Doença de Chagas: desafio global com alta incidência no Brasil. Dados do SINAN apontam para 17.049 casos crônicos (2023). Estimativas apontam para 10,5 milhões de infectados no mundo, com 38% no Brasil. Urgente fortalecer vigilância e diagnóstico para combater a doença
A doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente pelas fezes do barbeiro, é reconhecida como um dos maiores desafios parasitários do continente americano. No Brasil, esforços governamentais e pesquisas de décadas resultaram em um controle significativo da transmissão aguda, restrita atualmente a áreas endêmicas no Norte e Nordeste. No entanto, uma nova questão surge com o avanço dos métodos diagnósticos: o aumento do número de casos crônicos sem assistência clínica e tratamento adequados. Até 2023, foram diagnosticados 17.049 casos crônicos de doença de Chagas no Brasil, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde. Essa contagem, entretanto, provavelmente subestima a realidade, pois reflete apenas os episódios detectados e formalizados no sistema de saúde.
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Uma pesquisa publicada na revista The Lancet Infectious Diseases, baseada no último levantamento Global Burden of Disease (GBD), revelou a magnitude dessa lacuna. O estudo estimou que, há dois anos, cerca de 10,5 milhões de pessoas em todo o mundo estavam infectadas com a doença de Chagas, com quase 4 milhões (38%) no Brasil. Essa discrepância se deve, em grande parte, ao fato de que muitos pacientes com a doença crônica não recebem diagnóstico e tratamento adequados, permanecendo assim sem a devida assistência médica.
A identificação da lacuna no diagnóstico impulsionou a necessidade de fortalecer a vigilância epidemiológica e a conscientização sobre a doença. A pesquisa do GBD, por exemplo, destacou a importância de monitorar a disseminação da doença em diferentes regiões do mundo.
A expansão da doença para áreas não endêmicas, como os Estados Unidos e países da Europa e Ásia, é um reflexo dessa necessidade de vigilância e da crescente conscientização sobre o problema.
Diversos fatores contribuem para a disseminação da doença de Chagas, incluindo a urbanização, o desmatamento, as mudanças climáticas e os fluxos migratórios. A urbanização, por exemplo, pode criar novos habitats para o barbeiro, enquanto o desmatamento e os incêndios florestais podem deslocar os insetos para áreas urbanas.
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As mudanças climáticas, por sua vez, podem alterar o comportamento dos barbeiros, tornando-os mais propensos a se aproximarem das habitações humanas. Além disso, os fluxos migratórios de pessoas de países endêmicos para não endêmicos podem introduzir a doença em novas regiões.
Quando a doença de Chagas não é tratada corretamente na fase aguda, ela evolui para um quadro crônico, que pode durar décadas ou mais. Mesmo nessa fase, os indivíduos podem continuar a transmitir o parasita via transfusão de sangue, transplante de órgãos e até na gestação ou durante o parto.
No entanto, o tratamento com benznidazol, um antiprotozoário eficaz, pode curar a doença e reduzir o risco de complicações graves, como insuficiência cardíaca, megacólon e megaesôfago. O tratamento é recomendado para todos os pacientes com diagnóstico confirmado, independentemente da fase da doença.
A doença de Chagas representa um desafio complexo para a saúde pública, exigindo uma abordagem multidisciplinar que combine vigilância epidemiológica, diagnóstico precoce, tratamento eficaz e medidas de controle da transmissão. A experiência do Brasil, pioneiro no controle da doença, pode servir de modelo para outros países que enfrentam a expansão da doença para novas regiões.
Com a colaboração de governos, profissionais de saúde e a população em geral, é possível controlar a doença de Chagas e proteger a saúde da população.
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