Guilherme Setúbal (Dexco) e Laia Romero (Lobelia Earth) lançam plataforma “Brasil em um Mundo +2°C” para mapear riscos climáticos, destacando a urgência diante do aquecimento global e a necessidade de adaptação em setores como infraestrutura, agricultura e cidades
A enchente devastadora que paralisou o Rio Grande do Sul em 2024 expôs a vulnerabilidade de empresas e governos diante das mudanças climáticas. Guilherme Setúbal, diretor de relações com investidores e ESG da Dexco, descreveu o evento como “muito pior do que nosso pior cenário”, evidenciando a necessidade urgente de responder a essa crise com dados e planejamento.
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O desastre se junta a uma equação complexa: onde o aquecimento global trará os impactos mais severos e qual o custo dessa transformação.
A resposta começou a se tornar mais clara com o lançamento da plataforma “Brasil em um Mundo +2°C“. Desenvolvida em parceria com a empresa espanhola Lobelia Earth, a ferramenta é gratuita, aberta ao público e funciona como um mapa interativo que compara riscos climáticos atuais com projeções para um cenário de aquecimento acima de 2°C.
Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da Itaúsa e diretor-executivo do Instituto Itaúsa, explica que a plataforma não é um documento, mas sim um mapa interativo no celular onde o usuário pode inserir sua área de negócios e explorar os riscos e oportunidades associados.
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O diferencial da ferramenta reside na sua capacidade de cruzar dados climáticos – como temperatura, precipitação, secas – com informações sobre natureza (degradação florestal) e setores econômicos. O foco inicial é em três pilares: infraestrutura crítica (rodovias e energia), agricultura (soja, café, cana, pastagem e milho) e áreas urbanas com mais de 50 mil habitantes.
Thaís Fontenelle, que lidera o projeto pela Lobelia Earth, destaca que as interrupções nesses setores geram efeitos em cascata – operacionais, financeiros e logísticos, e que o objetivo é mostrar onde os riscos convergem e como priorizar ações e investimentos.
A plataforma utiliza 11 modelos climáticos diferentes e dados de satélite com resolução de até 50 centímetros. Para cada ameaça mapeada – inundações, deslizamentos, queimadas, mudanças de precipitação – há camadas contextuais que mostram, por exemplo, se há em risco aquela área ou se a vegetação pode funcionar como proteção natural.
A ferramenta pode ajudar companhias a avaliar riscos futuros e entender a viabilidade de alguns investimentos, especialmente sob a ótica das mudanças causadas pelo aquecimento global. Guilherme Setubal, da Dexco, revela que a empresa já vetou a compra de negócios porque a matéria-prima dessa operação estaria escassa no futuro. “Não é ferramenta de ‘não’, é de ‘como fazer’”, afirma.
Com a plataforma, a Dexco também conseguiu identificar que algumas rotas logísticas ficarão diferentes quando a temperatura subir 2°C, com pontes e rodovias tomadas por água. Ao pensar na cadeia de fornecimento e nos clientes, a empresa percebeu que toda a questão de rodovias, pontos, trajetos e meios de transporte até a fábrica terão impactos relevantes. “Saber disso ajuda a pensar em alternativas”, diz Setubal.
Lennon Franciel, engenheiro ambiental da Dexco, destaca que a ferramenta “joga luz em riscos subdimensionados”. Ele menciona conversas sobre logística onde não passa na mente das pessoas que o aumento do nível dos oceanos causa portos fechados e rodovias inundadas. “Dá pra fazer a gestão e assegurar que a companhia está preparada”, afirma.
A plataforma mostra cada centro urbano brasileiro como um ponto no mapa, com dados de exposição a diferentes ameaças. Em São Paulo, o município de Registro aparece como um dos mais impactados por temperatura extrema. Próximo a divisa com o Rio Grande do Sul, a situação se agrava.
A plataforma também aponta oportunidades: algumas regiões que antes eram adequadas para certos cultivos vão deixar de ser – e outras vão se tornar viáveis.
Luis Barbieri, da Raiar Orgânicos, vê a ferramenta como estratégia de negócio. “Vejo o quanto pode ser útil para tomada de decisão e de investimento do próprio fazendeiro”, diz. “Mato Grosso produz mais grãos que a Argentina. O Centro-Oeste começa a ganhar também energia com etanol de milho, dupla exposição de riscos com temperatura.”
Laia Romero, diretora executiva da Lobelia Earth, contextualiza a urgência: em 2024, pela primeira vez, a temperatura global média superou 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. “Não há mais tempo a perder. A implementação é agora”, afirma.
Atualmente, o mundo já está 1,2°C mais quente. “Os mais 2 graus celsius são perigosos e é um ponto de virada perigoso ao planeta. Esse é o limite que tentou conter — todos os países tentam levar o limite a 1,5 graus para evitar mudanças irreversíveis”, explica Laia. “Começa pelo colapso do gelo e dos oceanos, e de toda a vida.”
O Brasil, segundo ela, é “um dos poucos países que concentra vulnerabilidade climática e poder da natureza”. “Isso significa que muitas soluções naturais podem ser implementadas. A natureza faz esse papel. Investimento inteligente no Brasil é possível.”
Marcelo Furtado, head de sustentabilidade da Itaúsa, destaca que a plataforma não é só sobre ameaças. “Cruzar natureza com risco permite identificar áreas degradadas que pode restaurar e que funciona como buffer para inundação”, diz. “Cuidamos para a plataforma não seja só de risco, mas de oportunidades.”
A ferramenta já está disponível gratuitamente em , com aplicativo para Android e iOS.
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