Efeito Cantillon: Economista explica como inflação afeta diferentes setores
Bernardo Cantillon desenvolveu o efeito, que explica como a inflação impacta de forma desigual agentes econômicos, gerando consequências distintas.

O Efeito Cantillon e a Redistribuição de Riqueza na Economia
A forma como os bancos centrais injetam dinheiro na economia pode ter consequências inesperadas e desiguais. A teoria do efeito Cantillon, proposta há séculos, oferece uma explicação para esse fenômeno. Em vez de uma inflação uniforme que afeta a todos da mesma maneira, a teoria sugere que o novo dinheiro se espalha pela economia em um padrão hierárquico, beneficiando inicialmente aqueles que têm acesso prioritário a ele. Essa dinâmica, observada desde o período colonial com o influxo de metais preciosos, continua relevante nas políticas monetárias modernas, onde a liquidez digital criada pelos bancos centrais segue um caminho similar.
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A essência do efeito Cantillon reside na sequência temporal de acesso ao novo dinheiro. Os bancos e instituições financeiras mais próximas ao banco central conseguem acessar a liquidez primeiro, seguida por grandes empresas e investidores com acesso privilegiado ao crédito. Em seguida, entram em cena médias empresas, pequenos negócios e, por fim, trabalhadores, que recebem salários e benefícios com atraso. Essa distribuição desigual cria uma transferência silenciosa, mas poderosa, de riqueza, onde a inflação resultante não é um fenômeno neutro, mas sim um mecanismo que favorece os mais próximos da fonte do dinheiro novo, em detrimento dos mais distantes.
Entendendo o Mecanismo do Efeito Cantillon
Quando um banco central reduz as taxas de juros e expande a base monetária, como ocorreu no Brasil após 2014, os grandes bancos e instituições financeiras são os primeiros a acessar essa liquidez barata. Esses agentes privilegiados usam o capital para comprar ativos antes que os preços subam, enquanto o restante da economia, incluindo trabalhadores, enfrenta preços já inflacionados. Essa dinâmica se repete em outros países, como nos Estados Unidos após a crise de 2008, onde o Federal Reserve injetou US$ 4,5 trilhões, beneficiando bancos como Goldman Sachs e Citigroup, que usaram o capital para comprar ativos desvalorizados, enquanto o restante da população enfrentava desemprego e preços de alimentos elevados.
Essa sequência temporal de acesso ao dinheiro cria uma distribuição desigual da inflação, onde os ativos financeiros, como ações e títulos, disparam antes que bens de consumo e salários acompanhem o ritmo. Essa diferença de ritmo pode levar a uma falsa impressão de que a inflação não é um problema significativo, quando, na verdade, a riqueza está sendo concentrada nas mãos de poucos.
O Efeito Cantillon e a Concentração de Renda
O efeito Cantillon não é apenas uma teoria econômica abstrata; ele tem implicações práticas para a distribuição de renda e riqueza. A concentração de riqueza observada em muitos países, incluindo o Brasil e os Estados Unidos, pode ser atribuída em parte a essa dinâmica. Quando o dinheiro novo entra na economia, ele tende a se acumular nas mãos de quem tem acesso prioritário a ele, exacerbando as desigualdades existentes.
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Além disso, o efeito Cantillon se intensifica em períodos de expansão monetária, quando as taxas de juros são reduzidas e a base monetária é expandida. Essa situação cria um ambiente propício para a especulação e a concentração de riqueza, tornando ainda mais difícil para os trabalhadores e pequenos empresários acompanhar o ritmo da economia.
Implicações para Investidores e o Futuro da Economia
Para investidores, entender o efeito Cantillon é crucial para tomar decisões informadas. Ao reconhecer que os ativos financeiros tendem a subir antes que bens de consumo e salários acompanhem o ritmo da economia, os investidores podem evitar o erro de comprar no topo e vender no fundo. Além disso, o conhecimento do efeito Cantillon pode ajudar a identificar o timing correto para realizar lucros e proteger o capital.
Em última análise, o efeito Cantillon nos lembra que a política monetária não é uma ferramenta neutra; ela tem consequências significativas para a distribuição de renda e riqueza. Compreender essa dinâmica é essencial para construir uma economia mais justa e equitativa, onde os benefícios do crescimento econômico sejam compartilhados por todos.