Cientistas alertam para ação urgente na COP30; cientistas pedem calendário claro para transição de combustíveis fósseis e proteção das florestas
Belém – Com os dias restantes para as negociações na COP30, os cientistas intensificaram suas demandas para os líderes e chamaram a atenção na sessão plenária de abertura, marcando a chegada dos ministros na segunda e última semana da conferência climática da ONU.
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O grupo do pavilhão científico reúne alguns dos especialistas mais renomados, que formaram uma fila na área de entrada para a sessão plenária, com papéis em mãos: um novo documento, entregue ao vice-presidente brasileiro Geraldo Alckmin, apela por um “calendário claro” para a transição gradual dos combustíveis fósseis e para a proteção das florestas.
As demandas são urgentes: a Amazônia e os recifes de corais – os dois biomas mais diversos do mundo – estão sob pressão inaceitável e à beira do ponto de não retorno.
A pressão vem da frustração dos últimos dias: o pavilhão científico permanece virtualmente sem negociadores, enquanto acordos estavam sendo feitos à esquerda e à direita nas salas restritas da Zona Azul. O espaço liderado pelo renomado Johan Rockström, presidente do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, e Carlos Nobre, climatologista e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia, é o primeiro a conectar as mudanças climáticas à ciência em uma conferência da COP.
Na sexta-feira, 14, o apelo já havia sido feito de forma mais contundente: “negociadores, venham até nós”, junto com o alerta de que o orçamento de carbono para interromper o aquecimento global em 1,5°C, estabelecido pelo Acordo de Paris, expiraria em apenas 4 anos.
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Segundo Nobre, a missão é levar a ciência ao centro das negociações e tornar claro o que está acontecendo, para que haja uma redução drástica nas emissões.
O novo documento destaca: “Solicitamos aos chefes de delegação que entreguem um cronograma claro para eliminar os combustíveis fósseis gradualmente”. Para EXAME, o cientista brasileiro foi claro: “Esperamos que os negociadores entendam: esta COP precisa ser a mais importante, para buscar todas as soluções”, ele diz.
Rockström destacou o medo de que os negociadores não entendam o que a ciência recente diz. “Há uma aceleração do aquecimento global em curso, à medida que o planeta perde sua resiliência e capacidade de amortecer os riscos”, ele afirmou. Dados justificam a urgência: em 2025, foram registradas as maiores emissões de gases de efeito estufa de todos os tempos, com um aumento de 1,1% em relação a 2024.
Das emissões globais totais, 70% vêm de combustíveis fósseis. O “Campeão Climático Brasileiro” para a COP30, Dan Ioschpe, reconhece a centralidade da ciência para o sucesso das negociações. “A agenda de ação é baseada na ciência, então temos o privilégio de ter este espaço com alguns dos maiores cientistas do mundo”, ele afirmou para EXAME.
Segundo o executivo, parte de seu esforço é fazer o melhor uso deste pavilhão para implementação. “Este envolvimento ativo e propositivo é o que nos permitirá avançar de forma melhor”, disse Ioschpe, destacando que a agenda de ação fala com a agenda de negociação, mas que é necessário acelerar as soluções existentes, como a energia renovável e a recuperação de áreas degradadas. “Podemos fazer essa transição com base na ciência, tecnologia e influxo financeiro. É um esforço que deve ser coletivo; este é o espírito da causa.”
O alerta é óbvio: “Se o progresso não for baseado na ciência, teremos problemas”. A Amazônia e os recifes de corais no limite. Dois ecossistemas são destacados no documento. Ao longo dos últimos dois anos, a Amazônia experimentou uma das piores secas em sua história – um evento que a ciência atribui às emissões humanas, tornando-o 30 vezes mais provável.
A floresta também registrou o maior número de incêndios em quase duas décadas: mais de 140.000 incêndios, queimando milhões de hectares, liberando grandes quantidades de carbono e afetando seriamente a saúde das populações. “A pressão combinada das emissões de combustíveis fósseis e do desmatamento está empurrando a Amazônia em direção a mudanças irreversíveis”, afirma o material. “Quando a floresta se degrada e grandes áreas deixam de absorver o carbono e se tornam fontes de emissões, todo o planeta sentirá o impacto”.
No oceano, a situação não é menos séria. Os recifes de corais tropicais, lar de um terço de toda a vida marinha, estão perto de atingir um ponto de não retorno com efeitos catastróficos em cascata. O aquecimento e a acidificação dos oceanos, impulsionados pelas emissões, já destruíram entre 30% e 50% dos recifes do planeta.
Nas últimas três anos, mais de 80% deles sofreram branqueamento severo, enfraquecendo as fundações da vida para inúmeras comunidades costeiras que dependem deles para alimentação e subsistência.
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