Concentração em 3 provedores de serviços gera risco sistêmico no Brasil, evidenciando falta de diversificação e lacunas regulatórias.
A infraestrutura de nuvem, atualmente dominada por gigantes como AWS, Microsoft Azure e Google Cloud, é responsável por quase dois terços das operações corporativas online. Esse modelo, que proporcionou eficiência e escala, também introduziu um ponto de vulnerabilidade crítico. Uma falha em um desses provedores pode desencadear um efeito cascata, paralisando pagamentos, acessos, assistentes virtuais e rotinas de trabalho em diversos países.
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Como explica Rafael Oneda, diretor de tecnologia da Approach Tech, falhas tecnológicas são inevitáveis. O problema reside na expectativa de que a nuvem seja sempre infalível. A concentração do mercado em poucos players dificulta a implementação eficaz de planos de continuidade de negócios, uma vez que uma interrupção em uma região de nuvem pode afetar serviços interconectados em diferentes países.
No Brasil, essa vulnerabilidade se agrava devido à concentração da infraestrutura. “Quando a nuvem cai, a vulnerabilidade digital brasileira fica em evidência”, afirma Oneda. A exigência de territorialidade da IN05/2019 do GSI, que obriga dados públicos a permanecerem no território nacional, centraliza a infraestrutura no estado de São Paulo. “Se houvesse uma falha semelhante aqui, os serviços do governo poderiam parar completamente.”
A saída técnica apontada por especialistas é o modelo de nuvem híbrida e multicloud, que permite distribuir aplicações críticas entre diferentes provedores. “É a forma mais segura de mitigar falhas e evitar aprisionamento tecnológico”, afirma Oneda. Com a portabilidade entre nuvens, é possível restabelecer serviços rapidamente em caso de pane.
A consultoria Gartner endossa esse diagnóstico. Em seu relatório Hybrid Distributed Infrastructure for Cloud Services, e no Magic Quadrant 2025, a empresa prevê que 90% das corporações adotarão abordagens híbridas até 2027, integrando nuvens públicas e privadas com protocolos unificados de segurança e interoperabilidade. Sid Nag, vice-presidente da consultoria, define essa tendência como uma “transformação estrutural da infraestrutura digital global”, necessária para garantir visibilidade e governança entre ambientes distribuídos.
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Para Oneda, o Brasil está atrasado na diversificação técnica e na regulação. “O Brasil carece de uma legislação que trate de resiliência e arquitetura. Hoje temos a LGPD e normas pontuais, mas nenhuma política clara sobre continuidade e interoperabilidade.” Ele cita a Frente Parlamentar de Segurança Cibernética como um avanço a ser expandido. “A legislação atual olha mais para o aspecto econômico da nuvem do que para a infraestrutura crítica.”
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