Líderes defenderam a superação das divergências ideológicas e o reforço dos laços de cooperação entre os países.
Em resposta à medida protecionista adotada pelo governo dos Estados Unidos, com a imposição de tarifas por parte de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, na segunda-feira (18), o presidente do Equador, Daniel Noboa, acompanhado de uma comitiva ministerial.
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O presidente equatoriano foi recebido pelo presidente Lula no Palácio do Planalto, onde ocorreu uma reunião de trabalho, na qual foram abordados o comércio e os investimentos mútuos, o combate ao crime organizado, o desenvolvimento social, da ciência e tecnologia, a integração sul-americana, a cooperação amazônica, a proteção ao meio ambiente, e o enfrentamento das mudanças climáticas.
Após a reunião fechada, os dois presidentes fizeram uma declaração à imprensa. Com foco na abertura de mercados aos produtos brasileiros, Lula ressaltou o equilíbrio na relação entre os dois países e afirmou estar disposto ao comércio bilateral.
Equador e Brasil possuem grande potencial para expandir o comércio bilateral. Registramos um intercâmbio superior a US$ 1 bilhão, com superávit de mais de US$ 850 milhões a favor do Brasil. Informou ao presidente Noboa que estamos dispostos a colaborar por um comércio mais equilibrado, diminuindo barreiras aos produtos equatorianos.
Lula agradeceu o apoio do Equador à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e declarou que a visita de Noboa marca o encerramento de uma “pausa de 18 anos”, em referência à última vez que um governante equatoriano esteve no Brasil.
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Essa visita simboliza o relançamento do nosso relacionamento bilateral e constitui o restabelecimento da nossa amizade, recuperando a importância que ela sempre mereceu. Eu penso, presidente Noboa, que é importante marcar o dia 18 de agosto de 2025 como o grande dia do recomeço da relação política, comercial e tecnológica com o Equador, declarou Lula.
O presidente brasileiro reiterou a relevância da cooperação bilateral no enfrentamento de crimes na região amazônica, que abrange uma parcela significativa do Equador. Nesse contexto, Lula mencionou a abertura do Centro Internacional de Cooperação Policial na Amazônia, em Manaus (AM), em junho do presente ano, e a realização da COP 30 em Belém (PA) no próximo mês de novembro.
Em breve, na COP 30, a Amazônia não será somente a metade do mundo, como frequentemente se refere-se à Linha do Equador. Ela se tornará o centro das soluções para o planeta, afirmou Lula, mencionando ainda os problemas para regulamentar as plataformas de mídia e salvaguardar crianças e adolescentes.
O presidente defendeu a superação das divergências políticas para a consolidação de uma integração real entre os países latino-americanos. “Em um cenário global desafiador, em que rivalidades se agravam, instituições multilaterais são esvaziadas, é preciso firmeza na defesa da nossa independência. Para o Brasil, a autonomia é um sinônimo de diversificação de parcerias. Os laços com o Equador e com os demais vizinhos sul-americanos são prioridade para nós”, afirmou Lula.
Na mesma direção, Noboa ressaltou os problemas comuns aos brasileiros e equatorianos. “Temos os mesmos problemas que outros países da região: tráfico de drogas, mineração ilegal, mas, acima de tudo, há práticas desumanas desses mesmos grupos, como tráfico de órgãos e tráfico de pessoas”, destacou. “As discussões ideológicas são página virada. Precisamos procurar soluções para as pessoas. Precisamos procurar entender quais são as prioridades da sociedade”, declarou o presidente do Equador, que representa o espectro político da direita equatoriana.
É importante alcançarmos uma visão de continente, de irmandade entre os países. Nos últimos anos, nos acostumamos a dar as costas para os nossos vizinhos. É preciso acabar com isso. É importante vermos a América Latina como uma região única e temos uma oportunidade de ouro para torná-la uma potência, uma potência na área de justiça, de dignidade e oferecer uma vida melhor aos nossos filhos, aos nossos netos e assim por diante, manifestou.
A cooperação entre nossos países terá novos capítulos com os três acordos que assinamos nas áreas de combate à fome e à pobreza, agricultura familiar e inteligência artificial. Estamos unidos pelo respeito e pela confiança mútua.
Um primeiro acordo aborda a cooperação técnica para o enfrentamento da fome e da pobreza, buscando estabelecer cooperação técnica no campo do desenvolvimento social e do combate à insegurança alimentar, por meio da troca de experiências, estudos e conhecimentos sustentáveis entre os dois países.
O segundo item aborda a área de inteligência artificial, visando fortalecer a cooperação acadêmica-científica e a capacitação de profissionais em infraestruturas de computação de alto desempenho.
O terceiro documento assinado aborda políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e campesina, com ênfase na transição agroecológica, nos circuitos curtos de comercialização, nos sistemas públicos de abastecimento de alimentos, no incremento da produção da agricultura orgânica e na diminuição das perdas e do desperdício.
De acordo com o Itamaraty, em 2024, o comércio entre Brasil e Equador atingiu US$ 1,1 bilhão, com exportações brasileiras equivalentes a US$ 970 milhões. Os produtos principais da pauta de exportações brasileiras para o Equador incluem veículos, máquinas, medicamentos e produtos das indústrias de papel e celulose.
Noboa é empresário e filho de dois políticos conhecidos no Equador: Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do país e candidato presidencial em cinco ocasiões, e Anabella Azín, médica, deputada e legisladora da última constituinte, em 2007. Foi eleito pela primeira vez, em 2021, para o cargo de deputado e chegou à Presidência do país para completar o mandato de quatro anos do antecessor Guillermo Lasso (2021-2023), que havia convocado uma votação rápida para evitar o impeachment por suposto desvio de recursos.
O defensor de uma plataforma econômica liberal, Noboa, é criticado por medidas autoritárias, sob a justificativa de combater o crime organizado. Em janeiro de 2024, ele decretou estado de exceção no país, declarou que o Equador vivia um conflito interno e nomeou 22 organizações criminosas que passaram a ser consideradas inimigas do Estado.
Em dezembro de 2023, o presidente equatoriano permitiu a invasão da embaixada do México, em Quito, com o objetivo de prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, que estava refugiado no local diplomático. O governo mexicano classificou a ação como uma violação de sua soberania e alegou que se tratou de um sequestro.
Daniel Noboa foi reeleito presidente do Equador em abril de 2025, após vencer a candidata de esquerda Luiza González, em eleições caracterizadas por violência e acusações de irregularidades. González não aceitou os resultados.
Antes das eleições, Lula se reuniu com a candidata do partido Revolução Cidadã, fundado pelo ex-presidente Rafael Correa, durante uma viagem ao Uruguai, na cerimônia de posse do presidente uruguaio Yamandú Orsi.
Fonte por: Brasil de Fato
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