O estande do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), no Pavilhão Internacional da 48ª Expointer, promoveu nesta semana um debate sobre as mudanças climáticas e seus impactos na produção rural. O painel compreendeu três palestras que apresentaram dados sobre prejuízos em infraestrutura, perdas econômicas e alternativas de adaptação. Participaram o superintendente do Mapa no Rio Grande do Sul, José Cleber Souza, e o diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Clenio Pillon, além de consultores e pesquisadores.
Precisamos ajustar os cultivos e as produções às novas condições climáticas. Este conjunto de estudos tem o objetivo de coletar dados e informações que permitam avaliar a trajetória e propor novas ações, que integrem as esferas pública e privada nos diferentes níveis, afirmou Souza. Ele ressaltou ainda a importância de “somar forças para atuar de forma conjunta, identificar lacunas de conhecimento e implementar mudanças nas práticas agropecuárias, mitigando as causas e adaptando a produção agropecuária às novas condições”.
Clenio Pillon destacou os ensinamentos decorrentes da crise climática de 2024. “Não há soluções simples para problemas complexos. Necessitamos de uma integração adequada entre conhecimento, tecnologia, coordenação e governança”, afirmou. O pesquisador também enfatizou que o Brasil é referência em tecnologia de agricultura conservacionista, mas lançou um questionamento: “O que impede que os agricultores implementem essas soluções?”.
Estudos sobre os impactos
O geógrafo Henrique Cunha, consultor do Mapa/RS, apresentou dados sobre os danos à infraestrutura viária. Segundo ele, nas regiões imediatas de Cachoeira do Sul e São Borja, entre 80,9% e 85,5% da malha vicinal foi danificada. Já nas regiões de Santa Maria, Erechim, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Sobradinho e Encantado, mais de 76 pontes foram destruídas em cada uma. “Foi possível classificar cada região imediata considerando a intensificação dos danos pelas características de relevo e precipitação pluvial intensa. Nas planícies fluviais, foram apresentadas inundações, e no relevo mais acidentado erosões pontuais”, explicou.
Cunha mencionou, entre os impactos diretos, o isolamento de comunidades rurais e urbanas, bem como o atraso logístico que afetou o escoamento de produtos agrícolas e o transporte de materiais.
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A economista Bruna Campos, também consultora do Mapa/RS, analisou as perdas em estoques, máquinas, instalações e produtividade agrícola. “Os dados indicam que as perdas vão além da produção atual, comprometendo a capacidade produtiva futura e a solvência dos agentes econômicos”, declarou.
Campos ressaltou que mais de 90% dos municípios do estado foram afetados, principalmente em regiões de maior diversidade produtiva, com arroz, frutas, hortaliças e culturas permanentes. “Isso amplia os efeitos das perdas sobre a segurança alimentar e a resiliência econômica regional”, avaliou. Ela alertou também para os impactos cumulativos: “Quanto mais lenta for a transição para uma economia de baixo carbono, mais severos e frequentes serão os riscos físicos associados às mudanças climáticas, reforçando a necessidade de uma transição coordenada, planejada e integrada entre setores e territórios”.
Recupera Rural RS
A chefe adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, Rosane Martinazzo, apresentou o Recupera Rural RS, programa da Embrapa que desenvolve soluções e estratégias voltadas à mitigação dos efeitos da crise climática. A iniciativa também busca apoiar políticas públicas e orientar a tomada de decisão no campo.
Martinazzo detalhou ações já em curso nas regiões mais afetadas e os resultados obtidos com a implementação de protocolos técnicos de adaptação e resiliência agroecológica. Entre as boas práticas citadas estão o planejamento da produção, a construção de curvas de nível e terraços. “Falta a gente usar as ferramentas que já temos disponíveis para ter sistemas mais resilientes e voltarmos a ter uma agropecuária forte”, defendeu.
Fonte por: Brasil de Fato