Risco Cardiovascular Aumenta com Sono de Má Qualidade
Um estudo publicado no Journal of the American Heart Association revelou uma correlação significativa entre a qualidade do sono e o desenvolvimento de estágios avançados da Síndrome Cardiovascular-Renal-Metabólica (SCRM). A pesquisa, que analisou dados de mais de 10 mil adultos com idade média de 49 anos nos Estados Unidos, destaca a importância de um sono saudável para a prevenção de doenças crônicas.
A investigação classificou os participantes em diferentes estágios da SCRM, de 0 a 4, com base em cinco parâmetros: duração do sono, dificuldade para dormir, sonolência diurna excessiva, ronco frequente e noctúria (levantar-se várias vezes à noite para urinar). Utilizando esses dados, os cientistas criaram um índice de sono saudável, que pontuava cada característica como de baixo ou alto risco, compondo uma escala que classificou os indivíduos em três grupos: alta, moderada ou baixa qualidade de sono.
Os resultados mostraram que pessoas com sono de alta qualidade apresentaram um risco 45% menor de estar nos estágios avançados da SCRM, enquanto aquelas com sono moderado eram 32% menos propensas a esse quadro. Indivíduos com sono ruim concentraram os casos mais graves. A pesquisa enfatiza que fatores como o tempo total de sono curto e a apneia obstrutiva de sono têm um impacto significativo na saúde.
A análise por grupos populacionais revelou diferenças importantes: a associação entre boa qualidade do sono e menor risco de agravamento da SCRM foi ainda mais forte em negros não hispânicos e asiáticos não hispânicos, sugerindo que vulnerabilidades sociais e genéticas podem intensificar o impacto do sono na progressão da doença. Isso indica a necessidade de intervenções de saúde pública focadas em populações específicas.
Sono e Saúde Crônica: Um Ciclo Complexo
A pesquisa não estabeleceu causalidade, mas ressalta a importância de um sono saudável para a prevenção de doenças cardiovasculares, renais e metabólicas. A neurologista Leticia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Einstein Hospital Israelita, alerta que “uma noite maldormida não é só reflexo de má saúde, mas também um fator de risco independente”.
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Soster explica que o sono ruim pode agravar fatores cardiovasculares e metabólicos, tornando tratamentos menos eficazes. Ela destaca que a apneia do sono, por exemplo, está fortemente ligada à pressão arterial e a outros riscos cardiovasculares. Além disso, a redução do tempo total de sono (menos de seis horas) aumenta o risco de diabetes tipo 2, obesidade e problemas cognitivos.
A relação entre sono e doenças crônicas é vista como um ciclo, onde um retroalimenta o outro. Tratar distúrbios do sono, como a apneia, pode melhorar o controle da pressão arterial, da glicemia e reduzir riscos cardiovasculares.
Desafios para um Sono Saudável no Brasil
A pesquisa internacional mostra que noites bem dormidas estão ligadas a um menor risco de doenças cardiovasculares, renais e metabólicas. No entanto, a realidade brasileira revela que, sem mudanças estruturais, milhões de pessoas continuarão privadas da proteção que o sono concede.
Fatores como longos deslocamentos urbanos, a baixa qualidade do transporte público e a violência urbana dificultam que as pessoas se desloquem a pé nas cidades, façam mais exercícios físicos e sejam menos sedentárias. A falta de acesso a serviços especializados em sono também é um obstáculo.
A especialista aponta que melhorar a qualidade do sono não é apenas uma questão de disciplina individual, mas também de fatores sociais. É preciso considerar as barreiras que impedem que as pessoas tenham condições de praticar atividade física regular, fundamental para induzir o sono natural.