“Debret em Questão”: Exposições questionam legado do Brasil Império e a escravidão

“Debret em questão” expõe obras do Brasil Império de Jean-Baptiste Debret e releituras de artistas contemporâneos, incluindo Rosana Paulino e Jaime Lauriano. A exposição no Museu do Ipiranga questiona a narrativa idealizada do país, destacando o trabalho dos escravizados africanos

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(Imagem de reprodução da internet).

Debret em Questão – Olhares Contemporâneos

A exposição “Debret em questão – olhares contemporâneos”, inaugurada em 25 de março no Museu do Ipiranga, em São Paulo, apresenta um diálogo instigante entre obras do Brasil Império, assinadas pelo artista francês Jean-Baptiste Debret, e releituras criadas por 20 artistas contemporâneos, incluindo as obras inéditas de Rosana Paulino e Jaime Lauriano.

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Este projeto é um desdobramento do livro “Rever Debret” (Editora 34, 2023), escrito pelo pesquisador Jacques Leenhardt, e curado em conjunto com Gabriela Longman. A exposição se organiza em duas partes distintas, exibindo 35 pranchas litográficas provenientes do livro “Voyage pittoresque et historique au Brésil”, impresso em Paris entre 1834 e 1839.

A Curadoria e a Visão Crítica de Debret

A curadoria da exposição busca desconstruir a narrativa idealizada do Brasil Império, conforme retratada por Debret. Os curadores apontam que o artista recusou a representação idílica do país na época, adotando uma postura quase antropológica, observando e descrevendo o cotidiano com detalhes e uma crítica sutil.

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A seleção das imagens, segundo os curadores, é fundamental para destacar a importância do trabalho dos escravizados africanos na sociedade da época. Jacques Leenhardt, um dos curadores, enfatizou que “quem trabalha e está construindo o país são os escravos”, ressaltando a presença central e significativa dos escravos nas obras de Debret, que frequentemente eram marginalizados nas representações artísticas da época.

Releituras Contemporâneas: Questionando a História

A segunda parte da exposição é dedicada às releituras contemporâneas, que retomam as obras de Debret para questionar a narrativa hegemônica da história e os discursos dominantes. Essas releituras abordam eventos contemporâneos considerados herança da escravização da população negra, apresentadas por artistas como Gê Viana, Dalton Paula e Isabel Löfgren & Patricia Goùvea.

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A diversidade de técnicas utilizadas por esses artistas reflete a riqueza da arte contemporânea, conforme observado pela curadora Gabriela Longman. A exposição apresenta uma variedade de suportes e linguagens, incluindo fotografia, vídeo, instalação, colagem digital, pintura, gravura, demonstrando a amplitude da expressão artística contemporânea.

O Legado de Debret e a Relevância Atual

O diretor do Museu do Ipiranga, Paulo Garcez Marins, destaca que as exposições temporárias do museu buscam interpretar o passado com as perguntas do presente. Ele explica que a curadoria relata que Debret não poupava detalhes de violência e o protagonismo do trabalho de escravizados africanos no Brasil, que foram tradicionalmente invisibilizados nas representações artísticas do cotidiano.

A curadoria aponta que, não à toa, o tema da violência atravessa as obras dos artistas contemporâneos na exposição. “Por que revisitamos Debret hoje? Por que os artistas olham para isso com tanta ênfase? Porque existem transformações gigantescas na sociedade e existem permanências”, disse Longman.

A exposição permanece em cartaz até 17 de maio do ano que vem, de terça a domingo, das 10h às 17h.

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