Conferência Fapesp discute biodiversidade, matemática e futuro da ciência em São Paulo

Cientistas discutem prevenção de pandemias e impacto da matemática na economia, em evento da Fapesp em São Paulo.

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(Imagem de reprodução da internet).

Prevenção de Pandemias: A Importância da Biodiversidade

Os estudos que tentaram prever pandemias frequentemente falharam, o que impõe aos cientistas a necessidade de desenvolver novas abordagens para antecipar o surgimento de patógenos que podem se espalhar globalmente. Uma perspectiva que merece ser aprofundada é o papel da conservação e da restauração da biodiversidade na prevenção ou atenuação desses eventos.

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Essa temática foi central na fala de Felicia Keesing, professora do Bard College, nos Estados Unidos, durante o primeiro dia das conferências da Escola Interdisciplinar Fapesp: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina, que ocorreu entre a segunda e a sexta-feira, 10 a 14 de maio, em São Paulo.

Considerando que 75% das doenças infecciosas emergentes em humanos são zoonóticas – ou seja, causadas por patógenos compartilhados entre pessoas e outros animais vertebrados – o foco das ações de saúde pública tem se concentrado nelas. No entanto, segundo a pesquisadora, as estratégias existentes não impediram eventos como a pandemia de Covid-19.

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Keesing enfatiza a necessidade de ir além das abordagens atuais, propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que visam construir resiliência, garantir acesso equitativo a contramedidas e melhorar a prevenção, detecção e resposta aos surtos.

Apesar da importância desses passos, ela as considera insuficientes.

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“Precisamos ampliar nossa busca para além de alguns poucos lugares como potenciais iniciadores de pandemias, de apenas vírus como patógenos que podem causar essas doenças e de alguns poucos animais como os mais prováveis reservatórios”, resumiu a pesquisadora.

Ela propõe medidas que, segundo ela, podem ser promissoras. Uma delas é testar as previsões passadas, buscando entender o que não deu certo e por quê, a fim de melhorar os modelos e aumentar a precisão das novas previsões. Outra ação necessária é expandir o escopo das buscas, indo além do coronavírus, que, devido à pandemia de Covid-19, recebeu atenção especial.

No entanto, isso não elimina a possibilidade de novos surtos originados de outros vírus ou bactérias.

Keesing aposta que o próximo patógeno a se espalhar pelo mundo e causar grandes problemas poderá ser uma bactéria resistente aos tratamentos atuais. A pesquisadora dedica quatro dos sete itens de sua lista de propostas aos animais reservatórios de patógenos.

Ela lembra que a maioria dos microrganismos causadores de doenças – que se instalam tanto em vertebrados humanos quanto não humanos – não tem apenas um animal favorito, mas vários. Portanto, é preciso avaliar melhor a relevância de certos grupos de animais como reservatórios, pois alguns podem ser superestimados (como morcegos) e outros subestimados (como roedores).

Por fim, é fundamental lembrar que patógenos zoonóticos não apenas são transmitidos de animais para humanos, mas também dos humanos para os animais.

Relação entre Matemática, Economia e Desenvolvimento

Em paralelo, Marcelo Viana, diretor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), abordou o papel da formação em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) na renda dos países. Viana listou estudos realizados no exterior sobre o impacto de áreas relacionadas à matemática no Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido, França, Austrália e Espanha.

Um desses estudos constatou que, na França, a proporção de empregos cuja principal atividade era relacionada à matemática representava 13% dos trabalhos e 18% do PIB em 2022, comparado a 12% e 16% em 2012. Não existia uma pesquisa dessas no Brasil, até que o Itaú Social resolveu fazê-la usando a metodologia francesa, com apoio do Impa.

A conclusão, publicada em 2024, foi que o rendimento dos profissionais que atuam em áreas ligadas à matemática no Brasil equivale a 4,6% do PIB, e que tais ocupações oferecem salários 119% maiores que a média dos demais trabalhadores. “Ir dos 4,6% atuais para os 18% que a França alcançou adicionaria R$ 1,5 trilhão ao PIB do Brasil”, disse Viana.

Uma das oportunidades para solucionar essa questão se deu com a inauguração do Impa Tech em 2024, no Rio de Janeiro, que oferece a primeira graduação do instituto voltada justamente para a formação de mão de obra qualificada em áreas dependentes de matemática. “São selecionados a partir de resultados das olimpíadas de matemática, não há vestibular.

No primeiro ano, os alunos cumprem um ciclo básico e depois optam por continuar em matemática, ciência da computação, ciência de dados ou física”, explicou.

Fapesp e a Liderança Científica de São Paulo

Na abertura do evento, o presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, lembrou a liderança do estado de São Paulo na produção científica nacional, resultado do investimento estável nas universidades estaduais paulistas e na própria Fapesp. “É preciso destacar que não se trata apenas de investir muito dinheiro, mas de ter estabilidade. É o que nos permite financiar projetos de até dez anos, por exemplo”, ressaltou.

Sobre a Escola Interdisciplinar, Zago lembrou o sucesso do formato, que chegou à 5ª edição em 2025. “Acredito muito nessa abordagem e creio que seja algo muito importante para a ciência do Brasil”, disse. Oswaldo Baffa Filho, organizador do evento, ressaltou que a iniciativa diz respeito à construção de pontes entre diferentes áreas do conhecimento, entre culturas e entre pessoas. “Temos participantes representando o Norte, Sul, Leste e Oeste do país, assim como pesquisadores internacionais realizando pós-doutorado no Brasil.

Formamos uma comunidade diversa e vibrante, unida pela curiosidade e pela busca por conhecimento”, discursou Baffa Filho, que é professor da FFCLRP-USP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Durante a abertura, estiveram presentes ainda Carlos Graeff, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fapesp, Marcio de Castro, diretor científico da Fapesp, e Norma Reggiani, diretora técnica do Instituto Principia.

A edição de 2025 da Escola Interdisciplinar Fapesp: Ciências Exatas e Naturais, Engenharia e Medicina conta com 60 pesquisadores em nível de pós-doutorado, tanto do Estado de São Paulo quanto de outras partes do Brasil. A programação completa pode ser conferida em: .

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