Na data da Amazônia, comemorada nesta quinta-feira (5), o assessor de políticas públicas do Observatório do Clima, Fábio Ishisaki, destaca a gravidade da crise que afeta o bioma. De acordo com o último levantamento da organização, o desmatamento já diminuiu em 75% os níveis de chuva na região e coloca em risco a capacidade da floresta de regular o clima global.
Estamos cada vez mais enfrentando essa degradação, que advém do pastoreio, da monocultura e também por práticas ilegais. Isso se conecta com a diminuição do regime de chuvas e também com a redução da recarga dos recursos hídricos. Obviamente, isso acaba agravando a crise climática, afirma.
Ishisaki recorda que a Amazônia perdeu 521 mil km², área maior que a Espanha, e defende a retomada de políticas públicas de combate ao desmatamento para evitar que a situação alcance o “ponto de não retorno”, expressão utilizada na ciência do clima para descrever o momento em que a degradação de um ecossistema atinge um nível tão grave que não é mais possível reverter os danos.
É possível agir, mas já estamos além do tempo ideal [metáfora futebolística usada para indicar que a oportunidade se perdeu]. Precisamos ainda avançar significativamente para evitar esse ponto de não retorno, ou mesmo esses sistemas climáticos cada vez mais intensos.
O pesquisador também critica os riscos da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, apontando possíveis danos à pesca artesanal, comunidades tradicionais e recifes de corais. “É muito importante entender essa multiplicidade de impactos (…) e que não sejam fomentadas novas atividades sobre o pretexto de que os royalties vão trazer riqueza. Porque tem dados, tem estudos que demonstram que, na verdade, isso não ocorre como muitas vezes é colocado no discurso”, ressalta.
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Ele destaca a retomada, em 2023, no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), criado em 2004 e interrompido entre 2019 e 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como um caso de política eficiente para conter a destruição.
Apesar das recentes quedas nos índices de desmatamento, Ishisaki salienta que o problema continuará sendo enfrentado com o fortalecimento da fiscalização. “O monitoramento não é somente coibir o desmate ilegal, por exemplo, que está ocorrendo, mas também antecipar medidas para que tenhamos a proteção das áreas e que elas não sejam invadidas, não sejam griladas”, defende.
COP30 em Belém
Com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, prevista para acontecer em novembro, o especialista vê uma oportunidade para o Brasil assumir o protagonismo climático. “A COP30 é uma grande oportunidade de o país realmente liderar pelo exemplo.”
Ele defende que é fundamental assegurar espaço no evento para a participação de povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e populações periféricas. “Espero que, cada vez mais, essa ciência do pé no chão, da terra, da cultura também seja internalizada, além da ciência acadêmica”, afirma.
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Fonte por: Brasil de Fato