Escolas cívico-militares promovem uma sociedade mais autoritária e com falta de justiça social, afirma especialista
Programa segue em frente em estados com distintas orientações políticas, mesmo após a interrupção de iniciativa federal durante o governo Bolsonaro.

Apesar do governo federal ter interrompido o Programa de Estímulo à Educação Cívico-Militar (PCIM), o modelo continua se expandindo no país, inclusive em estados governados pela esquerda. Segundo Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), essa política “é fadada ao fracasso” e “vai formar uma sociedade cada vez mais autoritária, cada vez menos preocupada com a igualdade social e a justiça social”.
“Qualquer pessoa, qualquer cidadão, e especialmente qualquer governante que acredita que um policial militar é melhor educador do que uma professora e um professor prova duas coisas: primeiro, que não entende nada de educação e, segundo, que não entende nada de segurança pública”, afirma ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Paraná, São Paulo e Santa Catarina figuram entre os estados com maior interesse em expandir a presença de escolas cívico-militares. No Paraná, já existem mais de 300 unidades desse tipo. Em São Paulo, a intenção era implementar aproximadamente 100 escolas cívico-militares a partir do segundo semestre de 2025. Para isso, a Secretaria da Educação divulgou um edital para contratar policiais militares da reserva como monitores e monitores-chefes nessas escolas, mas o Poder Judiciário estadual suspendeu a contratação. Já Santa Catarina almeja criar mais 15 escolas cívico-militares ainda em 2024.
A Bahia e o Piauí, ambos sob governo do PT, continuaram a manter escolas cívico-militares, mesmo após o fim do programa implementado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e estão considerando expandir o modelo. Segundo o especialista, isso “demonstra que se trata de um problema generalizado” e ele defende que “não pode ocorrer, sobretudo em estados onde os governantes possuem um compromisso democrático com a população”.
As escolas cívico-militares não comprovam superioridade em qualidade. Ele ressalta que a disciplina autoritária não substitui a pedagogia, e que, apesar de receberem mais recursos e infraestrutura, as unidades sofrem com denúncias de abuso de poder por parte de militares.
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Alunos têm reportado, cada vez mais, abusos de autoridade por parte de profissionais não pedagógicos, incluindo policiais e agentes de segurança, que tentam atuar de forma didática, seja por meio da disciplina, seja interferindo, inclusive, no ambiente da sala de aula.
Para audir e visualizar.
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Fonte por: Brasil de Fato