo elevado reforçam a importância de desenvolver uma alternativa nacional e gratuita. O pesquisador explicou que, para que o exame chegue ao SUS, é preciso entender sua performance e estabelecer uma estratégia de inclusão. “Precisamos de várias avaliações para entender onde as análises serão feitas, quando esses exames vão ser utilizados, que população será beneficiada, se vai acelerar ou não o diagnóstico no SUS”, disse Zimmer. A pesquisa foi publicada na revista Molecular Psychiatry e reforçada em revisão internacional no periódico Lancet Neurology.

Estudos em Fase Inicial

Antes de chegar a essa etapa, os estudos começarão com indivíduos com mais de 55 anos, buscando mapear a fase pré-clínica da doença, quando os sintomas ainda não aparecem. “Vamos começar os estudos com indivíduos com mais de 55 anos, porque sabemos que existe uma fase que a gente chama de pré-clínica da doença de Alzheimer, que é quando a doença começa a se instalar, mas o indivíduo ainda não tem sintomas. A ideia é conseguirmos mapear também a prevalência desses indivíduos”, acrescentou Zimmer.

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