Dia das Crianças: Poeta revela o que uma boneca representa para a criança
Descobrir quem a gente é: o verdadeiro valor está em experiências e conexões, mais do que em presentes materiais.

Dia das Crianças e Descobertas
Domingo foi Dia das Crianças. Eu, com um filho de 13 anos — supostamente um adolescente, mas, nesse dia, tão criança quanto a priminha de 5 anos —, comprei um presente para ele. Neste ano, para meu espanto, não quis um Lego — desejadíssimo no ano passado —, mas sim uma mochila com vários compartimentos, sendo o principal para carregar notebook.
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Quase o deixei na Faria Lima. A alegria dele me lembrou dos Dias das Crianças que já vivi. Em um deles, eu e minhas duas irmãs ganhamos uma boneca cada. Não vieram somente as bonecas: foram acompanhadas por mamadeiras com leite aprisionado, chupeta e fraldinha. Ganhamos até um bercinho — apenas um, já que meus pais resolveram economizar nessa parte. Ou seja, duas bebês tinham que ficar acordadas até a irmãzinha terminar o cochilo.
O interessante foi ver a reação de cada uma de nós. A mais nova amou de paixão: logo estava limpando fralda de cocô (imaginária, graças a Deus!), dando o tetê e botando pra arrotar. Minha irmã do meio criou looks para a filhinha ir ao parquinho, incluindo laçarotes enormes que, ainda hoje, iriam arrasar num buffet infantil. E aí veio eu, que simplesmente não sabia o que fazer com a minha. O que eu curtia naquela época (e em todas as épocas) era desenhar e escrever poeminhas.
Eu olhava para aquela boneca de olhos azuis — na época as bebês eram todas nórdicas — e não me vinha nada. Não sei se era por ser mais velha, mas eu já sacava que não fazia sentido perder tempo segurando aquela mamadeira na boquinha da criança, já que aquele líquido branco nunca chegaria à barriguinha dela. Pra que trocar a fralda se, felizmente, aquela criança nunca iria assar?
Então a coloquei para dormir — ou descansar, como preferisse — na minha cama. Pelo sim, pelo não, a cobri com uma fronha de travesseiro (eu tenho coração). Sentei ao lado dela e espalhei meia dúzia de livros ao redor, como fazia quase todos os dias. Pulava de um para o outro, como ainda faço, só que agora no Kindle. Talvez por isso eu goste de crônicas: você lê uma aqui e outra ali, não importa em que livro. Quando voltar ao primeiro será recebido de braços abertos, sem ter perdido o fio da meada.
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Até que achei um canal de comunicação com a Teresa — que tipo de futura escritora seria eu se não nomeasse minha boneca? No início, comecei a ler pra ela. Quase a vi esboçando um sorriso. Como não se divertir com Luís Fernando Veríssimo? Mas logo pulei pra histórias que não estavam no papel. Ainda. Peguei meu caderninho da Moranguinho e minha caneta de seis cores — eu era letrada, mas ainda uma criança — e comecei a escrever as histórias que saíam da minha cabeça e, consequentemente, da minha boca. Dessa vez, quase pude ouvir as risadas da minha filha, sobrinha ou qualquer parentesco que tivéssemos.
Muito tempo se passou desde aquele Dia das Crianças. Minha irmã mais nova é mãe de duas meninas lindas. Uma de olhos azuis e a outra, chamada Teresa — afinal que era minha sobrinha mesmo. O que mais ama na vida é ser mãe, especialmente, sentar no chão com as filhas e brincar de boneca. A irmã do meio se tornou consultora de moda e deixa mulheres parecendo “uma boneca” e executivas, atrizes e médicas super estilosas. E eu? Eu virei uma contadora de histórias, como esta que você acabou de ler.
O fato é que, no Dia das Crianças, muito mais do que ganhar presentes, se olharmos bem, pode ser um momento de descobertas. Algumas delas só vamos entender muitos anos depois. E não venha dizer que meu filho vai trabalhar em banco, porque ele toca piano quase como um profissional.