A diretora Sandra Kogut e sua equipe documentaram, ao longo de meses, a vida de figuras dos dois campos políticos, desde o início da campanha das eleições presidenciais em agosto de 2022, passando pelos primeiros e segundos turnos, até os atos golpistas de 8 de janeiro do ano seguinte. O resultado está disponível no documentário No céu da pátria, que chega às salas de cinema do país nesta quinta-feira (14). O filme apresenta pessoas em atividades como panfletagem, frequentando cultos evangélicos, a rotina do candidato a governador do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PT), e reuniões preparatórias para uma sessão eleitoral.
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A obra é lançada enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro está réu por tentativa de golpe de Estado e permanece em prisão domiciliar em razão do descumprimento das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A diretora relata que o projeto surgiu do interesse em compreender como indivíduos com perspectivas tão distintas percebem o país, com o objetivo de apresentar a rotina de personagens fundamentais para uma eleição, embora não estejam no centro das atenções, incluindo ativistas e funcionários do Poder Judiciário, buscando registrar a intensidade daquele período histórico.
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“Eu desejava produzir um filme sobre os voluntários da eleição. As pessoas que viam aquilo acontecer, o cidadão comum, que ninguém observava, que ninguém prestava atenção, mas que estava ali realizando tudo”, relata. O filme também demonstra o papel fundamental de locais como igrejas evangélicas para parte dos apoiadores do ex-presidente e ressalta que, no campo petista, muitas personagens importantes eram mulheres – refletindo dados das pesquisas eleitorais da época.
Era um filme inviável de ser produzido, devido ao próprio tema – a impossibilidade de comunicação, a existência de realidades paralelas – que tornava o projeto inviável. Constantly, precisávamos repensar a forma de fazer o filme e buscar novas estratégias. Inicialmente, considerei pedir que os personagens gravassem diários com o celular, para entrar em seus mundos com a consciência de que aquilo faria parte do filme. Posteriormente, identificamos a necessidade de um olhar mais direto, com equipes de filmagem.
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Havia ainda um desafio: os personagens estavam distribuídos pelo Brasil, alguns no Sul e outros na Amazônia. Criamos equipes locais, por vezes com indivíduos que não tinham experiência em produção de documentários. Isso contribuiu significativamente, pois o processo se estendeu por um ano, possibilitando a construção de um vínculo de confiança.
Com sensibilidade, a obra também observa a origem e a força das teorias conspiratórias disseminadas naquele período, como o questionamento sobre a segurança das urnas eletrônicas. Ao mostrar os bastidores do trabalho da Justiça Eleitoral, Sandra evidencia que o ataque às urnas não é uma questão de opinião, mas um fato desmentido pela própria realidade do processo.
Ao demonstrar o processo eleitoral, torna-se claro que a alegação de fraude nas urnas não é uma questão de opinião – trata-se de um fato sobre o funcionamento do sistema.
Para a diretora, em “No céu da pátria” esse instante é mais que um filme: é um arquivo do presente e uma ferramenta de memória. “O que vivemos em 2022 não ficou para trás. Essas ameaças ainda rondam o país”. Quando resolvi fazer esse filme, eu tinha a sensação de que a gente estava preso num eterno presente. A gente só conseguia absorver o que estava acontecendo naquele momento porque não tinha ideia do que ia acontecer para frente, e para trás, a gente esquecia, porque as notícias eram tão absurdas. O absurdo de hoje fazia você apagar o da semana passada e assim por diante.
Fonte por: Brasil de Fato
